Francisco
Cândido Xavier, mais conhecido
como Chico Xavier (Pedro
Leopoldo (MG), 2 de abril de 1910 — Uberaba (MG), 30
de junho de 2002), foi um médium, filantropo e um dos
mais importantes expoentes do Espiritismo.
Seu nome de batismo, Francisco
de Paula Cândido, em homenagem ao santo do dia de seu nascimento, foi
substituído pelo nome paterno de Francisco Cândido Xavier logo que
psicografou os primeiros livros, mudança oficializada em abril de 1966,
quando chegou da sua segunda viagem aos Estados Unidos. Chico
Xavier psicografou mais de 450 livros, tendo vendido mais de 50
milhões de exemplares e sendo o escritor brasileiro de maior sucesso
comercial da história, mas sempre cedeu todos os direitos autorais dos
livros, em cartório, para instituições de caridade. Também psicografou
cerca de dez mil cartas, nunca tendo cobrado algo ao destinatário. Seus
empregos foram vendedor, tecelão e datilógrafo.
O legado do médium ultrapassa as
barreiras religiosas e ele é reconhecido como o maior "líder
espiritual" do Brasil, sendo uma das personalidades mais admiradas e
aclamadas no país e ressaltado principalmente por um forte altruísmo.
INFÂNCIA
Nascido
no seio de uma família humilde, teve nove irmãos e era filho de João Cândido
Xavier, um vendedor de bilhetes de loteria, e de Maria João de Deus, uma
lavadeira católica, ambos analfabetos. Segundo biógrafos,
a mediunidade de Chico teria se manifestado pela primeira vez aos
quatro anos de idade, quando ele respondeu ao pai sobre ciências, durante
conversa com uma senhora sobre gravidez. Ele dizia ver e ouvir os
espíritos e conversar com eles.
OS ABUSOS DA MADRINHA
A
mãe faleceu quando Francisco tinha apenas cinco anos de idade. Incapaz de
criá-los, o pai distribuiu os nove filhos entre a parentela. Nos dois anos
seguintes, Francisco foi criado pela madrinha e antiga amiga de sua mãe, Rita
de Cássia, que logo se mostrou uma pessoa cruel, vestindo-o de menina e batendo-lhe
diariamente, inicialmente por qualquer pretexto e, mais tarde, sob a alegação
de que o "menino tinha o diabo no corpo".
A
madrinha ainda criava outro filho adotivo, Moacir, que sofria de uma ferida
incurável na perna. Rita decidiu seguir a simpatia de uma benzedeira,
que consistia em fazer uma criança lamber a ferida durante três sextas-feiras
em jejum, sendo a tarefa atribuída ao pequeno Francisco. Revoltado com a
imposição, Francisco conversou novamente com o espírito da mãe, que o
aconselhou a "lamber com paciência". O espírito explicou-lhe que a
simpatia "não é remédio, mas poderia aplacar a ira da madrinha", esta
sim passível de colocar em risco a sua vida. Os espíritos se encarregariam da
cura da ferida. De fato, curada a perna de Moacir, Rita de Cássia melhorou o
tratamento dado a Francisco.
O CONTATO E A ADESÃO À DOUTRINA ESPÍRITA
Centro
Espírita Luíz Gonzaga, Pedro Leopoldo - MG (2008).
Em
1927, então com dezessete anos de idade, Francisco perdeu a madrasta
Cidália e se viu diante da insanidade de uma irmã, que descobriu ser causada
por um processo de obsessão espiritual. Por orientação de um amigo,
Francisco iniciou-se no estudo do Espiritismo. Logo deixou de ser católico e se
tornou espírita convicto.
No mês de maio desse mesmo ano, recebeu nova mensagem de sua mãe, na qual lhe era recomendado o estudo das obras de Allan Kardec e o cumprimento de seus deveres. Em junho, ajudou a fundar o Centro Espírita Luiz Gonzaga, em um simples barracão de madeira de propriedade de seu irmão. Em julho, por orientação dos espíritos benfeitores, iniciou-se na prática da psicografia, escrevendo dezessete páginas. Nos quatro anos subsequentes, aperfeiçoou essa capacidade embora, como relata em nota no livro Parnaso de Além-Túmulo, ela somente tenha ganho maior clareza em finais de 1931.
