A Terceira Epístola de João, geralmente referida apenas como 3 João, é o vigésimo quinto e antepenúltimo livro do Novo Testamento da Bíblia e atribuído a João, o Evangelista, tradicionalmente considerado também o autor do Evangelho de João e das outras duas epístolas de João. A Terceira Epístola de João é uma carta privada redigida por um presbítero, e direcionada a um homem chamado Gaio, recomendando-lhe a hospitalidade a um grupo de cristãos liderados por Demétrio, que havia pregado o Evangelho na área onde Gaio vivia. O objetivo da carta é encorajar e fortalecer Gaio e adverti-lo contra Diótrefes, que se recusava a cooperar com o autor da carta.
A
literatura da igreja dos primeiros séculos não menciona esta epístola, sendo
que a primeira referência que aparece apenas em meados do século III. Esta
falta de documentação, embora tenha ocorrido provavelmente devido à extrema
brevidade da epístola, fez com que os escritores da igreja primitiva duvidassem
de sua autenticidade até o início do século V, quando foi aceita juntamente com
as outras duas epístolas de João. A linguagem de 3 João ecoa a do Evangelho de
João, sendo tradicionalmente datada de cerca de 90 d. C., de modo que a
epístola provavelmente foi escrita perto do final do primeiro século. Outros
estudiosos contestam essa visão, como John A. T. Robinson, que afirma que a
data aproximada de 3 João é de 60 a 65 d. C. A localização da escrita é
desconhecida, porém, convencionalmente é descrita em Éfeso. A epístola é
encontrada em muitos dos manuscritos do Novo Testamento mais antigos, e seu
texto está livre de grandes discrepâncias ou variantes textuais.
Conteúdo
Não
há nenhuma doutrina estabelecida em 3 João, que é estritamente uma carta
pessoal, mas o tema geral é a importância da hospitalidade, especialmente
quando se trata de homens que estavam trabalhando para espalhar o evangelho.
Terceiro João é o livro mais curto da Bíblia se tratando do número de palavras,
embora a Segunda Epístola de João apresenta menos versos. É o único livro do Novo Testamento que não contém os nomes de
"Jesus" ou de "Cristo".
Saudação
e introdução
A
carta é direcionada para um homem chamado Gaio. Gaio parece ter sido um homem
rico, uma vez que o autor da epístola, que se identifica apenas como "o
presbítero", não pensou que poderia impor-lhe indevidamente a acolher
alguns pregadores itinerantes por um curto período de tempo. O presbítero pode
ter convertido a Gaio, já que ele chama Gaio de seu "filho" na fé. As
Constituições Apostólicas VII.46.9 registram que Gaio foi feito bispo de
Pérgamo, embora não haja confirmação histórica para esta declaração.
O
nome de Gaio aparece por mais três oportunidades no Novo Testamento. Primeiro,
um Gaio cristão é mencionado na Macedônia como um companheiro de viagem de
Paulo, junto com Aristarco (Atos, 19:29). Um capítulo depois, um Gaio de Derbe
é nomeado como um dos sete companheiros de viagem de Paulo que o esperaram em Trôade
(Atos, 20:4). Em seguida, um Gaio é mencionado residindo em Corinto, como sendo
uma das poucas pessoas de lá (os outros foram Crispo e a família de Estéfanas)
que foram batizadas por Paulo, que fundou a Igreja nesta cidade (1 Coríntios,
1:14). Por fim, um Gaio é referido em uma seção de saudação final da Epístola
aos Romanos (Romanos, 16:23) como "anfitrião" de Paulo e também
anfitrião de toda a igreja, seja qual fosse a cidade em que Paulo escrevia na
época, provavelmente sendo Corinto. No entanto, não há motivos para afirmar com
certeza que algum desses homens fosse o Gaio de 3 João.
O
versículo 2, no qual o autor deseja a prosperidade material sobre Gaio,
semelhante à prosperidade de sua alma, é um texto de prova comumente usado
dentro da prosperidade dos ensinamentos do evangelho.
Missionários
O
presbítero continua a redigir a sua carta, fazendo uma homenagem a Gaio por sua
lealdade e a sua hospitalidade em relação a um grupo de "irmãos"
itinerantes. Os "irmãos" são irmãos na fé ou missionários, que, de
acordo com o pedido de Jesus em Marcos 6:8-9, partiram sem dinheiro. O
presbítero então pede que Gaio forneça aos irmãos o necessário para continuarem
sua jornada.
Oposição
de Diótrefes
O presbítero, em seguida, descreve seu conflito com Diótrefes, que não reconhece a autoridade do presbítero e está excomungando aqueles, como Gaio, que recebem missionários enviados pelo mesmo. O presbítero menciona uma carta anterior que ele escreveu para a Igreja que foi reprimida por Diótrefes e diz que pretende visitar a igreja e enfrentar a Diótrefes. "A igreja" é aparentemente conhecida por Gaio, mas provavelmente ele não é membro dela, pois, assim sendo, o presbítero não precisaria fornecer-lhe informações sobre as atividades de Diótrefes. A disputa entre Diótrefes e o presbítero parece ser baseada na liderança e autoridade da igreja, e não na doutrina, já que o presbítero não acusa Diótrefes de ensinar a heresia.
