A Bíblia fala frequentemente sobre o desejo de Deus que seu povo volte para ele. Deus criou o homem para gozar a comunhão especial com o Criador, e tem feito tudo para nos dar este grande privilégio. Deus quer uma relação especial e eterna conosco.
Jesus veio à terra com o propósito de buscar e salvar os perdidos (Lucas 19:10). Ele dedicou à vida, e até se sacrificou, para possibilitar a reconciliação de pecadores com Deus (2 Coríntios 5:18-21).
A volta de um pecador é importante para Deus, e deve ser importante para todos os servos do Senhor. Cada pessoa – cada pecador – precisa saber que a reconciliação é possível. Mesmo se tiver feito coisas terríveis, você pode voltar para casa – para a casa de Deus.
Deus nos criou à sua imagem e semelhança, capazes de amar e de obedecer (Gênesis 1:26,27). O amor é voluntário, não forçado. Deus não criou uma raça de robôs que seriam incapazes de fazer o mal. Ele criou homens e mulheres com a capacidade de escolher, sabendo que poderiam amar ou odiar, agradar ou desprezar, obedecer ou se rebelar.
Decidimos então pecar: “Porque todos pecaram e destruídos estão da glória de Deus” (Romanos 3:23). Quando cedemos à nossa própria vontade ao invés de obedecer a vontade de Deus, pecamos. João disse: “...o pecado é iniquidade” (1 João 3:4). Quando desobedecemos a palavra de Deus, pecamos. Esta desobediência pode ser, também, por omissão de coisas que Deus pede (Tiago 4:17).
Paulo descreveu a vida egoísta e errada que vivemos anteriormente:
“E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência. Entre os quais todos também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também” (Efésios 2:1-3).
Com este entendimento do problema do pecado, a questão de voltar para Deus é de grande importância a todos nós.
Apesar do nosso pecado, Deus ainda quer uma relação especial de comunhão conosco. A mensagem das Escrituras – de Gênesis ao Apocalipse – é uma história do desejo de Deus de restabelecer este relacionamento com os homens. Isaías escreveu no VIII século a.C., chamando o povo de Judá ao arrependimento:
“Buscai ao SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao SENHOR, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar” (Isaías 55:6,7).
O apóstolo Pedro explicou que Deus ainda não trouxe o Juízo final porque “ele é longânimo para convosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se” (2 Pedro 3:9).
A vinda de Jesus ao mundo é a maior prova deste desejo de Deus de estar perto dos homens que ele criou. “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16).
Jesus mostrou o mesmo sentimento de compaixão quando, no final de sua vida na terra, olhou para os judeus rebeldes e disse: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e tu não quiseste!” (Mateus 23:37). Todos nós desviamos. Deus nos quer de volta. Nós precisamos da misericórdia dele.
Como voltar para Deus?
O exemplo de Davi e suas palavras de arrependimento no Salmo 51 mostram as atitudes necessárias para voltar ao Senhor. Davi, um homem que amava a Deus, caiu no pecado. Cometeu adultério com uma vizinha e causou a morte do marido dela para poder ficar com ela. Foram pecados gravíssimos, e Davi chegou a ver o estrago na sua vida por causa da sua desobediência ao Senhor. Neste salmo, ele expressa o seu desejo ardente de restaurar a comunhão com Deus.
Vamos observar alguns pontos importantes nas suas palavras. Para voltar para Deus, é necessário:
Querer estar bem com o Senhor. A coisa mais assustadora no pensamento de Davi foi a real possibilidade de ficar longe de Deus – até afastado do Senhor para sempre. Ele disse para Deus: “Não me lances fora da tua presença, e nem retires de mim o teu Espírito Santo. Torna a dar-me a alegria da tua salvação, e sustém-me com um espírito voluntário” (11,12).
Reconhecer o nosso problema do pecado. Numa sociedade em que a maldade é explicada e justificada de diversas maneiras sociológicas e psicológicas, é fácil esquecer que o pecado é a transgressão da vontade de Deus (1 João 3:4) que cria uma barreira entre Deus e os pecadores (Isaías 59:1,2). A pessoa que quer voltar para Deus precisa identificar o problema de pecado na sua vida. Davi escreveu: “Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim” (3).
Assumir responsabilidade pelo nosso pecado. Não é suficiente reconhecer que o pecado nos afasta de Deus. É necessário assumir responsabilidade pessoal pelos pecados que temos cometido. Diferente de crianças que apontam os dedos para jogar a culpa nos outros, precisamos agir como adultos e assumir a responsabilidade pelas nossas próprias transgressões. Embora o pecado de Davi tenha atingido várias outras pessoas (Bate-Seba, Urias, Joabe, a família dele, etc.), Davi entendeu que o principal problema foi a ofensa contra Deus: “Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal à tua vista, para que sejas justificado quando falares, e puro quando julgares” (4). O meu pecado não é culpa da família, da igreja, da sociedade, etc. É culpa minha!
