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O poder do perdão

Perdoar é uma atitude e uma decisão que pode ser das mais difíceis, para milhões de pessoas. Quando alguém pede perdão a outro está dizendo que reconhece o seu erro e a sua culpa, e que, por isso, põe-se na presença de quem foi atingido, por sentimentos, palavras e/ou atos que feriram a sua dignidade, propriedade ou sensibilidade. Pedir perdão é, também, uma forma de humilhar-se. Perdoar, por sua vez, é responder que reconhece a sinceridade no arrependimento daquele que vai ao seu encontro com a disposição de mudar de atitude.


Algo muito estranho aconteceu e vem acontecendo em nossos dias. As pessoas perderam a vergonha e o receio de pedir desculpas. Antigamente, nossos avós sentiam-se constrangidos em colocar-se diante do outro e expor-se, humilhar-se, reconhecer os próprios erros. E, à primeira vista, essa mudança de atitude pode parecer boa. Seria motivo de alegria que as pessoas tivessem se tornado menos orgulhosas e mais abertas ao próximo, mais predispostas a pedir perdão e reconhecer as próprias faltas, falhas e desvios.

Todavia não é bem assim. O problema é que agora as pessoas pronunciam as palavras desculpa e perdão com muita facilidade, mas, muitas vezes, sem pensar no que aquelas palavras implicam, no que significa realmente aquele gesto e aquela atitude. É muito fácil para qualquer pessoa extrovertida dizer: desculpe, ou, como se diz hoje: foi mal aí.... Mas a questão é que essas palavras vem sendo ditas sem reflexão, sem um real sentido de arrependimento, sem a firme e sincera disposição interior para se mudar de atitude – e não voltar a repetir o erro – a partir dali, a partir daquela decisão, assumida naquele momento. O que vem ocorrendo –, desgraçadamente –, é a banalização do gesto sagrado de se pedir perdão.

Quando alguém pede desculpas, com sinceridade, é porque se arrependeu do que fez, porque decidiu que não fará de novo a mesma coisa e reconhece a necessidade de mudança. Um pedido de desculpas sincero é um exercício de humildade; é uma bela e valiosa demonstração de grandeza de alma. É um gesto importante, sério, definitivo. Exatamente por isso é que a verdadeira adesão a Cristo e à sua Igreja chama-se conversão. Converter é mudar radicalmente o rumo, é inverter a direção, é realizar uma mudança de 180 graus no percurso que se estava empreendendo.

O momento em que alguém pede desculpas ao seu próximo é verdadeiramente um momento solene, ainda que não haja pompa ou aparente solenidade. É uma solenidade para as almas, tanto para a que se dobra quanto para a que recebe o pedido. Dizer desculpe por isso ou me perdoe por ter feito aquilo envolve um desejo de mudança e uma disposição honesta para a mudança.

Entretanto, temos visto pedidos fúteis de perdão, seguidos da repetição da mesma falta que motivou o pedido, ás vezes pouco tempo depois. Isso demonstra que o pedido de perdão não foi sincero, não foi verdadeiro e, portanto, não foi válido.

O mesmíssimo se dá na confissão sacramental. Podemos voltar a cair na mesma tentação, sim, mesmo após termos confessado o pecado, mas quando temos a firme decisão de mudar, quando o arrependimento por ter ofendido a Deus é honesto e sincero, então a tendência é que aquele pecado vá se tornando cada vez menos recorrente. Se eu tenho uma tendência para o orgulho, por exemplo, e procuro o confessionário para me livrar daquela culpa específica, se a minha confissão foi mesmo válida, o resultado é que a partir dali eu vou evitar cair novamente no pecado do orgulho ou da soberba (que é um dos pecados capitais). Posso voltar a tropeçar, porque certos pecados são verdadeiros vícios, que por vezes nos dominam e cegam. Mas, se eu for honesto e estiver numa busca autêntica por cumprir a vontade de Deus em minha vida, então eu vou cair menos naquele pecado. Certamente não voltarei a cometer o mesmo pecado no mesmo dia em que o confessei, a não ser que a minha confissão não tenha sido sincera, porque eu não estava verdadeiramente arrependido; e se não estava, então a confissão sequer foi válida. Eu nem mesmo fui perdoado por Deus, e permaneço em pecado, no caso, mortal.

O poder do perdão é algo realmente grande, tremendo, transformador. A própria ciência humana e o estudo da mente debruçou-se sobre este tema, por exemplo, na elaboração da psicanálise, e o comprovou de muitas maneiras. O enfoque pode recair sobre as relações interpessoais e institucionais, ou numa visão meramente psicológica e mesmo biológica, ou filosófica, sociológica e política, mas o poder curativo e benéfico do perdão – para quem pede e para quem concede – é sempre constatado acima de qualquer dúvida.

A sacralidade do perdão, biblicamente revelada, representa uma contribuição muito especial para a compreensão da necessidade de superação das linhas cruzadas e da eliminação das rupturas que se estabeleceram nas relações humanas, por numerosos motivos.

A Confissão válida, que tem como resultado a reconciliação, é a que leva o penitente à mudança de vida. Exige: a contrição (reconhecimento dos pecados); a confissão propriamente dita (a revelação e exposição, perante o confessor, desses mesmo pecados); a satisfação (reparação dos pecados cometidos, não voltando o confessor a repeti-los deliberadamente). Como penitência, o confessor impõe uma pena ao penitente, correspondente, “na medida do possível, à gravidade e à natureza dos pecados cometidos". Que é a penitência? Uma espécie de resultado e prova do sincero arrependimento, que serve também para se purificar/depurar a alma.

Para muitos, o perdão é benéfico por ser uma conquista humana; para os cristãos, além dessa dimensão, está muito clara a exigência que Jesus Cristo colocou na oração do Pai Nosso: “Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.

Não tenha medo de pedir perdão ao seu próximo. Mas que seja um pedido sincero, aberto, livre, despojado de receios, abundante em generosidade e amor-caridade.

E também não tenha medo de olhar para dentro de si, logo depois de pedir o auxílio do Espírito Santo do Deus que é amor, e infinito em misericórdia. Olhe para o mais fundo de si, para os mais escuros e escondidos recônditos de sua mente e de sua alma. Livre-se de todo o entulho, toda porcaria, toda imundície acumulada. Não tenha medo e não guarde nada que possa, depois, atravancar a sua vida. Jogue tudo fora!

Fonte: www.universocatolico.com.br/index.php?/beneficios-do-perdao.html
Acesso 12/o7/17

Um comentário:

  1. O perdão está entre o deixar de lado a ofensa é seguir em frente com o coração purificado de toda má consciência.

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