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ESPIRITISMO

Doutrina espírita ou Kardecismo é a doutrina codificada pelo pedagogo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, usando o pseudônimo Allan Kardec. É uma doutrina que alia ciência, filosofia e religião, buscando a melhor compreensão não apenas do universo tangível (científico), mas também do universo a esse transcendente (religião). A doutrina é baseada em cinco obras básicas (que juntas formam o pentateuco), escritas por Kardec, através da observação de fenômenos que o mesmo atribuía a manifestações de inteligências incorpóreas ou imateriais, denominadas espíritos. A codificação espírita está presente em: O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese; somam-se à codificação as chamadas obras "complementares", como O Que é o Espiritismo?, Revista Espírita e Obras Póstumas.

O termo Espiritismo foi cunhado por Kardec em 1857 para definir especificamente o corpo de ideias por ele reunidas e codificadas em "O Livro dos Espíritos". Na publicação do livro
O Que é o Espiritismo, o codificador a define como uma doutrina que trata da "natureza, origem e destino dos espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal e as consequências morais que dela emanam", e fundamenta-se nas manifestações e nos ensinamentos dos espíritos.

Etimologia e uso

O termo espiritismo (do francês antigo "spiritisme", onde "spirit": espírito + "isme": doutrina) surgiu como um neologismo, mais precisamente uma palavra-valise, criada pelo pedagogo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail (conhecido por Allan Kardec) para nomear especificamente o corpo de ideias por ele sistematizadas em "O Livro dos Espíritos" (1857).

O termo "kardecista" é repudiado por parte dos adeptos da doutrina que reservam a palavra "espiritismo" apenas para a doutrina tal qual codificada por Kardec, afirmando não haver diferentes vertentes dentro do espiritismo, e denominam correntes diversas de "espiritualistas". Estes adeptos entendem que o espiritismo, como corpo doutrinário, é um só, o que tornaria redundante o uso do termo "espiritismo kardecista". Assim, ao seguirem os ensinamentos codificados por Allan Kardec nas obras básicas (ainda que com uma tolerância maior ou menor a conceitos que não são estritamente doutrinários, como a apometria), denominam-se simplesmente "espíritas", sem o complemento "kardecista". A própria obra desaprova o emprego de outras expressões como "kardecista", definindo que os ensinamentos codificados, em sua essência, não se ligam à figura única de um homem, como ocorre com o cristianismo ou o budismo, mas a uma coletividade de espíritos que eles acreditam que se manifestaram através de diversos médiuns naquele momento histórico, e que se esperava que continuassem a comunicar, fazendo com que aquele próprio corpo doutrinário se mantivesse em constante processo evolutivo, o que não se teria verificado, já que as obras básicas teriam permanecido inalteradas desde então.

História

Durante o século XIX houve uma grande onda de manifestações mediúnicas nos Estados Unidos e na Europa. Estas manifestações consistiam principalmente de ruídos estranhos, pancadas em móveis e objetos que se moviam ou flutuavam sem nenhuma causa aparente. No final dos anos 1840 destacou-se o suposto caso das Irmãs Fox, nos EUA.

Em 1855, o professor Denizard Rivail, que depois adotou o pseudônimo de Allan Kardec, pretendia investigar o fenômeno que muitas pessoas afirmavam ter experimentado na época, das mesas girantes ou dança das mesas, em que mesas e objetos em geral pareciam animar-se com uma estranha vitalidade. Apesar de iniciais afirmações bastante duvidosas em relação ao fenômeno "Eu crerei quando vir e quando conseguirem provar-me que uma mesa dispõe de cérebro e nervos, e que pode se tornar sonâmbula; até que isso se dê, deem-me a permissão de não enxergar nisso mais que um conto para dormir em pé", assegura-se que após dois anos de pesquisas, não tinha constatado um motivo para englobar todos os acontecimentos dessa ordem no âmbito das falácias e/ou charlatanices. Pessoalmente convencido não só da realidade do fenômeno, que considerou essencialmente real apesar das mistificações existentes, mas também acreditando que eles eram realmente causados por influência de espíritos, Rivail, passou a promover novos métodos de estudo para a identificação deste e outros fenômenos do tipo mas sagrou-se principalmente a divulgar suas concepções sobre consequências ético-morais a eles relacionadas. Como chegou a afirmar, "O verdadeiro Espírita não é aquele que crê nas manifestações, mas aquele que aproveita o ensinamento dado pelos Espíritos. Quanto à sua formação, foi discípulo de Pestalozzi (discípulo por sua vez de Rousseau) e membro de diversas sociedades acadêmicas. O seu principal intuito como espírita era dar algum suporte à espiritualidade humana numa época em que a ciência avançava a passos largos e as religiões perdiam cada vez mais adeptos. Kardec julgava ter encontrado um novo modo de pensar o real, que uniria, de forma ponderada, a ascendente ciência e a decadente religião. Assim, Kardec defendia que fazia uso do empirismo científico para investigar os fenômenos, da racionalidade filosófica para dialogar com o que presumiu serem espíritos e analisar suas proposições, e buscou extrair desses diálogos consequências ético-morais úteis para o ser humano. Surgia aí, mais precisamente em 18 de abril de 1857, a doutrina espírita, sistematizada na primeira edição de O Livro dos Espíritos.

