Quando evidenciou a
impossibilidade dos ouvintes do Sermão da Montanha obterem justiça superior à
dos escribas e fariseus fazendo o que faziam, ou até mesmo se propusessem
cumprir o espírito inatingível da lei, Jesus apresentou uma alternativa: "Entrai pela porta estreita". (Mateus
7:13), pois é na porta estreita que se alcança justiça superior.
Falar da justiça do reino de
Deus sem apontar para Cristo é chafurdar no moralismo, ou mergulhar nas águas turvas da moral.
Jesus é a justiça de Deus
manifesta conforme o anunciado pelos profetas!
“Naqueles dias e naquele
tempo farei brotar a Davi um Renovo de justiça, e ele fará juízo e justiça na
terra.” (Jeremias 33:15).
Sem o conhecimento que o Cristo trouxe é impossível aos homens serem justificados por Deus.
“Ele verá o fruto do
trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo, o justo, justificará a
muitos; porque as iniquidades deles levará sobre si.” (Isaías 53:11).
É em função do anunciado
pelos profetas acerca de Cristo, que é a essência do evangelho, que o apóstolo
Paulo disse:
“Porque não me envergonho do
evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que
crê; primeiro do judeu, e também do grego. Porque nele se descobre a justiça de
Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá da fé.” (Romanos
1:17).
Nesse sentido, a justiça de
Deus revelada no evangelho está direcionada a salvação do homem sob domínio do
pecado, e não tem por finalidade promover uma moral, ou seja, um conjunto de
regras de convívio humano.
A lei: santa, justa e boa
Como os filhos de Israel não
confiaram no Senhor de Israel e se achavam justos aos seus próprios olhos por
serem descendentes de Abraão e oferecerem sacrifícios, Deus lhes deu a lei para
demonstrar que eram obstinados, rebeldes, incircuncisos de coração, e que
precisavam crer em Deus que prometeu o Descendente a Abraão para serem salvos.
Deus deu a lei sob maldição:
“Maldito aquele que não
confirmar as palavras desta lei, não as cumprindo. E todo o povo dirá: Amém.” (Deuteronômio
27:26).
Bastava os filhos de Israel
crerem na promessa que Deus fez a Abraão acerca do descendente que seriam
justificados como o crente Abraão, mas não confiaram, e por isso foi dada a lei
sob maldição, pois somente se cumprissem todos os mandamentos da lei
confirmariam a lei (Gálatas 3:10).
Ao dar a lei, Deus estava
declarando o povo transgressores.
“Sabemos, porém, que a lei é
boa, se alguém dela usa legitimamente; Sabendo isto, que a lei não é feita para
o justo, mas para os injustos e obstinados, para os ímpios e pecadores, para os
profanos e irreligiosos, para os parricidas e matricidas, para os homicidas,” (1
Timóteo 1:8-9).
Mas, a lei não era santa, e o mandamento santo, justo e bom? Sim! “E assim a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom.” (Romanos 7:12).
A lei como profecia é santa,
pois dá testemunho de Cristo. Ela é sombra, e a realidade encontra-se em
Cristo, de modo que ele serviu de aio para conduzir os homens a Cristo
(Colossenses 2:17; Hebreus 8:5 e 10:1).
“Porque todos os profetas e
a lei profetizaram até
João.” (Mateus 11:13).
A lei compõe as Escrituras,
portanto, profeticamente testificam e se cumprem em Cristo. Neste ponto,
destaca-se a fala de Jesus:
“Examinais as Escrituras,
porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam.” (João 5:39).
A lei é santa porque nela
Deus dá testemunho do Seu Filho, e o mandamento é santo, justo e bom pelo seu
objetivo: Cristo.
“Porque o fim da lei é
Cristo para justiça de todo aquele que crê.” (Romanos 10:4).
Jesus cumpriu a lei
Por má compreensão do que
significa Jesus ter cumprido a lei se chega à ideia equivocada de que Jesus
teve um compromisso com o passado, ou que Ele preservou coisas boas que os
antigos legaram.
Jesus não foi um
revolucionário, pois a sua doutrina não tinha cunho político. Mas, apesar de
não ser um revolucionário, isso não significa que veio preservar os ensinos da
lei e dos profetas que os antigos deixaram, pois Jesus veio fazer a vontade do
Pai, e isso significava desprezar pai, mãe, irmãos, amigos, etc.
Ter um compromisso com o
passado foi descartado pelos profetas:
“Não creiais no amigo, nem confieis no vosso guia; daquela que
repousa no teu seio, guarda as portas da tua boca. Porque o filho despreza ao
pai, a filha se levanta contra sua mãe, a nora contra sua sogra, os inimigos do homem são os da sua própria
casa.” (Miquéias 7:5,6).
