Por causa da inscrição enigmática que o evangelista João viu na testa da mulher “A Grande Babilônia”, o imaginário popular amalgamou a visão da meretriz com a exuberância da antiga cidade dos Caldeus.
A inscrição ‘A Grande Babilônia’ na testa da meretriz não diz do reino de Hamurábi, rei da babilônia, que reinou entre os anos de 1728 a 1686 a.C., que dominou desde a Assíria, na Alta Mesopotâmia, até a Caldeia, no sul, fundando o primeiro Império Babilônico.
A inscrição também não se
refere ao Império Neobabilônico, mais grandioso que o de Hamurábi, e que surgiu
mil anos depois, tendo Nabucodonosor (604 a.C. – 561 a.C.), por rei, o segundo
Império Babilônico que durou até 539 a.C. quando foi conquistado pelo rei persa
Ciro I.
A inscrição na testa da
meretriz é um nome simbólico que representa a origem (mãe) das prostituições e
abominações da terra.
Para entender a natureza da inscrição na testa da meretriz
faz-se necessário lembrar que Deus ordenou aos filhos de Jacó que os sacerdotes
deveriam confeccionar uma lamina de ouro puro com uma inscrição (selo) nela com
os dizeres: “Santidade
ao Senhor”, e atá-la na testa com uma fita azul ( Ex 28:13 ).
Os sacerdotes deveriam estar com a lamina de ouro na testa continuamente, e os filhos de Jacó deveriam continuamente instruir os seus filhos, pois ensinar continuamente a lei do Senhor era um sinal na mão e frontais entre os olhos do povo “E a mitra porás sobre a sua cabeça; a coroa da santidade porás sobre a mitra” ( Êx 29:6; Dt 6:7 ).
Desde que saiu do Egito até alcançarem a terra da possessão, Israel era guiado por Deus. Mas, quando na terra da promessa os filhos de Israel pediram um rei, com o intuito de imitarem as nações em redor, rejeitaram ao senhor “E disse o senhor a Samuel: ouve a voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não te têm rejeitado a ti, antes a mim me têm rejeitado, para eu não reinar sobre eles” ( 1Sm 8:7 ). Neste evento a nação inteira rejeitou o Guia que os trouxe ao descanso.
Daí a acusação que consta no Livro dos Provérbios contra a mulher (adultera): “… que deixa o guia da sua mocidade e se esquece da aliança do seu Deus” ( Pv 2:17 ).
A lâmina posta na testa dos sacerdotes indicava quem era o guia do povo de Israel. O povo de Israel era separado dos outros povos como possessão peculiar de Deus. Mas, cada membro da nação deveria ter a lei do Senhor como frontais, pois esta era a lâmina verdadeira, enquanto a posta sobre os sacerdotes símbolo.
Lembrar da lei continuamente era um meio de ‘escrever’ a lei nas tábuas do coração dos filhos de “Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti” ( Sl 119:11; Dt 6:7 ).
Quando formam introduzidos na terra prometida, Deus alertou o povo que estavam tendo a regalia de entrarem para habitar grandes e boas cidades que não haviam construído, casas mobiliadas e poços que não haviam cavado ( Dt 13:10). Mas, quando comessem e se fartassem das vinhas e dos olivais que não haviam plantado, não deviam esquecer do Deus de Israel, seguindo outros deuses dos povos que houvesse ao redor ( Dt 13:11,12 e 14 ).
No mês de Abide deveriam festejarem por sete dias comendo pães ázimos e anunciar aos seus descendentes tudo o que Deus fizera quando os retirou com mão forte do Egito ( Ex 13:4- 8). A festa dos pães ázimos seria por sinal e um modo de os filhos de Jacó não se esquecerem de anunciar a lei ( Ex 13:9 ).
Os filhos de Jacó não podiam esquecer que Deus é um Deus zeloso, e que se deixassem o Deus da sua mocidade, a ira do Senhor seria derramada contra eles, as cidades seriam destruídas e dispersos.
A cidade de Israel era plena de retidão, visto que Deus deu estatutos que a tornava separada (santidade), propriedade peculiar do Senhor ( Ex 19:5; Is 1:21 ), mas como rejeitaram os estatutos e a aliança, bem como as advertências de Deus e seguiram a vaidade dos seus corações e os deuses das nações que estavam ao redor ( 2Re 17:15; Dt 11:16 ), a cidade tornou-se infiel, pérfida.
A inscrição ‘Santidade ao Senhor’ foi substituída quando a cidade se tornou infiel, pois os seus habitantes seguiram após os deuses das cidades vizinhas “Com deuses estranhos o provocaram a zelos; com abominações o irritaram” ( Dt 32:16 ).