Primeiras observações

Segundo os seguidores da Doutrina Espírita, os fenômenos mediúnicos seriam universais e teriam sempre existido, inclusive com fartos relatos na Bíblia. Entre outros, os espíritas citam como exemplos mediúnicos bíblicos a proibição de Moisés à prática da "consulta aos mortos", que seria uma evidência da crença judaica nessa possibilidade, já que não se interdita algo irrealizável; a consulta de Saul, primeiro rei do antigo reino de Israel, à Médium de En-Dor, em 1 Samuel 28. A médium vê e ouve o Espírito desencarnado de Samuel, o último dos juízes de Israel e o primeiro dos profetas registrados na história do seu povo; a comunicação de Jesus com Moisés e Elias no Monte Tabor, citada no Evangelho de Mateus 17:1-9, entre outros.

Na filosofia antiga também há exemplos: nos Diálogos de Platão, este fala sobre o daimon ou gênio que acompanharia Sócrates.

Muitos espíritas adotam a data de 31 de março de 1848 (início dos acontecimentos mediúnicos na residência das Irmãs Fox em Hydesville, EUA) como o marco inicial das modernas manifestações mediúnicas, alegadamente mais ostensivas e frequentes do que jamais ocorrera, o que levou muitos pesquisadores a se debruçarem sobre tais fenômenos. No entanto, para Sir Arthur Conan Doyle e vários outros espíritas, o marco inicial das modernas manifestações mediúnicas foi na verdade Emanuel Swedenborg, polímata sueco do século XVII. Segundo Conan Doyle, a espiritualidade de Swedenborg marcou o início da era em que fenômeno mediúnico deixou de ter caráter esporádico, para transformar-se numa espécie de "invasão espiritual organizada" na Terra.

Princípios

Nascido no século XIX, no dia 18 de Abril de 1857, com a publicação de O Livro dos Espíritos, o Espiritismo se estruturou a partir de pretensos diálogos estabelecidos por espíritos desencarnados que, se manifestando por meio de médiuns, discorreram sobre temas religiosos sob a ótica da moral cristã, ou seja, tendo por princípio o amor ao próximo. Desta forma foi estabelecido o preceito primário do espiritismo, de que só é possível buscar o aprimoramento espiritual através da caridade aos semelhantes (Lema: Fora da caridade não há salvação), além de trazer a luz novas perspectivas sobre diversos temas de grande relevância filosófica e teológica.

O Espiritismo pretende chegar à compreensão da realidade mediante a integração entre as três formas clássicas de conhecimento, que seriam a ciência, a filosofia e a religião. A doutrina espírita se propõe, assim, a estabelecer um diálogo entre as três, visando à obtenção de uma forma original que, a um só tempo, fosse mais abrangente e mais profunda, para desta forma melhor compreender a realidade.6 46 Kardec sintetiza o conceito com a célebre frase: “Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão em todas as épocas da humanidade”.