Desse
modo, pela sua mediunidade começaram a manifestar-se diversos poetas falecidos,
somente identificados a partir de 1931. Em 1928, começou a publicar as suas
primeiras mensagens psicografadas nos periódicos O Jornal, do Rio
de Janeiro, e Almanaque de Notícias, de Portugal.
AS PRIMEIRAS OBRAS
Em
1931, em Pedro Leopoldo, iniciou a psicografia da obra Parnaso
de Além-Túmulo. Esse ano, que marca a "maioridade" do médium, é o
ano do encontro com seu mentor espiritual Emmanuel, "...à sombra de
uma árvore, na beira de uma represa..." (SOUTO MAIOR, 1995:31). O mentor
informa-o sobre a sua missão de psicografar uma série de trinta livros e
explica-lhe que para isso são lhe exigidas três condições: "disciplina,
disciplina e disciplina".
Severo
e exigente, o mentor instruiu-o a manter-se fiel a Jesus e a Kardec, mesmo na
eventualidade de conflito com a sua orientação. Mais tarde, o médium conheceu
que Emmanuel havia sido o senador romano Publius
Lentulus, posteriormente renascido como escravo e simpatizante do
cristianismo e que, em reencarnação posterior, teria sido o padre jesuíta Manuel
da Nóbrega, ligado à evangelização do Brasil.
Em
1932, foi publicado o Parnaso de Além-Túmulo pela Federação
Espírita Brasileira (FEB). A obra, coletânea de poesias ditadas por
espíritos de poetas brasileiros e portugueses, obteve grande repercussão junto
à imprensa e à opinião pública brasileira e causou espécie
entre os literatos brasileiros, que em geral se impressionaram positivamente
com o livro. O impacto era aumentado ao se saber que a obra tinha sido escrita
por um "modesto escriturário" de armazém do interior de Minas Gerais,
que mal completara o primário. Conta-se que o espírito de sua mãe
aconselhou-o a não responder aos críticos.
Os
direitos autorais das suas obras são concedidos à instituições de caridade.
Nesse período, inicia a sua relação com Manuel Quintão e Wantuil de Freitas. Ainda nesse período,
descobriu ser portador de uma catarata ocular, problema que o
acompanhou pelo resto da vida. Os espíritos seus mentores, Emmanuel e Bezerra
de Menezes, orientam-no para tratar-se com os recursos da medicina humana
e não contar com quaisquer privilégios dos espíritos.
Continuou
com o seu emprego de escrevente-datilógrafo na Fazenda Modelo da Inspetoria
Regional do Serviço de Fomento da Produção Animal, iniciado em 1935 e a exercer
as suas funções no Centro Espírita Luís Gonzaga, atendendo aos necessitados com
receitas, conselhos e psicografando as obras do Além. O administrador da
fazenda era o engenheiro agrônomo Rômulo Joviano, também espírita, que
além de conseguir o emprego para Chico, o ajudava a ter a paz necessária para
os trabalhos de psicografia, além de acompanhar as sessões do Centro Luiz
Gonzaga, do qual se tornaria presidente. Foi justamente no período em que
psicografava nos porões da casa de Joviano que foi escrita uma de suas maiores
obras, intitulada Paulo e Estevão.
FALECIMENTO
O
médium morreu aos 92 anos de idade, em decorrência de parada
cardiorrespiratória, no dia 30 de junho do ano de 2002. Conforme relatos
de amigos e parentes próximos, Chico dizia que iria "desencarnar" em
um dia em que os brasileiros estivessem muito felizes e em que o país estivesse
em festa, para assim o desencarne dele não causar tristeza. O país
festejava a conquista da Copa do Mundo de futebol daquele ano, no dia
de seu falecimento (Chico morreu cerca de nove horas depois da partida Brasil x Alemanha).
O
então presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, emitiu nota sobre a
morte do médium: "Grande líder espiritual e figura querida e admirada pelo
Brasil inteiro, Chico Xavier deixou sua marca no coração de todos os
brasileiros, que ao longo de décadas aprenderam a respeitar seu permanente
compromisso com o bem estar do próximo". O então governador de Minas
Gerais, Itamar Franco, decretou luto oficial de três dias no
Estado e declarou: "Chico Xavier expressava em sua face uma imensa
bondade, reflexo de sua alma iluminada, que transparecia, particularmente, em
sua dedicação aos pobres, imagem que vou guardar para sempre, com muito
carinho".