Entender que precisamos de ajuda para resolver o nosso problema. Um certo espírito de independência é bom e necessário em muitos aspectos da vida, mas a pessoa que se acha capaz de vencer o pecado sozinha está perigosamente enganada. Dependemos da graça de Deus manifesta no sacrifício de Jesus para alcançar a salvação. Davi, um dos fiéis que confiava na promessa de um Salvador, disse:
“Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias. Lava-me completamente da minha iniquidade e purifica-me do meu pecado... Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais branco do que a neve. Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que gozem os ossos que quebraste. Esconde a tua face dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniquidades.” (1-2,7-9).
Deus nos ajuda de muitas maneiras – pelo sangue de Jesus, pela intercessão do Espírito Santo, pelo encorajamento de cristãos fiéis, pela instrução da palavra, etc. Precisamos da ajuda dele para voltar ao Senhor. [hissopo - Planta usada na cerimônia ritual de purificação. Seus galhos felpudos eram imersos no sangue sacrifical, que, em seguida, era aplicado ou aspergido sobre o objeto ou pessoa a ser purificada (Êxodo 12:22), simbolizando com isso a purificação espiritual do pecado.]
Confrontar e mudar o nosso coração. Talvez o maior obstáculo no caminho à reconciliação seja o próprio coração. Depois de anos de egoísmo e da busca carnal de prazer, é difícil desejar as coisas boas e puras que Deus deseja. Davi percebeu esta necessidade: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova em mim um espírito reto” (10). A decisão de voltar e o desejo de estar em comunhão com Deus nos motivam a purificar os nossos pensamentos para deixar o Senhor dominar as nossas vidas. Jeremias desafiou o povo rebelde de Jerusalém com estas palavras: “Lava o teu coração da malícia, ó Jerusalém, para que sejas salva; até quando permanecerão no meio de ti os pensamentos da tua iniquidade?” (Jeremias 4:14). Paulo salientou a importância de um coração espiritual para nos aproximar de Deus:
“Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito. Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz. Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus. Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele. E, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça. E, se o Espírito daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dentre os mortos ressuscitou a Cristo também vivificará os vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita. De maneira que, irmãos, somos devedores, não à carne para viver segundo a carne. Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se, pelo Espírito mortificardes as obras do , vivereis. Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus. Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes em temor, mas recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai” (Romanos 8:5-15).
Decidir e Agir
O grande desafio para nos reconciliar com Deus é o próprio coração. Mas o desejo de estar com Deus nada resolve se não for acompanhado por ação. João Batista disse aos judeus do primeiro século: “Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento” (Mateus 3:8). Tiago diz: “Porque, assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta” (Tiago 2:26).
Para nos reconciliar com Deus, é imprescindível um coração arrependido que deseje, acima de tudo, estar em comunhão com o Senhor. Mas o desejo do coração precisa ser demonstrado. É necessário agir para nos aproximar de Deus.
Levantar e Ir
Quando Jesus enfrentou a autojustiça e falta de compaixão dos fariseus e escribas, ele contou uma série de parábolas sobre perdidos e achados (Lucas 15). Da terceira destas parábolas, geralmente conhecida como a Parábola do Filho Pródigo, aprendemos algumas lições importantes sobre como voltar para a casa do nosso Pai. Nesta história, um filho ingrato pediu a sua herança (enquanto seu pai ainda estava vivo) e saiu de casa. Gastou o seu dinheiro numa vida de libertinagem e logo se encontrou passando fome numa terra estranha (Lucas 15:11-16). Ele chegou ao fundo do poço, e representa a situação de cada um de nós quando nos entregamos ao pecado. Quando abandonamos o Pai que nos criou e que nos ama e usamos os nossos recursos – tempo, dinheiro, energia, a própria vida – no pecado, fazemos a mesma coisa que o filho rebelde fez. Vivemos desperdiçando no pecado as coisas boas que recebemos do Pai. Reconhecendo ou não a nossa condição espiritual, chegamos ao fundo do poço do pecado.
O filho reconheceu o seu problema, e viu que não era necessário sofrer tanto. Ele lembrou da bondade de seu pai: “Então, caindo em si, disse: Quantos trabalhadores de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui morro de fome!” (Lucas 15:17). Antes de voltar para Deus, precisamos chegar ao ponto de compreender que a vida com ele é muito melhor do que a vida no mundo do pecado. Este entendimento pode vir por meio de sofrimento e consequências que o pecado traz na nossa vida, ou pode vir por cansar da futilidade de prazeres que nunca satisfazem as nossas necessidades reais.
Ele decidiu agir em humildade. Uma vez que encarou o seu problema, o filho se arrependeu; ele decidiu mudar. Disse consigo: “Levantar-me-ei, e irei ter com o meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores” (Lucas 15:18,19). Nós precisamos da mesma atitude do arrependimento para chegar ao Senhor.