Fundamentos principais

A doutrina espírita, de modo geral, fundamenta-se nos seguintes pontos (princípios):

·         Existência e unicidade de Deus, rejeitando o dogma da Santíssima Trindade (Conforme está na primeira questão de "O Livro dos Espíritos" - "Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas". Também é algo e não alguém);

·         O universo é criação de Deus, incluindo todos os seres racionais e irracionais, animados e inanimados, materiais e imateriais, que por sua vez, todos estão destinados a lei de evolução;

·         Existência e imortalidade do espírito, compreendido como individualidade inteligente da Criação Divina que está ligado ao corpo físico através de um conectivo "semimaterial" denominado de perispírito;

·         Volta do espírito à matéria (reencarnação), tantas vezes quanto necessário, como o mecanismo natural para se alcançar o aperfeiçoamento material e moral. No entanto, para a doutrina, a perfeição é sempre relativa porque totalmente perfeito só Deus o é. Os espíritas rejeitam a crença na metempsicose;

·         Conceito de "criação igualitária" de todos os espíritos, "simples e ignorantes" em sua origem, e destinados invariavelmente à perfeição, com aptidões idênticas para o bem ou para o mal, dado o livre-arbítrio;

·         Possibilidade de comunicação entre os espíritos encarnados ("vivos") e os espíritos desencarnados ("mortos"), por meio da mediunidade (também denominada comunicabilidade dos espíritos). Essa comunicação é realizada com o auxílio de pessoas com determinadas capacidades - os médiuns como, por exemplo, na chamada "escrita automática" (psicografia);

·         Lei de causa e efeito, compreendida como mecanismo de retribuição ética universal a todos os espíritos, segundo a qual nossa condição atual é resultado de nossos atos passados e nossos pensamentos, palavras e atos constroem diariamente nosso futuro (Quem semeia o bem, colhe o bem. Quem semeia o mal, colhe o mal);

·         Pluralidade dos mundos habitados materiais e espirituais: a Terra não é o único planeta com vida inteligente no universo, bem como os planetas possuem mundos espirituais habitados (por exemplo, Umbral com suas colônias espirituais e os planos espirituais superiores);

·         Jesus, criado por Deus, é o guia e modelo para toda a humanidade. Segundo o espiritismo, a moral cristã contida nos evangelhos canônicos é o maior roteiro ético-moral de que o homem possui, e a sua prática é a solução para todos os problemas humanos e o objetivo a ser atingido pela humanidade.

·         Fora da caridade não há salvação. Para o espiritismo a única maneira de o homem evoluir é através da prática da caridade, seja ela material (ajuda financeira ou algo que diga respeito ao mundo concreto) ou espiritual (ouvir alguém que está com um problema, dar conselhos, ser compreensivo, perdoar incondicionalmente, entre outros).

Além disso, podem-se citar como características secundárias:

·         A noção de continuidade da responsabilidade individual por toda a existência do espírito;

·         Progressividade do princípio espiritual dentro do processo evolutivo em todos os níveis da natureza;

·         Ausência total de hierarquia sacerdotal;

·         Abnegação na prática do bem, ou seja, não se deve cobrar pela prática da caridade, nem o fazer visando a segundas intenções. Toda a prática espírita é gratuita, como orienta o princípio moral do evangelho: “Dai de graça o que de graça recebestes”;

·         Uso de terminologia e conceitos próprios, como, por exemplo, perispírito, mediunidade, centro espírita;

·         Total ausência de exorcismos, fórmulas, palavras sacramentais, horóscopos, cartomancia, pirâmides, cristais, amuletos, talismãs, culto ou oferenda a imagens ou altares, danças, procissões ou atos semelhantes, paramentos, andores, bebidas alcoólicas ou alucinógenas, incenso e fumo, práticas exteriores ou quaisquer sinais materiais;

·         Ausência de rituais institucionalizados, a exemplo de batismo, culto ou cerimônia para oficializar casamento;

·         Incentivo ao respeito para com todas as religiões e opiniões.

·         Ter uma fé raciocinada, rejeitando a fé cega que não utiliza o raciocínio lógico em suas crenças.

Relação entre fenômenos espíritas e a ciência

Método Cientifico e "Ciência Espírita"

A investigação científica dos fatos e causas dos pretensos fenômenos mediúnicos é objeto de intenso estudo, principalmente pela Parapsicologia.Investigações científicas sobre mediunidade e outros "fenômenos espirituais" defendidos pelo Espiritismo ocorreram/ocorrem inclusive em âmbito universitário, mas apesar de muitos cientistas, inclusive renomados, já terem afirmado que evidenciaram a existência de fenômenos do tipo em suas pesquisas, através do método científico a existência de espíritos não encontra-se estabelecida, tampouco provada.