A
maioria dos estudiosos não relaciona a carta que o presbítero menciona com 2
João, uma vez que 3 João não contém nenhuma referência à controvérsia
doutrinária descrita em 2 João, e argumenta que o presbítero está se referindo
a uma carta anterior de recomendação. Ao contrário deles, John Painter, no
entanto, argumenta que o presbítero está de fato se referindo a 2 João, uma vez
que há coincidências entre 2 João 9 e o tema da hospitalidade em 3 João.
O
presbítero encerra esta seção com uma súplica a Gaio: "Amado, não sigas o
mal, mas o bem. Quem faz o bem é de Deus; mas quem faz o mal não tem visto a
Deus". Esta ordem é uma reminiscência de várias passagens de 1 João
(2:3-5, 3:4-10, 4:7).
Saudações
e conclusões finais
O
versículo 12 apresenta outro homem chamado Demétrio, que segundo as
Constituições Apostólicas VII.46.9 foi ordenado por João como bispo de
Filadélfia (atualmente Amã, Jordânia). Demétrio provavelmente era um membro do
grupo de missionários descritos anteriormente na carta, e 3 João provavelmente
serve como uma carta de recomendação a Gaio sobre Demétrio. As cartas de
recomendação eram bastante comuns na igreja primitiva, como evidenciado por 2
Coríntios, 3:1, Romanos, 16:1-2 e Colossenses, 4:7-8.
O
presbítero, antes de terminar a carta, diz que ele tem muitas outras coisas
para contar a Gaio e planeja fazer uma viagem para vê-lo no futuro próximo,
usando quase os mesmos termos de 2 João, 1:12. O versículo final, que diz:
"Paz seja contigo. Os amigos te saúdam. Saúda os amigos por nome", é
típico da correspondência contemporânea, com "Paz seja contigo" uma
saudação adotada pelos judeus.
Autoria
Pode-se
afirmar quase evidentemente que 3 João foi escrita pelo mesmo autor que
escreveu 2 João, e provavelmente 1 João também. Este indivíduo pode ter sido o
próprio João, o Evangelista, ou então outra pessoa, talvez João, o Presbítero,
embora de acordo com o estudioso C.H. Dodd: "se tentarmos identificar o
autor anônimo dessas epístolas com algum indivíduo conhecido, temos pouca
expectativa de acertar".
Existem
muitas semelhanças entre 2 e 3 João. Ambos seguem o formato de outras cartas
pessoais da época; em ambas, o autor se autoidentifica como "o
presbítero", um termo que significa literalmente "o ancião"; e
ambos lidam com temas sobre hospitalidade e conflitos dentro da igreja. As
cartas também são extremamente semelhantes em comprimento, provavelmente porque
ambas foram escritos para caber em uma folha de papiro.
3
João também é linguisticamente semelhante a ambas as epístolas de João e outras
obras de João. De 99 palavras diferentes usadas, 21 são palavras sem
importância como "e" ou "o", restando então 78 palavras
significativas. 23 destas não aparecem em 1 João ou no Evangelho de João, das
quais quatro são únicos para 3 João, uma é comum a 2 e 3 João, e duas são
encontradas em ambos os outros dois livros de João, bem como em outros escritos
do Novo Testamento. Aproximadamente 30% das palavras significativas em 3 João
não aparecem em 1 João ou no Evangelho, em comparação com 20% de 2 João. Essas
considerações indicam uma estreita afinidade entre 2 e 3 João, embora 2 João
esteja mais fortemente conectado com 1 João do que com três João. Uma minoria
de estudiosos, no entanto, argumenta contra a autoria comum de 2 e 3 João,
sendo que Rudolf Bultmann sustenta a afirmação de que 2 João era um documento
falsificado com base em 3 João.
Se
3 João realmente foi escrito por João, o Evangelista, no entanto, é estranho
que Diótrefes se oponha a ele, uma vez que os apóstolos eram altamente respeitados
na igreja primitiva. Uma possível visão alternativa da autoria da epístola
surge de um fragmento escrito por Papias de Hierápolis e citado por Eusébio,
que menciona um homem chamado "Presbítero João". No entanto, como
nada mais é conhecido deste indivíduo, não é possível identificá-lo comprovadamente
como o autor de 3 João.
Data
e localização
As
três cartas de João provavelmente foram escritas com um pequeno intervalo de
alguns anos umas das outras, sendo que evidências internas indicam que foram
escritas após o Evangelho de João, colocando-as na segunda metade do primeiro
século. Esta data faz sentido dadas suas alusões e oposição ao ensino do
gnosticismo e do docetismo, que negaram a plena humanidade de Jesus, e que
estavam ganhando ascendência no final do primeiro século.