O filho arrependido agiu, e voltou para o Pai. É importante reconhecer o problema e decidir como agir, mas precisa seguir o plano. Muitas pessoas lamentam sua situação no pecado e até prometem voltar para Deus, mas continuam dia após dia sem fazer nada. O filho rebelde fez o que falou: “E, levantando-se, foi para seu pai. Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou, e, compadecido dele, correndo, o abraçou, e beijou. E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho” (Lucas 15:20,21). Não é fácil nos humilhar para admitir o nosso pecado e nos entregar à misericórdia de Deus. O orgulho humano luta contra este desejo de nos reconciliar com o Pai.
Quando o filho rebelde voltou, ninguém tomou a decisão por ele. Ele não foi induzido ou levado por outros. Este filho tomou a sua própria decisão e se reconciliou com seu pai. Observamos, também, que ninguém impediu a salvação dele. Mesmo o irmão mais velho, que não o aceitou bem, não foi capaz de manter este homem afastado de seu pai. Da mesma forma, a decisão sobre a nossa salvação é nossa. Ninguém nos força a voltarmos para Deus, e ninguém é capaz de impedir a nossa reconciliação com o Pai. Nós decidimos buscar a Deus ou não.
Quem precisa se reconciliar com Deus?
Há duas situações em que precisamos voltar para Deus:
O Pecador que ainda não converteu-se.
Jesus enviou os apóstolos ao mundo para pregar a mensagem da reconciliação. “E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Marcos 16:15). A palavra que eles falaram e escreveram tinha um propósito fundamental: “Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (João 20:31). Para reconciliar-se com Deus, o pecador que ouve a mensagem de Cristo precisa reagir. É necessário:
● Crer em Jesus. “De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam.” (Hebreus 11:6). Jesus disse: “Porque, se não crerdes que EU SOU, morrereis nos vossos pecados” (João 8:24).
● Confessar a fé em Jesus. A fé verdadeira nos leva, naturalmente, à confissão aberta. Paulo escreveu: “Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação” (Romanos 10:10). Jesus disse: “Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus; mas aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus” (Mateus 10:32,33).
● Arrepender-se dos pecados. Foi o pecado que nos afastou de Deus, e o arrependimento do pecado é uma das condições para nos reconciliar com o Senhor. Jesus disse: “Se, porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis” (Lucas 13:3,5). Pedro pregou a mesma mensagem ao povo de Jerusalém: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados” (Atos 3:19).
● Ser batizado para remissão dos pecados. Para chegar à comunhão com o Senhor, precisamos ser batizados. Jesus disse: “Quem crer e for batizado será salvo” (Marcos 16:16). Pedro respondeu a pergunta dos judeus perdidos no Dia de Pentecostes com estas instruções: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo” (Atos 2:38). Três dias depois de encontrar Jesus no caminho para Damasco, Saulo permanecia no pecado e precisava do perdão de Deus. Ananias o instruiu: “Levanta-te, recebe o batismo e lava os teus pecados” (Atos 22:16). O mesmo Saulo (mais conhecido como Paulo) afirmou que o batismo é o sepultamento que precede a nova vida (Romanos 6:3-4). Também disse que é pelo batismo que entramos em Cristo (Gálatas 3:27). O próprio Jesus disse que o batismo nos conduz à comunhão com o Pai, o Filho e o Espírito Santo (Mateus 28:19).
O cristão que se desviou
Uma boa parte do Novo Testamento foi escrita para ajudar os cristãos manterem-se no caminho do Senhor. Não devemos desviar, mas existe o perigo real de cair na tentação e se afastar novamente de Deus. Pedro disse que é pior para o cristão voltar para o pecado do que nunca ter-se convertido (2 Pedro 2:20-22). Tiago disse: “Meus irmãos, se algum entre vós se desviar da verdade, e alguém o converter, sabei que aquele que converte o pecador do seu caminho errado salvará da morte a alma dele e cobrirá multidão de pecados” (Tiago 5:19,20).
E se isso acontecer comigo, o que eu preciso fazer? Preciso ser batizado novamente cada vez que tropeço? Não! Veremos o que as Escrituras dizem, usando o exemplo de um discípulo em Samaria que caiu. Simão creu e foi batizado (Atos 8:13) e, em seguida, caiu no pecado. Juntando as informações do caso dele e alguns outros trechos, aprendemos que:
● O pecado do cristão o condena. Pedro disse que Simão estava no “laço da iniquidade” (Atos 8:23).
● O cristão que peca precisa se arrepender. Pedro lhe disse: “Arrepende-te” (Atos 8:22).
● O discípulo que peca precisa orar e pedir perdão. Pedro disse a Simão: “Roga ao Senhor; talvez te seja perdoado o intento do coração” (Atos 8:22).
● Quando o cristão confessa seus pecados, Deus os perdoa (1 João 1:7 - 2:2).
● Quando temos pecado contra outras pessoas, devemos confessar e pedir perdão a elas (Mateus 18:15-17; Lucas 17:3-4; Tiago 5:16).
Vamos Voltar!
Todos nós pecamos. Deus é misericordioso e quer nos perdoar. Cabe a nós aceitarmos os termos dele para alcançar a bênção da vida eterna na presença do nosso Senhor!
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