A
declaração de Isaías, que Deus cria o mal, tem deixado a muitos leitores da
Bíblia desorientados, por entenderem que tal declaração não se coaduna com o
caráter divino. Atentando para alguns princípios exegéticos e certas
peculiaridades da língua hebraica tudo se esclarecerá.
Tanto
os profetas maiores como os menores profetizaram de invasões e calamidades, que
Deus permitiu que acontecessem sobre seu povo devido à obstinação deste. Deus
tolera por muito tempo homens e nações, mas em seu ódio ao pecado, permite que
desastres finalmente se abatam sobre os impenitentes. E, permitindo isto, se
diz que Ele cria o mal.
Tudo
que Deus faz é correto. Satanás é que cria o mal no sentido de originá-lo
diretamente, tendo em vista desviar de Deus as almas sinceras.
Temos
nesta passagem um idiomatismo hebraico, pois, os livros especializados em
estudar a linguagem figurada na Bíblia nos informa que verbos ativos eram
usados pelos hebreus para expressar não a execução de algo, mas a permissão
disso que se diz que o agente faz.
Os
seguintes exemplos são esclarecedores:
Êxodo
4:3 – “Eu, porém, endurecerei o coração de Faraó” (isto é, permitirei ou
tolerarei que seu coração seja endurecido).
Êxodo
5: 22 – “Ó Senhor, por que afligiste este povo?” (toleraste que ele fosse
afligido).
Jeremias
4:10 – “Ah! Senhor Deus! Verdadeiramente enganaste a este povo e a Jerusalém,
dizendo: Tereis paz..” O sentido é este: (Toleraste que este povo fosse
enganado pelos falsos profetas, que diziam: Tereis paz).
Os
exemplos acima confirmam, que em Isa. 45:7 o profeta queria dizer que Deus
permite o mal.
”Crio
o mal.. Deus é o autor da luz e da paz. Ele permite o mal para que os homens e
os anjos possam testificar o resultado do afastamento dos eternos princípios da
justiça. Na Escritura, Deus muitas vezes, é representado como causando aquilo
que Ele não evita”.
SE DEUS É BOM POR QUE
EXISTE O MAL NO MUNDO?
Esta
pergunta, ou outras mais ou menos semelhantes, sempre são apresentadas. Para
uma resposta cabal a esta indagação muitas e muitas páginas seriam precisas.
Deus
poderia haver feito o homem de duas maneiras: livre, ou não livre. Não há aqui meios termos como não os há entre
o ser e o não ser.
Bem,
se Deus houvesse feito o homem sem o direito de liberdade, ou livre arbítrio,
em nada nos diferenciaríamos de um robô, um boneco mecânico em mãos de nosso
dono, nesse caso, Deus.
Não
existiria o saber, nem a cultura, nem o progresso feito pelo próprio homem, não
poderíamos render culto a Deus nem amá-lo, porquanto não teríamos vontade
própria; nada haveria em nós que a Ele nos assemelhasse, pois nossa semelhança
com Deus consiste basicamente em nosso livre arbítrio.
Ora,
como Deus não faz as coisas sem significação, fez o homem com livre arbítrio,
isto é, fê-lo segundo a outra alternativa.
Deu-lhe
a possibilidade de escolher entre o bem e o mal, com a consequente
possibilidade de fazer o bem e de fazer o mal. Deus fez o homem bom, cumulou-o
de todos os dons, pô-lo como senhor de toda a Terra, e deu-lhe inclusive o
precioso dom, a possibilidade de amar.
Claro
está que necessariamente, como reverso da moeda, esta possibilidade de amar
trazia consigo a outra terrível possibilidade – odiar, infelicitar. Mas, se o
homem odiava, não era porque Deus o queria, e sim porque empregava mal esse dom
único e sagrado da liberdade…
Mas
se Deus queria criar um homem, este devia ter a liberdade para amá-lo e
obedecer-lhe, mesmo com risco da possibilidade do mal. Se há maldade no homem e
no mundo, não é porque Deus o haja querido, pois Ele fez o homem bom, e este,
ao empregar mal o dom da liberdade, fez-se mau a si mesmo.
Assim,
pois, nada afeta a bondade de Deus o fato de o homem se haver tornado mau. Pelo
contrário, esse fato mostra até aonde Deus nos amou, visto que nos deu o dom de
poder amá-lo e nos fez semelhantes a Ele no amor, mesmo com risco de que nos
rebelássemos contra o Criador e o ofendêssemos em lugar de bendizê-lo. Pode-se
acaso pensar em mais amor e mais bondade?
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