Dodd
argumenta que ela foi escrita em uma data entre 96 - 110 d.C., concluindo por
meio da ausência de referências a perseguições nas cartas que provavelmente
foram escritas depois do severo reinado do imperador romano Domiciano, cuja
perseguição aos cristãos aparentemente pode ter levado a escrita do livro de
Apocalipse. Dodd observa, no entanto, que eles poderiam ter sido escritos na
era pré-Domítica, o que é provável que tenha acontecido caso o autor fosse um
discípulo de Jesus. Marshall sugere uma data entre os anos de 60 e 90, enquanto
Rensberger sugere que a carta tenha sido escrita por volta do ano 100,
assumindo que o Evangelho de João foi escrito na década de 90 e as cartas devem
ter sido redigidas depois. Brown argumenta sobre uma data compreendida entre
100 e 110, com as três cartas sendo compostas em uma proximidade curta de
tempo. Uma data entre 110 e 115 torna-se improvável, pois partes de 1 João e 2
João são citadas por Policarpo e Papias.
As
cartas não indicam a localização da autoria, mas, como as primeiras citações
delas (nos escritos de Policarpo, Papias e Ireneu) provêm da província da Ásia
Menor, é provável que as epístolas também tenham sido escritas na Ásia. A
tradição da igreja tipicamente as coloca na cidade de Éfeso.
Manuscritos
3
João é preservado em muitos dos antigos manuscritos do Novo Testamento. Dos
grandes códices unciais gregos, os códices Sinaiticus, Alexandrinus e Vaticanus
contêm as três epístolas de João, enquanto o Codex Ephraemi Rescriptus contém 3
João 3-15 junto com 1 João 1:1-4. O Codex Bezae, apesar de ter em falta a
maioria das epístolas católicas, contém 3 João 11-15 em tradução latina. Em
outras línguas, além da versão grega, o Vulgata e as versão ciríacas, armenianas
e etiópicas contém as três epístolas. Entre as diferentes cópias, não há
grandes diferenças, o que significa que há poucas dúvidas sobre o objetivo do
texto original.
História
canônica
Existem
algumas semelhanças duvidosas entre as passagens nas epístolas de João com os escritos
de Policarpo e Papias, porém, as primeiras referências definitivas às epístolas
ocorreram ao final do segundo século. Irineu, em Adversus Haereses 3.16.8
(escrito aproximadamente em 180), cita 2 João 7-8, e na próxima frase 1 João
4:1-2, mas não faz distinção entre 1 e 2 João; e, além disso, não cita a 3
João. A Cânone Muratori parece referir-se a apenas as duas primeiras cartas de
João, embora seja possível interpretá-la como se referindo às três. 1 João é
amplamente citado por Tertuliano, que morreu em 215, e Clemente de Alexandria,
o qual além de citar a 1 João, escreveu um comentário sobre 2 João em sua obra
Adumbrationes. As três epístolas de João foram reconhecidas pela 39ª carta
festiva de Atanásio, o Sínodo de Hipona e o Concílio de Cartago. Além disso,
Dídimo, o Cego escreveu um comentário sobre as três epístolas, mostrando que,
no início do século V, estavam sendo consideradas como uma única carta só.
A
primeira referência a 3 João ocorre em meados do século III; Eusébio diz que
Orígenes conhecia a 2 João e 3 João, porém Orígenes é relatado afirmando que
"todos não as consideram genuínas". Da mesma forma, o Papa Dionísio
de Alexandria, aluno de Orígenes, estava ciente da existência de uma
"Segunda ou Terceira Epístola de João". Também em torno deste
período, 3 João torna-se conhecida no norte da África, como foi referida na
Sententiae Episcoporum, produzida pelo Sétimo Conselho de Cártago. Haviam
dúvidas sobre a autoria de 3 João, no entanto, com Eusébio listando este e 2
João como "livros disputados", apesar de descrevê-los como "bem
conhecidos e reconhecidos pela maioria". Apesar de Eusébio acreditar que o
apóstolo escreveu o evangelho e as epístolas, é provável que a dúvida sobre a
confirmação da autoria de 2 e 3 João fosse um fator que contribuía com que fossem
considerados disputados. No final do século IV, o presbítero (autor de 2 e 3
João) era considerado uma pessoa diferente do apóstolo João. Esta opinião,
embora relatada por Jerônimo, não foi aceita por todos, visto que o próprio
Jerônimo atribuiu as epístolas ao apóstolo João. Um fator que ajuda a explicar
o atestado tardio de 3 João e as dúvidas sobre sua autoria é a natureza muito
curta da carta; os primeiros escritores simplesmente não tiveram oportunidade
de a citar.
Fonte: Wikipédia
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