Jesus foi rejeitado
justamente por descartar o ensinamento dos pais, que consistia em mandamento de
homens, o que contrasta com o ministério de Cristo, que veio revelar a vontade
de Deus (Isaías 29:13; Marcos 7:8).
Como Senhor do sábado, Jesus
não veio guardar sábados e dias de festas.
“Por isso, pois, os judeus
ainda mais procuravam matá-lo, porque
não só quebrantava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio
Pai, fazendo-se igual a Deus.” (João 5:18).
Os antigos diziam que comer
sem lavar as mãos contaminava o homem, e Jesus com os seus discípulos comiam
sem lavar as mãos e ainda explicou o que de fato contamina o homem.
“São estas coisas que
contaminam o homem; mas comer sem lavar as mãos, isso não contamina o homem.” (Mateus
15:20).
Os ensinos da tradição devem
ser revistos sempre à luz das Escrituras, pois é das Escrituras que emana vida
e tudo de bom que o homem deve guardar. Se Jesus se propusesse preservar o
ensino da lei e dos profetas conforme ensinavam os mestres do judaísmo, não
conseguiria evidenciar a verdade do evangelho, pois a lei e o evangelho são
sistemas doutrinários antagônicos.
Para servir a Deus o homem
precisa humilhar-se a si mesmo, ou seja, se fazer servo. Na condição de servo
tem que abrir mão de preceitos e valores familiares tão caro como o fez Abraão,
que saiu da casa de seu pai abrindo mão de todas heranças e deixou toda a sua
parentela.
“Quem ama o pai ou a mãe
mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que
a mim não é digno de mim.” (Mateus 10:37).
Quem quer ser fazer servo de
Cristo deve tomar sobre si o seu jugo, portanto, não pode ter mais vínculo com
os valores antigos da sua família. Não dá para servir a Deus e a si mesmo, é
impossível dedicar-se a Deus e submeter-se as tradições e valores dos antigos.
“Se, pois, estais mortos com
Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de
ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: Não toques, não proves, não
manuseies?” (Colossenses 2:20,21).
Quando Jesus disse que veio
cumprir a lei, isso significa que as profecias da lei se cumpriam nele, e que
os homens deveriam ir a Ele, pois esse era objetivo da lei: conduzir os homens
a Cristo. Isso significa que, ao vir ao mundo, Jesus não teve que se ocupar com
os rudimentos do mundo ou se sobrecarregar de ordenanças para cumprir a lei.
Na condição de último Adão,
Cristo jamais esteve sob domínio do pecado, portanto, as ordenanças da lei não
foram impostas sobre Ele, pois Ele não era ímpio e pecador. Jesus não esteve
sob um jugo pesado e, concomitantemente, oferecendo um jugo suave aos seus
discípulos, antes Ele traz um ensinamento novo, e por isso, os seus discípulos
precisavam aprender dele que era humilde e manso de coração.
Ao anunciar:
‘arrependei-vos, porque é chegado o reino de Deus’, Jesus estava removendo a
lei e estabelecendo o evangelho. O sentido da lei era apontar para Cristo, de
modo que ao tratar com a multidão na montanha, Jesus não estava devolvendo um
sentido a lei, antes Ele evidenciou o quão equivocados estavam acerca dos
precitos da lei. A multidão e os seus mestres (escriba e fariseus) se achavam
justos por praticarem alguns preceitos conforme ensinado pelos antigos, mas
nada faziam de ‘superior’, pois os publicanos e pecadores faziam o mesmo que
eles.
“Pois, se amardes os que vos
amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se
saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os
publicanos também assim?” (Mateus 5:46,47).
Jesus demonstra à multidão
através do Sermão da Montanha que ela nada fazia de mais que lhes desse direito
ao reino dos céus, e que por isso mesmo, se não obtivesse justiça maior que a
dos escribas e fariseus, não teriam direito ao reino de Deus.
“Porque vos digo que, se a
vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis
no reino dos céus.” (Mateus 5:20).
Como poderiam alcançar justiça maior que a dos escribas e fariseus? Fazendo o que faziam, ou seja, nada demais? Daí a proposta de Jesus: “… se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; E, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; E, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.” (Mateus 5:39-41).
Seria esse o caminho para
obter justiça superior? Ou, seria entrar pela porta estreita? É evidente que
para alcançar justiça superior, a multidão teria que entrar por Cristo, ou
seja, nascer de novo.
