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Parábola do lenhador

 


Essa parábola é mais ou menos a seguinte:

Conta-se que numa pequena vila no meio de montanhas existia um experiente lenhador que era tido como o mais produtivo lenhador da região.

Todos ficavam muito impressionados com ele ao perceber como ele, com paciência e perseverança, batia com seu machado nas árvores e empilhava as toras. Todos da comunidade admiravam aquele homem não apenas pelo seu trabalho mas também pela sua sabedoria no trato das coisas da vida.

Certa ocasião, um jovem lenhador recém formado no seminário passava por lá e ouviu falar desse velho lenhador que era tido como alguém excepcional no que fazia. Logo esse jovem procurou desafiar o velho lenhador a um duelo de machado, mas não implicava em risco de morte.

O duelo consistia em ver quem conseguiria, ao longo de um dia inteiro, cortar mais árvores e empilhar mais toras. O velho não demonstrou muito interesse pela coisa contudo, percebendo a empolgação do garoto e não querendo desanimar o jovem, ele aceitou o desafio.

No dia seguinte, no local marcado, lá estavam os dois lenhadores com boa parte da vila assistindo aquela grande competição como testemunha do episódio. De um lado, o jovem e forte lenhador fazia alongamento nos braços, fazia aquecimento e algumas flexões. Do outro lado, o velho lenhador sentado sobre uma tora olhando e passando o dedo no corte do seu machado.

Ao longo do dia o jovem lenhador bateu com o seu machado de forma incansável nas árvores – todas as árvores que ele via na sua frente. Tempos em tempos ele enxugava o suor que escorria pelo rosto e olhava para trás para observar o velho lenhador.

De vez em quando, ele conseguiu enxergar o velho lenhador, porém muitas vezes, ele o via sentado numa tora de costas pro rapaz. Ao que o jovem pensou: “esse velho não vai dar nem pro cheiro”. O dia passou e no final foram verificar as pilhas de toras.

Constatou-se que o velho lenhador havia cortado um volume maior de lenha do que o jovem lenhador. O jovem ficou surpreso, se não decepcionado, e mais do que depressa ele procurou se aproximar daquele velho e contestar o resultado dizendo: “Como pode isso?! Como o senhor pode cortar mais lenhas do que eu se eu percebi: todas as vezes que olhava para trás você estava sentado numa tora?” Você não estava batendo nas árvores!”

E aquele velho lenhador disse: “Pois é meu filho. Todas as vezes que você me viu sentado sobre a tora eu estava descansando, afiando o meu machado e observando as árvores para escolher qual seria mais fácil de cortar”.

E assim aquele velho prevaleceu.

Eu acho que existem alguns paralelos entre a história desse lenhador e a história de pregadores. Eu diria que o sucesso de um lenhador não reside apenas na força, mas também no machado sempre afiado.

Tem muitos pregadores que o problema deles é botar força na coisa, é gritar, é falar mais forte, é usar expressões de impacto. Quando, na verdade, assim como lenhador, o que nos falta muitas vezes é um machado afiado, uma vida lapidada, um estudo das Escrituras mais profundo, um conhecimento da cultura mais sensível.

Ainda, o sucesso de um lenhador não exige apenas o volume de trabalho mas também de um foco claro no que se faz. Aquele velho, enquanto afiava o seu machado, observava as árvores ao seu redor para escolher a próxima.

O trabalho dele era focado: ele tinha uma idéia nítida e clara de qual era o passo. Ele sabia qual era o passo.

Eu diria que muitas vezes os nossos ministérios não nos levam a lugar nenhum porque nem nós mesmos sabemos aonde nós queremos chegar. Nossos ministérios não andam para lugar nenhum porque não sabemos nem para que lado Deus nos mandou. Nós precisamos ter foco.

Em último paralelo, o sucesso de um lenhador é fruto de uma vida de perseverança. Aquele velho lenhador aprendeu a fazer seu trabalho ao longo dos anos. Ele fazia bem porque fazia há muito tempo.

