"E, partindo Jesus dali, foi para as partes de Tiro e de
Sidom. E eis que uma mulher cananéia, que saíra daquelas cercanias, clamou,
dizendo: Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de mim, que minha filha está
miseravelmente endemoninhada. Mas ele não lhe respondeu palavra. E os seus
discípulos, chegando ao pé dele, rogaram-lhe, dizendo: Despede-a, que vem
gritando atrás de nós. E ele, respondendo, disse: Eu não fui enviado senão às
ovelhas perdidas da casa de Israel. Então chegou ela, e adorou-o, dizendo:
Senhor, socorre-me! Ele, porém, respondendo, disse: Não é bom pegar o pão dos
filhos e deitá-lo aos cachorrinhos. E ela disse: Sim, SENHOR, mas também os
cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores. Então
respondeu Jesus, e disse-lhe: Ó mulher, grande é a tua fé! Seja isso feito para
contigo como tu desejas. E desde aquela hora a sua filha ficou sã." (Mateus
15:21-28; Marcos 7.24-30).
Cristo
estava perto do fim do seu ministério Galileu. Ele tinha ensinado muitas coisas
e feito muitos milagres, e a hora estava se aproximando rapidamente em que Ele
deixaria a Galiléia para ir a Jerusalém. E a oposição contra Ele estava
aumentando também, ao ponto dele determinar a sua retirada para o extremo norte
da Terra prometida, para a região de Tiro e Sidom. Esta área era o lar de
muitos dos cananeus originais os quais Israel havia sido ordenada a expulsar da
região. Deus havia muitas vezes enviando julgamento e maldições aos cananeus
devido as suas iniquidades.
Agora
nos dias de Jesus havia outra mulher lá que precisava de ajuda. Lemos que essa
mulher cananéia veio chorando a Jesus, dizendo repetidamente, “Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de
mim, que minha filha está miseravelmente endemoninhada”. Essa
mulher abandonada e imunda estava com o diabo respirando no seu pescoço, por
assim dizer. Ele tinha a filha dela nas suas garras.
Observe
que ela chamou Jesus de “Filho de Davi.” Ela provavelmente não sabia a
passagem, mas o Velho Testamento havia profetizado que o Filho de Davi “acode
ao necessitado que clama e também ao aflito e ao desvalido” (Salmos 72.12).
Claramente, esta mulher havia ouvido sobre o Cristo. Sem dúvidas, ela havia
ouvido sobre muitas pessoas que haviam sido trazidas a Ele para serem curadas,
e que Ele curou todas, inclusive as pessoas que estavam possessas por demônios.
Claramente,
o Espírito Santo a abençoou em tudo aquilo que ela ouviu, pois ela não
simplesmente ouviu tudo aquilo como palavras de homens, mas como a palavra de
Deus.
Ao mesmo tempo, a sua necessidade era grande; todos os dias, o diabo a
lembrava do seu poder sobre a sua filha.
Um
Salvador que prova
Vemos
neste episódio uma série de provações que essa mulher enfrentou para ter a
resposta que procurava: a primeira foi o silêncio de Jesus, “ele,
porém, não lhe respondeu palavra”. Seu clamor era tão alto; a
boca de Cristo, entretanto, permaneceu fechada. Deve ter sido horrível para
ela, que o inferno parecia tão aberto, mas o céu tão fechado – uma filha
possessa por demônio em uma mão, e um Salvador silencioso na outra.
A
segunda provação dela foi a impaciência dos discípulos de Cristo. Isto deve ter
tornado as coisas piores para ela. Eles procuravam a intervenção de Cristo para
fazê-la ir embora. “Despede-a, que vem gritando atrás de nós”.
A
terceira provação foi a repulsa aparente do Salvador. Quando Cristo finalmente
a respondeu, Ele disse, “Eu não fui enviado senão às ovelhas
perdidas da casa de Israel”. De fato, em geral Cristo havia se limitado
àqueles que eram Israelitas. Para a mulher isso deve ter soado como se, caso
ela fosse Israelita, Cristo a teria ajudado. Mas infelizmente, ela era uma cananéia.
O
que o Salvador estava fazendo para essa mulher? As Escrituras não falam, ”Todo
aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum
lançarei fora” (João 6.37)? Certamente, o Senhor não a lançaria fora.
Ouça cuidadosamente as palavras do Salvador. Muitas vezes nós interpretamos o
silêncio como uma negação e desencorajamento como rejeição total. Todavia, o
Salvador onisciente estava colocando-a a prova para evidenciar a tenacidade da
sua fé. Ele conhecia a sua fé antes de prová-la, assim como o Senhor conhecia a
fé de Abraão antes de prová-lo (ver Gênesis 22.1). Não era Ele o autor e
consumador desta fé (Hebreus 12.2)?
Paradoxalmente,
a mulher ficou encorajada, apesar da aparente repulsa do Salvador.
Ajoelhando-se perante Ele, ela falou simples e urgentemente: “Senhor,
socorre-me”.
Entretanto
o Senhor não havia terminado de prová-la. Agora veio a prova final para essa
mulher, e indiscutivelmente, a mais severa. Jesus disse, “Não
é bom pegar o pão dos filhos e deitá-los aos cachorrinhos”. Tomando simplesmente
pela aparência, isto era um insulto para a mulher. É como se Ele a estivesse
comparando com um cachorro latindo e interrompendo um pai que está tentando
alimentar seus filhos.
Foi
positivo para sua fé que ela já parecia ter a sua resposta pronta. “Sim,
Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus
senhores”. Se ela tivesse se ofendido com o Senhor tendo-a comparado
com um animal impuro, ela teria perdido a benção que o Senhor estava para dar a
ela. Mas os seus olhos estavam em uma única coisa: o socorro do Senhor. Ela
sabia quão desamparada e desesperada ela estava sem esse socorro. Ser comparada
a um cachorro é um elogio quando se sabe que o que você merece é o inferno. Ela
estava satisfeita em ser chamada de cachorro. Como Jacó, essa mulher não
receberia um não como resposta. Ela sabia que havia vasculhado o mundo inteiro
por alimento, mas achou nada que pudesse saciar a sua alma sedenta.