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OS LIVROS DE CRÔNICAS

Na Bíblia em hebraico, o livro de Crônicas é chamado dibre hay-yasmim, “as palavras (acontecimentos) dos dias”, querendo dizer “os anais” (cf. 1Crônicas 27.24). Outros anais (agora perdidos) são mencionados em Reis (por exemplo, 1 Reis 14.19,29); mas eles não podem ser os livros de 1 e 2 Crônicas da atualidade, que foram escritos um século depois de 1 e 2 Reis. Jerônimo (400 d.C.), foi o primeiro a intitular esses livros como “Crônicas”. Escritas como um único livro, foram divididas em dois na Septuaginta. Na Bíblia em hebraico, Crônicas conclui o cânone do Antigo Testamento. Portanto, o Senhor Jesus Cristo (Lucas 11.51) se referiu a todos os mártires desde Abel, no primeiro livro, até Zacarias, no último.


O Cronista usou de liberdade considerável na seleção, organização e modificação da vasta
quantidade de material em que se baseou para compor a história. Essa condição levou muitos estudiosos a depreciar a integridade e confiabilidade histórica do registro do Cronista. Na verdade, a precisão do livro de Crônicas foi questionada mais que a de qualquer outro livro do Antigo Testamento, excetuando-se Gênesis.

Acusações específicas feitas contra a validade da história do Cronista incluem a parcialidade demonstrada na omissão de material de Reis relacionado ao Reino do Norte, a omissão dos pecados de Davi e da apostasia de Salomão e a ênfase nas características favoráveis dos reis dos hebreus. A tendência em modificar o material dos livros de Samuel e Reis em termos de moralidade e teologia, o acréscimo de material histórico não encontrado em Samuel ou Reis (2 Crônicas 33.18-20) e a tendência de aumentar os números oferecidos nos relatos paralelos de Samuel e Reis (2 Samuel 23.8 e 1 Crônicas 11.11), são motivos para tornar o livro não confiável.

Os estudiosos que defendem a confiabilidade dos livros de Crônicas como documento histórico respondem a essas alegações com diversos argumentos. Por exemplo, a omissão de material de Samuel e Reis não deve ser considerada fraude. O autor simplesmente pressupôs o conhecimento da história hebraica por parte do leitor. Isso permitiu que o compilador selecionasse cuidadosa e deliberadamente apenas os trechos que influenciaram diretamente a vida religiosa da comunidade israelita ou promoveram a teologia da esperança que Crônicas tinha o propósito de transmitir.

Da mesma forma, a postura cética relativa à precisão histórica dos “acréscimos” do Cronista na história dos reis hebreus é injustificada, dado seu amplo recurso e outras fontes além das narrativas de Samuel e Reis.

TEMAS
A história de Israel
Recontando a história de Israel nas genealogias e as histórias dos reis, o escritor estabeleceu o verdadeiro fundamento espiritual para a nação. Deus manteve suas promessas, e nós somos lembrados acerca delas no registro histórico de seu povo, líderes, profetas, sacerdotes e reis.

O povo de Deus
Listando os nomes das pessoas do passado de Israel, Deus estabeleceu a verdadeira herança de seu povo. Eram todos uma família em Adão, uma nação em Abraão, um sacerdócio sob Levi, e um reino sob Davi. A unidade nacional e espiritual do povo foi importante para a reconstrução da nação.

O rei Davi
A história de Davi e seu relacionamento com Deus mostram que ele foi um líder designado por Deus. A devoção de Davi a Deus, à lei, ao templo, à verdadeira adoração, ao povo e à justiça estabelece o padrão segundo o qual um rei escolhido por Deus deve andar.

A verdadeira adoração
Davi trouxe a arca da aliança para o tabernáculo em Jerusalém a fim de restabelecer o povo a verdadeira adoração. Deus forneceu os planos para a construção do templo, e Davi organizou os sacerdotes  para fazer com que a adoração se tornasse uma atividade central para todo o Israel.