Agora, uma perseverança tendo nas mãos um machado afiado e na mente um foco claro. Entenda uma coisa: envelhecer não é uma opção. Todos nós vamos envelhecer. Você não tem como conter. Você pode ir ao cirurgião plástico, ir mais na academia, tomar um remedinho de gelatina que diz que estica a pele e tentar colocar o tônico capilar na cabelo.

Porém, vai envelhecer – não tem jeito. Contudo, nem todos os que envelhecem, amadurecem. Esse é o meu grande medo: eu não tenho medo nenhum de envelhecer. Eu tenho medo de envelhecer e não me tornar sábio.

 Porque quando uma pessoa envelhece e ela é sábia, ela ainda é útil. Mas, se ela não optou pela sabedoria ao longo da vida ela não serve para mais nada. Envelhecer não é uma opção, mas amadurecer é: afiando o machado da vida e da vocação e lapidando e tornando a nossa mente cada vez mais clara acerca do que Deus quer fazer da nossa vida.

Eu acho que esse paralelo entre lenhadores e pregadores é muito parecido com alguns ensinamentos do apóstolo Paulo ao seu discípulo Timóteo.

Eu queria só lembrar a vocês o seguinte quando Paulo escreve a Timóteo: este havia sido deixado na cidade de Éfeso. Timóteo é um jovem pastor inserido numa nova realidade.

Uma coisa era a pregação na sinagoga – pregação para aqueles que já conheciam todo o contexto vétero testamentário, todos os conceitos judaicos e todos os acontecimentos ao longo da história de Israel. Outra coisa, um pouquinho diferente ou grandemente diferente, era você contar quem era Jesus para quem não conhecia a história de Israel, não conhecia os conceitos judaicos e nunca havia participado da religião de Israel. E é esse o contexto de Timóteo.

Começando a partir do verso 13 do capítulo 4 de Primeira Timóteo que diz: “Até a minha chegada dedique-se à leitura pública das escrituras, a exortação ao ensino. Não negligencie o dom que lhe foi dado por mensagem profética com imposição de mãos de presbíteros. Seja diligente nessas coisas dedique-se inteiramente a elas para que todos vejam o seu progresso. Atente bem para a sua própria vida e para a doutrina perseverando nesses deveres, pois agindo assim você salvar a tanto a si mesmo quanto os que o ouvem.”

Quero dar três conselhos para aqueles que estão sendo desafiados a serem novos pregadores para essa nova realidade.

Em primeiro lugar novos pregadores por uma nova realidade precisam convergir. Precisam aprender a fazer menos para fazer com maior qualidade. Precisam aprender a abrir mão de determinadas coisas que são periféricas para fazer o que é inegociável. Precisam aprender a deixar de se preocupar com aquilo que outros podem fazer para fazerem aquilo que tão somente você deve fazer, tão somente você foi encarregado de fazer.

O apóstolo Paulo nesses dois versículos 13 e 14 fala para Timóteo “até a minha chegada dedique-se” verso 14 “não negligencie o dom que lhe foi dado”. São dois imperativos “dedique-se” e “não negligencie”. Os dois fazem parte do mesmo pacote: um afirmativo e outro negativo. O dedique-se aqui significa concentrar-se em um ponto específico, manter-se focado numa tarefa.

Paulo está desafiando o jovem Timóteo a ter foco no seu ministério, a concentrar-se num ponto específico do seu ministério. Inclusive a palavra, o verbo, dedicar-se aqui era o mesmo verbo usado para você pegar uma embarcação maior em águas mais profundas e trazê-la até o cais, sendo rebocada.

Ou seja, aquele que traz a embarcação até o cais tem um foco específico, não tem que inventar, não tem que levar o navio para passear em lugar nenhum, tem que trazer o navio para o porto. A grande questão que Paulo procura exortar o seu jovem pregador em Éfeso aqui é: ele precisava convergir. Por um lado, dedicando-se. Por outro lado, não negligenciando.