Existe certamente uma diversidade de alegadas práticas que vêm suscitando curiosidade dos pesquisadores de "fenômenos espirituais" em geral - a exemplo a psicografia, desdobramento espiritual, experiência de quase morte, fenômeno da voz eletrônica, retrocognição, premonição, incorporação, psicofonia, psicometria, xenoglossia, obsessão espiritual, medicina espiritual, clarividência, clariaudiência, poltergeist, psicopictografia, fotografia espírita, filmagem espírita, ectoplasmia, telepatia, psicoquinesia, levitação, radiestesia, etc.

Allan Kardec buscou certamente incorporar o método científico na metodologia inerente ao fundar o Espiritismo, contudo não restringiu os pilares da Doutrina à ciência, definindo-a também sobre pilares da religião e filosofia; e é por não tê-lo seguido de forma única que muitos céticos classificam o Espiritismo como uma pseudociência ou superstição. Mesmo não considerados ciência em sentido estrito, justamente por serem sustentados também por pilares filosófico-religiosos, os fenômenos espíritas foram e ainda são, contudo, objetos de estudos para um número bem expressivo de pesquisadores ao redor do mundo; e dentre os que estudaram/estudam "fenômenos espirituais" através da metodologia inerente ao Espiritismo, muitos alegaram/alegam inclusive dispor de fortes evidências para corroborar de forma bem próxima à científica estrita vários dos princípios espíritas.

Medicina

Em termos de Medicina, indivíduos com sintomas como audição ou visão de espíritos já foram apontados como sendo portadores de transtornos mentais mas há muito, com as atualizações da classificação internacional de doenças, a Medicina reconhece que esses sintomas não possuem necessariamente causas patológicas. É importante também lembrar que a Organização Mundial de Saúde define "saúde" como o "estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas como a ausência de doença ou enfermidade", definição que não sofreu emendas desde a fundação da Organização, em 1948.

A classificação internacional de doenças (CID) em sua décima atualização, a CID-10, prevê, em seu item F.44.3 os chamados "Estados de transe e de possessão", definidos como: "Transtornos caracterizados por uma perda transitória da consciência de sua própria identidade, associada a uma conservação perfeita da consciência do meio ambiente."

Contudo, explicitamente descreve em alínea seguinte:

"Devem aqui ser incluídos somente os estados de transe involuntários e não desejados, excluídos aqueles de situações admitidas no contexto cultural ou religioso do sujeito.

A expressão "possessão" figura no referido item da CID com acepção que remete aos estados de agitação demasiada, de agressividade ou mesmo de fúria; e mediante tal acepção a leitura do item associado em íntegra implica, nitidamente, o não reconhecimento da tal causa "espiritual". Argumento em favor da asserção inicial deriva também do fato de que o reconhecimento de tal causa pela Organização Mundial de Saúde implicaria a inserção compulsória dessa na CID bem como a necessidade de tratamento ou acompanhamento específicos visto serem tais estados de "possessão" prontamente reconhecidos, antes de mais nada pelos próprios espiritualistas, como situações muitas vezes prejudiciais à saúde do "possuído" e que requerem por tal tratamento ou mesmo acompanhamento "espiritual" imediato, tratamentos esses certamente fornecidos - segundo suas crenças - pelos referidos grupos ou autoridades religiosas capacitadas junto aos seus templos ou ambientes de reuniões; contudo não definidos, estabelecidos, tampouco cogitados pela Organização Mundial de Saúde.

Relação entre Espiritismo e posições religiosas

No preâmbulo do livro "O Que É o Espiritismo?", Allan Kardec afirma que o Espiritismo é, ao mesmo tempo uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que emanam essas mesmas relações.

A posição oficial da Igreja Católica proíbe terminantemente aos seus fiéis assistir a sessões mediúnicas realizadas ou não com auxílio de médiuns espíritas - mesmo que estes pareçam ser honestos ou piedosos - quer interrogando os espíritos e ouvindo suas respostas, quer assistindo por mera curiosidade. Posições similares têm as religiões protestantes.