Os sacerdotes
Deus ordenou que os sacerdotes e os levitas guiassem o povo à adoração fiel, de acordo com a sua lei. Ao conduzirem o povo à adoração segundo o plano de Deus, os sacerdotes e os levitas eram uma importante proteção para a fé de Israel.

Templo
O templo era o símbolo da presença de Deus e o lugar escolhido para oração e adoração. Construído por Salomão de acordo com a orientação de Deus a Davi, o templo representava o centro espiritual da nação.

Oração
Após a morte de Salomão, o reino de Israel foi dividido. Quando um rei levava os israelitas à idolatria, toda a nação sofria. Quando se unia com o povo para buscar a Deus, abandonar seus pecados e obter livramento de seus inimigos, Deus ouvia suas orações e os libertava.

PROPÓSITO
Com relação ao seu propósito e conteúdo, o livro de Crônicas abrange os seguintes temas principais:
  • Recordação do passado para a esperança no presente
  • A centralidade na adoração no templo de Jerusalém
  • Os reinados de Davi e Salomão como ideais da aliança
  • Autenticar a liderança dos sacerdotes e levitas
O objetivo do cronista foi mostrar que os reinados de Davi e Salomão privilegiaram a adoração correta de Deus, e isso impulsionou a monarquia no período que se manteve unida. Portanto, se a comunidade judaica pós-exílica seguisse o exemplo da monarquia unida da adoração centralizada no templo, a restauração prevista pelos profetas se concretizaria.


PANORAMA
A mensagem teológica de Crônicas pode ser resumida de diversas maneiras, porém algumas preocupações são proeminentes. São elas: o povo de Deus, o rei e o templo e também as bênçãos e a condenação divina.

Primeiro, o povo de Deus. Do começo ao fim de sua história, o cronista identifica o povo de Deus, que deve ser considerado como herdeiro das promessas segundo a aliança com Deus. A proeminência desse tema aparece em seu uso frequente da expressão “todo o Israel” (1 Crônicas 11.1; 2 Crônicas 10.1; 29.24). Por outro lado, o autor considerava aqueles que tinham sido libertados do exílio babilônico como o povo de Deus. Os representantes das tribos de Judá, Benjamim, Efraim e Manassés que haviam retornado à terra eram o povo escolhido (1 Crônicas 9.3). Por outro lado o autor considerava a restauração de Israel incompleta enquanto qualquer das tribos ainda permanecesse fora da terra, separada do reino davídico e do templo de Jerusalém. Em vista disso, o cronista toma o cuidado de incluir as tribos do Norte como as do Sul em suas genealogias (2.3 – 9.1), ao apresentar um quadro da monarquia unida sob Davi e Salomão (11.1) e ao descrever a reunificação dos reinos do Norte e Sul nos dias de Ezequias.

Segundo, o rei e o templo. Crônicas apresenta o povo de Deus organizado em torno de duas instituições centrais, a saber, o trono davídico e o templo em Jerusalém. As genealogias reservam atenção especial à linhagem de Davi (1 Crônicas 2.10-17) e organização dos sacerdotes e levitas (1 Crônicas 6). A linhagem de Davi havia sido escolhida por Deus como dinastia perpétua sobre a nação e o restabelecimento do trono de Davi fora uma demonstração de amor e benção divina para Israel. O historiador também focaliza o templo como o lugar onde Deus habita (2 Crônicas 7.12, 16; 33.7).

A terceira preocupação é com respeito à benção e condenação. O autor mostra aos seus leitores como receber as bênçãos de Deus em seus dias. Ele enfatiza a estreita conexão entre a fidelidade e a benção, por um lado, e a infidelidade e a condenação por outro (1 Crônicas 28.9; 2 Crônicas 6.14; 7.2-22; 15.2). O rei e o templo não poderiam assegurar as bênçãos de Deus para Israel, teria de haver obediência a lei mosaica e a instrução profética sacerdotal.