O verbo não negligenciar aqui tem um sentido de usar algo de forma irreverente, usar o ministério da Palavra de Deus de maneira irreverente. E como a gente usa o ministério da palavra de Deus de maneira irreverente?

Por exemplo, subindo num púlpito sem ter se dedicado em oração e estudo sério, nós somos irreverentes. Quando nós gastamos horas assistindo episódios de seriados na televisão e pouquíssimas horas nos debruçando sobre a Bíblia, sobre os livros, tentando entender com profundidade a palavra de Deus. Nós somos irreverentes quando gastamos horas na frente da televisão assistindo jogos de futebol e não nos preparamos para a obra que Deus nos deu.

Ainda, não negligenciar significa deixar de lado por outra paixão. O termo muitas vezes do grego é utilizado para se referir ao homem que deixa sua mulher, troca sua mulher por outra, troca sua paixão por outra.

Quando os pastores, pregadores e plantadores na atualidade estão sendo seduzidos por outras paixões eles se dedicam muito mais a um curso porque virou obsessão ter curso reconhecido pelo MEC. Eles se dedicam intensamente a construírem botes no seu ministério. Eles fazem cursos para terem botes caso seu ministério não dê certo, que eles tenham como sobreviver fora do ministério.

Mas enquanto eles se dedicam intensamente aos botes, os seus navios vão indo de mal a pior. O seu ministério vai afundando porque eles estão deixando a paixão que nós deveríamos ter pela palavra de Deus, pela pregação da palavra de Deus, pela plantação de novas igrejas, pela evangelização de pessoas que não conhecem ainda a salvação em Jesus.

Convergir implica em abrir mão do que é fascinante, interessante e prazeroso. Perceba que não há nada contra o que é fascinante, interessante e prazeroso mas, eu estou querendo dizer que muitas vezes o que é fascinante não é prioritário, o que é interessante não é o que Deus mandou a gente fazer e o que é prazeroso não é o que a gente deve fazer naquele momento.

Deus não tem problema nenhum em termos prazer fazendo algumas coisas em nosso momento de lazer ou se divertir com a família. No entanto, o grande problema é que muitas vezes definimos a nossa agenda não pelo que Deus nos mandou fazer. Muitas vezes a gente se deixa seduzir pelo que é fascinante e não pela nossa vocação. Se Deus mandou você plantar uma nova igreja nessa nova realidade, faça isso. Se Deus te chamou para ser pastor revitalizador de igrejas no Brasil, faça isso com paixão. Se Deus te chamou pra pregar nessa nova realidade, dedique-se intensamente a isso e faça disso avenida central da sua vida.

Comece a tirar da sua agenda tudo quando te atrapalha na sua caminhada. Comece a retirar da sua agenda tudo quanto é desvio de rota mas que não te leva ao crescimento. Comece a tirar da sua agenda tudo quanto te consome mais e não constrói na sua vida.

O que é essencial para o apóstolo Paulo? A leitura pública da Escritura, a exortação – que é a aplicação da escritura ao coração, o ensino – que é a aplicação da escritura à mente.

Através da pregação nós somos usados por Deus para semear na mente das pessoas ensinamentos e semear no coração das pessoas desejo por mudança. O grande problema, que eu vejo é que nós vamos para um seminário e somos formados a nos comunicar no máximo com a mente das pessoas, mas nós não falamos ao coração das pessoas. As pessoas percebem quando você está pregando conceitos que ainda não transformaram a sua própria vida. As pessoas percebem quando você está pregando conceitos que nem você mesmo acredita.

O capítulo 4 verso 15 diz que nós precisamos como novos pregadores para uma nova realidade progredir. Diz o texto “seja diligente nessas coisas, dedica-se inteiramente a elas para que todos vejam o seu progresso.” E aqui eu vou entrar numa área altamente escorregadia que talvez vai levantar muito preconceito, mas porque nós herdamos uma tradição pietista que tem grande dificuldade com o progresso.