A Doutrina Espírita, por sua vez, afirma respeitar todas as religiões e doutrinas, e valorizar todos os esforços para a prática do bem e diz trabalhar pela confraternização e pela paz entre todos os povos e entre todos os homens, embora rejeite firmemente, reitere-se, dogmas fundamentais das outras religiões monoteístas; no caso particular do cristianismo, destacam-se o da divindade de Cristo, o da Santíssima Trindade, o da salvação/justificação pela graça (mais que pelas obras/esforços individuais), e o da existência e importância da Igreja como entidade espiritual, não apenas humana.

Reencarnação

Para boa parte das religiões cristãs, a reencarnação está em desconformidade aos ensinamentos da Bíblia, a ressurreição, ao conceito de salvação e do eterno suplício. Exemplificam a passagem do apostolo Paulo que determina o estado de toda a humanidade após a morte. "E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo..." (Hebreus 9:27). Concluindo que o "juízo" refere-se a "condição final" em que todos os humanos serão julgados, vivos e mortos, estes últimos ressuscitarão.

Para a doutrina espírita, entretanto, a reencarnação foi confundida pelo nome de ressurreição, que significa literalmente "voltar à vida", resultando as diversas causas de anfibologia. A crença de que o homem poderia reviver é antiga e fazia parte dos dogmas judeus, porém não era determinado de que maneira o fato iria ocorrer, pois apenas tinham vagas e incompletas noções acerca da alma e de sua ligação com o corpo. Segundo alguns adeptos do espiritismo, o apostolo Paulo na citação anterior, desvenda a duvida referente à ressurreição e desfaz a crença da volta do espírito no corpo que já está morto para morrer segunda vez no mesmo, sobretudo quando os elementos da matéria orgânica já se acham dispersos e absorvidos pelo tempo, pois todos os homens morrem apenas uma vez a cada existência corpórea. Afirmam ainda que o "juízo" refere-se ao estado individual (não coletivo) que sucede a morte do corpo (erraticidade). Embora não resolva profundamente o problema da ambiguidade diversas passagens bíblicas enfatizam a reencarnação, segundo o espiritismo, em Jó 14:10-14, Marcos 6:14-16; 9:11-13, e João 3:1-12.

Mediunidade

As religiões de matriz judaico-cristã entendem que, com a Lei dada a Moisés no Antigo Testamento, Deus teria interditado à antiga Israel as comunicações com o mundo dos espíritos e o uso de poderes "sobrenaturais" por eles concedidos. "… não haverá no meio de ti ninguém que faça passar pelo fogo seu filho ou sua filha, que interrogue os oráculos, pratique adivinhação, magia, encantamentos, enfeitiçamentos, recorra à adivinhação ou consulte os mortos (necromancia)" (Deuteronômio 18:10-14). Afirmam ainda que essa proibição teria sido confirmada no Novo Testamento, pelas referências contidas nos Evangelhos e no livro de Atos dos Apóstolos aos "espíritos impuros". A citação do apóstolo Paulo em Gálatas 5:20, afirma que quem pratica "feitiçaria" (ou bruxaria, pois o termo grego usado é farmakía) não herdará o Reino de Deus". Na Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, o termo é vertido por "espiritismo", em nítida fraude na tradução, já que feitiçaria não tem nenhuma relação com espiritismo e a palavra farmakía não se refere, por óbvias razões cronológicas, à doutrina espírita. É comum encontrar referências ao uso do termo Espiritismo para denominar outras doutrinas, cultos ou práticas, por má fé ou ignorância, que não sejam a doutrina codificada por Allan Kardec.

Já para a doutrina espírita, a Bíblia não condena a prática mediúnica em si, pois esta seria fundamentada em um fenômeno natural. A condenação bíblica seria, na verdade, a mesma do movimento espírita: condena-se o uso dos recursos mediúnicos para finalidades frívolas, fraudulentas ou com objetivos de ganhos materiais ou econômicos do médium, já que a mediunidade deve ser gratuita, com o único objetivo de exercer a caridade. Segundo o espiritismo, diversas passagens bíblicas exemplificariam a fenomenologia mediúnica, a exemplo de 1 Samuel 9:9, 2 Crônicas 16:7, e Mateus 17:1-8.


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