Segundo
a Polícia Militar de Minas Gerais, 120.000 pessoas compareceram ao velório
do médium, que aconteceu em Uberaba nos dias 01 e 02 de Julho. Em um
caminhão do Corpo de Bombeiros, o caixão com o corpo do médium percorreu 5km
até chegar ao Cemitério São João Batista (também em Uberaba) e mais de 30 mil
pessoas acompanharam o cortejo a pé. Quando o caixão chegou ao cemitério, foi
recebido com uma chuva de pétalas de 3 mil rosas lançadas em profusão de um
helicóptero da Polícia Rodoviária Federal.
Os centros
espíritas fundados por Chico Xavier, "Casa da Prece" e
"Comunhão Espírita Cristã" em Uberaba e "Centro Espírita Luíz
Gonzaga" em Pedro Leopoldo, continuam funcionando e realizando muitas
assistências de caridade.
Em
2014, o Ministério Público Federal de Uberaba, em Minas Gerais,
firmou um acordo com o filho adotivo do médium Chico Xavier, Eurípedes Higino,
que prevê a proteção e catalagoção do acervo do médium.
"Embora
ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar
agora e fazer um novo fim."
HOMENAGENS E
PREMIAÇÕES
- Ao
longo de sua vida, Chico Xavier recebeu o titulo de cidadão honorário de
mais de cem cidades brasileiras, inclusive as principais.
- Foi
homenageado em filmes e documentários como Chico Xavier - O Filme, As
Mães de Chico Xavier e 100 Anos Com Chico Xavier - Gratidão e
Homenagem.
- Cantores
como Roberto Carlos, Gilberto Gil, Fábio Júnior, Moacir
Franco, Nando Cordel e Vanusa compuseram
músicas em sua homenagem.
- Em
1981 e 1982 Chico Xavier foi indicado ao prêmio Prêmio Nobel da Paz,
tendo havido uma mobilização de cerca de dois milhões de pessoas que deram
suas assinaturas em todo Brasil e em organizações de 29 países pedindo o
Nobel da Paz para ele.
- Em
1999, o Governo de Minas Gerais instituiu a "Comenda da Paz
Chico Xavier", condecoração que é outorgada anualmente a pessoas
físicas ou jurídicas que trabalham pela paz e pelo bem estar social.
- Em
2000, Chico Xavier foi eleito o "Mineiro do século XX",
seguido por Santos Dumont e Juscelino Kubitschek, em um concurso
popular realizado pela Rede Globo Minas, tendo vencido com
704.030 votos.
- Após
Chico Xavier falecer, a casa onde ele morou entre 1948 e 1959 e a casa em
que ele morou entre 1959 e 2002 foram transformadas em museus sem fins
lucrativos em referência a sua vida e obra; e o interior da Fazenda Modelo
de Pedro Leopoldo, local onde ele trabalhou como datilógrafo entre 1930 e
o final dos anos 50, também foi transformado em um memorial em sua
homenagem.
- Em
2006, em uma votação popular promovida pela Revista Época, ele foi
eleito o "O Maior Brasileiro da História".
- Em
2009, a Lei nº 12.065 deu o nome “Chico Xavier” ao trecho da
rodovia BR 050, entre a divisa dos Estados de São
Paulo e Minas Gerais e a divisa dos municípios de Uberaba com Uberlândia.
- Em
2010, o Correio Brasileiro lançou o selo e o cartão postal
comemorativo em homenagem ao centenário do médium. No mesmo
ano, a Casa da Moeda do Brasillançou a "Medalha Comemorativa do
Centenário de Chico Xavier".
- O
centenário do médium também foi comemorado em uma sessão solene
pela Câmara dos Deputados do Brasil, à época presidida
por Michel Temer.
- Em
Outubro de 2012, no programa O Maior Brasileiro de Todos os Tempos,
transmitido pelo SBT, Chico foi eleito, por voto popular, como "O
Maior Brasileiro de Todos os Tempos". Na semifinal do programa,
disputou com Ayrton Senna, venceu com 63,8% dos votos. Na final do
programa, Chico disputou com Santos Dumont e Princesa
Isabel, vencendo com 71,4% dos votos.
- Atualmente
o Instituto Chico Xavier e a Prefeitura de Uberaba estão
construindo um memorial em homenagem a ele na cidade.
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