Quantas vezes eu num estudo bíblico ou numa pregação coloco a palavra sucesso eu já vejo aquele irmãozinho piedoso levantando a mão dizendo que “não seria melhor nós trocarmos a palavra sucesso por fidelidade, porque o que é sucesso no ministério?”

Por que a gente tem medo de progredir? Por que a gente acha que Deus não quer que a gente progrida? Por que a gente acha que Deus não quer que nós sejamos hoje melhores pregadores do que nós éramos um ano atrás, do que nós éramos cinco anos atrás, do que nós éramos dez anos atrás? Por que nós achamos que Deus não quer que nós sejamos reconhecidamente melhores pastores hoje do que nós éramos há dez anos atrás?

Por que o texto bíblico diz que nós devemos progredir e, mais, que todos vejam o nosso progresso, que todos observem que a nossa dedicação ao ministério da Palavra tem feito com que a gente cresça na pregação da palavra?

Hoje eu percebo claramente que a igreja acha que eu fui usado por Deus para fazê-la crescer, mas a igreja foi usada por Deus para me fazer crescer. O desafio de ser relevante, de ser íntegro para com a Palavra, a busca da excelência na pregação da Palavra, fez com que gradativamente eu aprendesse novas coisas.

Seja diligente, reflita sobre a sua vida, reflita sobre o seu ministério e faça planos como você vai crescer, como você vai se desenvolver, o que você vai se dedicar esse ano e o que você não vai se dedicar a partir de hoje.

É impressionante que você pregador, você pastor, você plantador, quando começa a trabalhar com excelência na sua vida, começa a trabalhar com excelência no seu ministério, começa a trabalhar com excelência na sua pregação, você vai contagiando pessoas da sua comunidade e os crentes na sua comunidade começam a trabalhar da mesma forma na cidade. Um médico da sua igreja começa a se destacar no posto da prefeitura porque ele é o melhor médico daquele posto. O policial da sua igreja começa a se destacar porque ele trabalha com excelência em determinada região. O empresário da sua igreja começa a se destacar porque ele trabalha com excelência lá.

Porque ele aprende que excelência é algo que nós devemos a Deus e Deus deseja nossa excelência. Perceba que o texto diz “atente bem na sua própria vida para a doutrina perseverando”. O verbo “atente” é mais um imperativo do texto que significa: zelar ou cuidar detalhadamente. Zelar e cuidar detalhadamente do quê?

Interessante que a primeira característica que vem não é cuidar do ministério, cuidar da administração ou da palavra, mas é cuidar da própria vida, é cuidar do caráter, é cuidar daquilo que nós somos quando ninguém está olhando.

O que isso tem a ver com o lenhador? Ter um ministério aprovado implica perceber que você não constrói um ministério aprovado em alguns meses, você não constrói o ministério significativo em algumas semanas.

Você vai precisar de anos de dedicação, de anos de perseverança. O ministério significativo e relevante leva tempo. Se você olhar para fora, os homens que nós conhecemos e identificamos como pastores com o ministério relevante são homens que dedicaram anos a uma mesma igreja.

Um casamento sadio se constrói ao longo dos anos. Passa por momentos de grandes paixões e momentos que parece que a paixão se esvaiu. Mas a aliança nos leva a perseverança e ministérios aprovados implicam em perseverança.

Concluo com o final do texto, que diz “agindo assim você salva tanto a si mesmo quanto aos que o ouvem.” Assim como?! Convergindo, identificando o que Deus mandou você fazer e se concentrando nisso, progredindo, crescendo como pregador com uma agenda clara do que você precisa fazer para ser um novo pregador para uma nova realidade e perseverando porque lutas virão.

Não existe ministério aprovado que é construído sem lutas, não existe ministério aprovado construído em semanas… vai levar tempo.

Comece agora mesmo, seja fiel e a recompensa virá sobre sua vida, família e ministério.

Do site ctpi.org.br, por Ricardo Agreste

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