AUTOR
A tradição judaica considera Esdras como o autor dos livros das Crônicas. Pelo menos dois fatores tornam possível essa identificação:
1-    O livro foi escrito depois do exílio babilônico dos judeus, próximo à época do ministério de Esdras.
2-    Muitas passagens em Crônicas compartilham das preocupações sacerdotais de Esdras.

Outras considerações lançam dúvidas sobre a teoria tradicional da autoria de Esdras. A data de composição de Crônicas não pode ser limitada aos anos da vida de Esdras; o enfoque característico de Crônicas sobre a monarquia não aparece no ensino de Esdras; e a aflição de Esdras com relação a apostasia associada aos casamentos mistos não é um tema proeminente em Crônicas. Em outras palavras, as evidências históricas e escriturísticas não apontam decisivamente para Esdras. O autor anônimo é conhecido como “o Cronista”.

DATA
Os versos finais de 2 Crônicas indicam que o livro foi escrito após a libertação dos exilados da Babilônia em 538 a.C. A ausência de influência helenísticas sugere que a história foi composta antes do período alexandrino (antes de 331 a.C.). As opiniões variam quanto a data precisa de composição do livro.

DAVI E SALOMÃO
A maior parte da história de Crônicas é dedicada aos reinados de Davi (1 Crônicas 11 – 29) e de Salomão (2 Crônicas 1 – 9).

O Cronista idealizou Davi e Salomão. É omitida qualquer coisa nas suas fontes documentárias que possam manchar o quadro que está pintando deles. Não faz nenhuma referência ao reinado de sete anos  de Davi em Hebrom, as guerras entre a casa de Saul e Davi, as negociações com Abner, aos problemas com Mical, esposa de Davi, filha de Saul, ou os assassinatos de Abner e Is-Bosete (2 Samuel 1 – 4). O Cronista apresenta Davi sendo ungido imediatamente como rei sobre todo Israel depois da morte de Saul (cap. 11) e desfrutando o apoio total do povo. Dificuldades subsequentes na vida de Davi também não são narradas. Não há nenhuma alusão aos pecados de Davi com Bate-Seba, ao crime e a morte de Amom, ao pecado de Absalão e ao seu complô contra o pai, à fuga de Davi de Jerusalém, às rebeliões de Seba e de Simei e a outros acontecimentos que porventura diminuíssem a glória do reinado de Davi (2 Samuel 11 – 20).

O Cronista lida com Salomão de modo semelhante. Salomão é especificamente nomeado num oráculo divino como sucessor de Davi (1 Crônicas 22.7-10; 28.6). Sua ascensão ao trono é anunciada publicamente por Davi e é saudada com o apoio unânime de todo o Israel (caps. 28, 29). Não há menção de Davi confinado na cama que precisa, no último momento, desfazer a tentativa de golpe de Adonias, a fim de garantir o trono a Salomão. Nem sequer qualquer alusão ao apoio que o comandante Joabe e o sumo sacerdote Abiatar deram a investida de Adonias (1 Reis 1). É omitida, também a execução por Salomão dos inimigos de Davi (1Reis 2). A ascensão de Salomão ao trono é isenta de qualquer concorrente e de qualquer outro acontecimento que deponha contra a ocasião. O relato de seu reinado em Crônicas é dedicado quase que inteiramente à construção do templo, e não é incluída nenhuma referencia às suas falhas ou à sua idolatria, suas mulheres estrangeiras, nem as rebeliões do povo contra o seu governo. Até mesmo a culpa pela divisão do reino após sua morte é retirada de Salomão e atribuída às intrigas de Jeroboão.

O Davi e Salomão do Cronista, portanto, devem ser vistos, não somente como o Davi e o Salomão da história, mas também como a tipificação do rei messiânico, segundo as expectativas do Cronista.

O REINO DIVIDIDO

O registro da história de Israel desde Roboão até Acaz concentra-se nos acontecimentos do reino do Sul, Judá. Embora o livro de Reis seja a fonte da maior parte da informação, Crônicas omite trechos extensos da matéria relativa ao reino do Norte, Israel. Crônicas concentra a sua atenção em Judá e sua capital, Jerusalém, a sede do reino davídico e do templo de Deus.