“Jesus respondeu, e
disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo,
não pode ver o reino de Deus.” (João 3:3).
Se oferecer a face esquerda
a quem bater na face direita possibilitasse alcançar justiça superior, certo é
que não seria necessária a doutrina de Cristo acerca do novo nascimento, ou
seja, da necessidade de entrar pela porta estreita.
O Sermão da Montanha é uma grande parábola, pois Jesus não podia falar abertamente à multidão que Ele era o Cristo, antes a multidão deveria compreender pelo ensino de Jesus que Ele era o enviado de Deus. E como a multidão poderiam verificar que Jesus era o Cristo? Através das Escrituras, e nunca confiar no que diziam os seus amigos e parentes, pois os inimigos do filho do homem seriam os seus familiares.
“Então muitos da multidão,
ouvindo esta palavra, diziam: Verdadeiramente este é o Profeta. Outros diziam:
Este é o Cristo; mas diziam outros: Vem, pois, o Cristo da Galileia? Não diz a
Escritura que o Cristo vem da descendência de Davi, e de Belém, da aldeia de
onde era Davi? Assim entre o povo
havia dissensão por causa dele.” (João 7:40-43).
A fragilidade e inutilidade da lei
É falso que Jesus ensinou sobre a justiça o mesmo que ensinou Moisés. Sobre a justiça ensinou Moisés: “E será para nós justiça, quando tivermos cuidado de cumprir todos estes mandamentos perante o SENHOR nosso Deus, como nos tem ordenado.” (Deuteronômio 6:25).
E sobre a justiça ensinou Jesus: “Jesus respondeu, e disse-lhes: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou.” (João 6:29).
Enquanto a justiça de Moisés era cumprir todos os mandamentos da lei, a justiça de Jesus é crer que Deus o enviou. É equivocada a premissa de que ‘Jesus ensinou sobre a justiça conforme o que Moisés, a Lei e os profetas ensinaram’, antes o correto é: “Mas agora se manifestou sem a lei a justiça de Deus, tendo o testemunho da lei e dos profetas;” (Romanos 3:21); “E nos mandou pregar ao povo, e testificar que ele é o que por Deus foi constituído juiz dos vivos e dos mortos. A este dão testemunho todos os profetas, de que todos os que nele creem receberão o perdão dos pecados pelo seu nome.” (Atos 10:42,43).
Quando evidenciou a
impossibilidade dos ouvintes do Sermão da Montanha obterem justiça superior à
dos escribas e fariseus fazendo o que faziam, ou até mesmo se propusessem
cumprir o espírito da lei, Jesus apresentou uma alternativa: ‘Entrai pela
porta estreita.’ (Mateus 7:13), Jesus estava dando um novo conhecimento,
tendo o testemunho da lei, dos profetas e dos salmos.
“Eis lhes suscitarei um profeta do meio de seus irmãos, como tu, e porei as minhas palavras na sua boca, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar.” (Deuteronômio 18:18); “E sei que o seu mandamento é a vida eterna. Portanto, o que eu falo, falo-o como o Pai mo tem dito.” (João 12:50).
Se a lei era perfeita, como
Jesus poderia aperfeiçoar a lei? A lei foi perfeita para o que
ela foi estabelecida: conduzir os homens a Cristo. Se Cristo era o objetivo da
lei, Ele não veio aperfeiçoá-la, antes sublinhar aos filhos de Israel que ela
cumpriu o seu objetivo e que havia sido substituída.
“A lei do SENHOR é perfeita,
e refrigera a alma; o testemunho do SENHOR é fiel, e dá sabedoria aos
símplices.” (Salmos 19:7).
“Dizendo Nova aliança, envelheceu a primeira. Ora, o que foi
tornado velho, e se envelhece, perto
está de acabar.” (Hebreus 8:13).
Jesus não veio harmonizar e
nem aperfeiçoar a lei, antes evidenciar a fraqueza e inutilidade para o uso que
faziam da lei. A lei era boa para o que foi instituída: conduzir os homens a
Cristo, porém, inútil e frágil para aperfeiçoá-los. E no Sermão da Montanha
Jesus destacou a fragilidade e inutilidade da lei ao enfatizar que tanto o povo
quanto os seus líderes precisavam de justiça superior.
“Porque dele assim se
testifica: Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedeque.
Porque o precedente mandamento é
ab-rogado por causa da sua fraqueza e inutilidade (Pois a lei
nenhuma coisa aperfeiçoou) e desta sorte é introduzida uma melhor esperança,
pela qual chegamos a Deus.” (Hebreus 7:17-19).
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