A
primeira parte da oração, como se sabe, foi tirada das Sagradas Escrituras. Foi
composta, portanto, pelo próprio Deus, tendo saído da boca de São Gabriel, “Ave,
cheia de graça, o Senhor é contigo" (Lucas 1.28) e de Isabel, “Bendita
és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre" (Lucas
1.42). As duas frases compõem um louvor a Maria e, ao mesmo tempo, uma
profissão de fé nos mistérios relacionados à sua vida. Era rezada desde os
primórdios na liturgia bizantina e foi adicionada à liturgia latina por São
Gregório Magno, que a manteve como antífona do ofertório.
“Bendito
é o fruto do teu ventre": Isabel contrapõe Maria a
Eva. Enquanto esta quis tomar para si o fruto da árvore, aquela entrega o fruto
do seu ventre. O seu louvor prossegue: “Como mereço que a mãe do meu Senhor venha
me visitar?" O Papa Bento XVI comenta que “é o Espírito Santo que
abre os olhos de Isabel e que a leva a reconhecer em Maria a verdadeira arca da
aliança, a Mãe de Deus, que vem para visitá-la".
A
segunda parte da oração, bem posterior, é uma súplica dos fiéis, que durante
muito tempo foi rezada na oração litúrgica, pedindo à Santíssima Virgem
proteção na hora da morte. Foi no século XVI que o Papa Pio V definiu o texto
da oração tal como é conhecida hoje, já com o acréscimo dos nomes de Jesus e
Maria.
A
“Ave Maria" está muito ligada à história da ordem dos frades dominicanos.
São Pio V, por exemplo, era dominicano. Ainda, de acordo com a tradição da
Igreja, o Santo Rosário - ou “Saltério Mariano", como era chamado - teria
sido entregue a São Domingos de Gusmão, fundador da ordem dos pregadores.
Em
seu comentário à saudação angélica, o Aquinate recorda que, na antiguidade, a
aparição dos anjos aos homens era um acontecimento de grande importância e os
homens sentiam-se extremamente honrados em poder testemunhar sua veneração aos anjos.
(...)
Mas um anjo se inclinar diante de uma criatura humana, nunca se tinha
ouvido dizer antes que o anjo tivesse saudado à Santíssima Virgem, reverenciando-a
e dizendo: 'Ave'.
Explicando
que, por sua natureza espiritual, familiaridade com Deus e plenitude de graças,
os anjos são superiores aos homens, não convinha ao anjo inclinar-se diante do
homem, até o dia em que apareceu uma criatura humana que sobrepujava os anjos
por sua plenitude de graças, por sua familiaridade com Deus e por sua
dignidade. Esta criatura humana foi a bem-aventurada Virgem Maria. Para
reconhecer esta superioridade, o anjo lhe testemunhou sua veneração por esta
palavra: 'Ave'.
Mas,
ainda que fosse grandiosa, ensina São Luís de Montfort, retomando uma tradição
dos padres, que Jesus “quis humilhá-la e escondê-la durante a vida para
favorecer a sua humildade", a qual “foi tão profunda, que não teve na
Terra atrativo mais poderoso nem mais contínuo que o de se esconder de si mesma
e de toda criatura, para que só Deus a conhecesse".
Se,
todavia, os próprios anjos do Céu a saúdam, quanto mais nós, humanos, não
devemos saudá-la!
Na
liturgia, por exemplo, existe a tradição de inclinar-se diante do santíssimo
nome de Maria. Não se sabe exatamente qual a origem etimológica do nome Maria.
Santo Tomás mesmo dá três significados diferentes ao nome da Mãe de Jesus:
“iluminada interiormente", “soberana" e “estrela do mar". É
certo, porém, que, ao invés do significado do nome honrá-la, foi ela, com a sua
vida de graça e virtudes, que tornou o seu nome honroso.
Quanto
à dificuldade que os protestantes têm com a oração da “Ave Maria", é
importante lembrar que, embora a sua forma tenha evoluído até o século XVI, a
sua essência é apostólica. Os primeiros cristãos já veneravam a Virgem Maria
com a saudação angélica.
Na Basílica da Anunciação, em Nazaré, há um grafite do
século III, na base de uma coluna, com as palavras do anjo: Ave Maria. Ainda
mais cedo, no século II, foi composta a famosa oração Sub tuum praesidium,
na qual os cristãos invocavam o refúgio da “Virgem gloriosa e bendita" e
“santa Mãe de Deus".
Se
é verdade, portanto, que o texto da oração angélica levou tempo para evoluir, a
atitude filial a Maria é muito antiga por parte dos cristãos, mais antiga que o
próprio Cânon do Novo Testamento. Não deixa de ser incoerente a atitude de
quem, reconhecendo inspirados os 27 livros escolhidos pelos bispos da Igreja
Católica, rejeita, no entanto, a devoção à Virgem Maria, que é muito mais
primitiva que a própria Bíblia.
Fonte:
padrepauloricardo.org
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