Os reis do período em foco são avaliados pelo ideal da monarquia unida. O rei deve ser fiel à lei de Moisés, deve apoiar a ordem do templo estabelecido por Davi e Salomão, e também deve dar atenção a instrução profética e sacerdotal. Alguns reis são avaliados de forma negativa (Jeorão; Acazias; Acaz), outros positivamente (Abias; Jotão). Na sua maior parte os registros são mistos (Roboão; Asa; Josafá; Joás; Amazias e Uzias).
Deus abençoava seu povo quando este era fiel e o castigava quando se afastava dele. Vitória, segurança e prosperidade vinham àqueles que buscavam ao Senhor. Derrota, inquietude e enfermidade vinham sobre aqueles que se esqueciam dele.

O REINO REUNIFICADO

Começando com Ezequias, Israel entrou em uma nova fase de sua história. A exemplo de Davi e Salomão, Ezequias conseguiu unir os fiéis de Israel e Judá ao redor do trono davídico através do culto ao Senhor e da celebração no templo. Esse povo reunificado experimentou períodos de fracassos: a apostasia de Manassés 2 Crônicas 33.1-10), o reinado de Amom (2 Crônicas 33.21024) e os reis de Judá imediatamente anteriores ao exílio babilônico (2 Crônicas 36.2-14). Mas Deus graciosamente, renovou o seu povo após cada fracasso; a restauração de Manassés, as reformas de Josias e o retorno do exílio na Babilônia.

ESBOÇO

A. AS GENEALOGIAS DE ISRAEL (1 Crônicas 1.1 – 9.44)
  1. A linhagem da nação
  2. As tribos de Israel
  3. Os que retornaram do exílio da Babilônia

A longa lista de nomes que se segue apresenta uma história da obra de Deus no mundo, desde Adão até Zorobabel. Alguns destes nomes lembram-nos histórias de grande fé e outras de trágicos fracassos. Acerca da maioria das pessoas citadas, porém, nada sabemos. Mas os que morreram desconhecidos para nós são conhecidos por Deus. E Deus também se lembrará de nós quando morrermos.

B. O REINADO DE DAVI (1 Crônicas 10.1 – 29.30)
  1. Davi torna-se rei sobre todo o Israel
  2. Davi traz a arca para Jerusalém
  3. As proezas militares de Davi
  4. A preparação de Davi para a construção do templo

Davi amava ao Senhor e quis construir um templo para substituir o tabernáculo, porém Deus lhe negou este pedido. A maior contribuição de Davi para o templo não seria a construção, mas sua preparação. Podemos não ver os resultados de nosso trabalho para Deus em vida, mas o exemplo de Davi ajuda-nos a entender que servimos a Deus para que Ele veja os resultados, e não nós.

C. O REINADO DE SALOMÃO (2 Crônicas 1.1 – 9.31)
  1. Salomão pede sabedoria
  2. Salomão constrói o templo
  3. Salomão consagra a Deus o templo
  4. A sabedoria e as riquezas de Salomão

O governo de Salomão representou muitas conquistas em termos políticos, econômicos e geográficos para Israel, porém o mais importante é que ele foi o homem que Deus usou para conquistar o glorioso templo em Jerusalém. Esse prédio era o centro religioso da nação e simbolizava a unidade de todas as tribos, a presença de Deus entre eles e a mais alta chamada de Israel.

D. O REINO DE JUDÁ (2 Crônicas 10.1 – 36.23)
  1. Revolta das tribos do Norte
  2. História de apostasia e reforma em Judá
  3. Judá é exilada na Babilônia

No decorrer do reinado de vinte governantes, Judá oscilava entre a obediência a Deus e a apostasia. A resposta do rei que estava em exercício no momento às leis de Deus, determinava o grau de espiritualidade da nação e se Deus aplicaria ou não castigo sobre seu povo.


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