Esqueceram-se da Rocha que os formou, ou seja, lançaram fora os ‘frontais ‘que continuamente deveriam estar entre os olhos ( Dt 11:18 ), de modo que tudo o que faziam não passava de abominações “Quem mata um boi é como o que tira a vida a um homem; quem sacrifica um cordeiro é como o que degola um cão; quem oferece uma oblação é como o que oferece sangue de porco; quem queima incenso em memorial é como o que bendiz a um ídolo; também estes escolhem os seus próprios caminhos, e a sua alma se deleita nas suas abominações” ( Is 66:3 ).
O nome gravado na testa da mulher embriaga demanda interpretação por causa do aviso ‘mistério’. Assim como a visão é um enigma a inscrição na testa da mulher deve ser interpretada, ou seja, não deve ser tomada literalmente.
Por que Babilônia?
Por causa da narrativa de Gênesis 11, verso 9, para os judeus ‘Babel’, ou a forma grega ‘Babilônia’, significa ‘confusão’. O nome ‘Babel’, em hebraico ‘Bavél’, raiz do verbo ba.lál, significa confundir, corresponde a forma grega do nome ‘Babilônia’, do Acadiano Bãb-ilu, que significa ‘Portão de Deus’.
Se os habitantes da cidade houvessem guardado as ordenanças de
Deus, a inscrição seria uma coroa de glória demonstrando que a cidade é uma
propriedade peculiar de Deus e que Deus era o seu guia, mas como ‘escolheram
seus próprios caminhos e se deleitaram em suas abominações’, a inscrição remete
a uma grande confusão que os levará a destruição “Porque os guias deste povo são
enganadores, e os que por eles são guiados são destruídos” ( Is 9:16; Jr 2:2
e 17).
Como não colocaram como frontais entre os olhos a palavra do
Senhor, veio sobre eles o que estava previsto: a confusão “Deitemo-nos em nossa vergonha;
e cubra-nos a nossa confusão, porque pecamos contra o SENHOR nosso Deus, nós e
nossos pais, desde a nossa mocidade até o dia de hoje; e não demos ouvidos à
voz do SENHOR nosso Deus” ( Jr 3:25 ); “A ti, ó Senhor, pertence a justiça, mas a nós a confusão de
rosto, como hoje se vê; aos homens de Judá, e aos moradores de Jerusalém, e a
todo o Israel, aos de perto e aos de longe, em todas as terras por onde os tens
lançado, por causa das suas rebeliões que cometeram contra ti” ( Dn 9:7 ).
A inscrição ‘Babilônia’ tem relação com a ira divina, que fará
com que os habitantes da grande cidade sejam dispersos pela ‘confusão de
rosto’, pois o fim da meretriz que se assenta sobre a besta é ser devorada pela
besta e os dez chifres ( Ap 17:16 ).
A primeira Babilônia, Babel, foi destruída pela intervenção
divina com a confusão da língua dos seus habitantes, e a grande cidade será
destruída porque Deus será contra ela com maldição, portanto, haverá confusão e
derrota até que a grande cidade seja destruída repentinamente “O SENHOR mandará sobre ti a
maldição; a confusão e a derrota em tudo em que puseres a mão para fazer; até
que sejas destruído, e até que repentinamente pereças, por causa da maldade das
tuas obras, pelas quais me deixaste” ( Dt 28:20; Gn 11:7 ).
A confusão de rosto do povo de Israel foi predita por Moisés,
bem como a destruição de tudo quanto os habitantes da grande cidade fizeram.
Esdras apontou as iniquidades do seu povo como responsável pelo
cativeiro e pela confusão de rosto quando confessou: “E disse: Meu Deus! Estou
confuso e envergonhado, para levantar a ti a minha face, meu Deus; porque as
nossas iniquidades se multiplicaram sobre a nossa cabeça, e a nossa culpa tem
crescido até aos céus. Desde os dias de nossos pais até ao dia de hoje estamos
em grande culpa, e por causa das nossas iniquidades somos entregues, nós e
nossos reis e os nossos sacerdotes, na mão dos reis das terras, à espada, ao
cativeiro, e ao roubo, e à confusão do rosto, como hoje se vê” ( Ed 9:6-7; Jr
3:25; Dn 9:7-8).
O que esperar diante da provocação dos moradores da grande
cidade? O dia da punição, que é a confusão de rosto, e com a confusão vem a
espada, fome e dispersão “Acaso é a mim que eles provocam à ira? diz o SENHOR, e não a si
mesmos, para confusão dos seus rostos?” ( Jr 7:19 ); “O melhor deles é como um
espinho; o mais reto é pior do que a sebe de espinhos; veio o dia dos teus
vigias, veio o dia da tua punição; agora será a sua confusão” ( Mq 7:4 ).
A mãe das prostituições
A acusação de abominações e adultérios que recai sobre a grande
cidade é porque entre ela e Deus havia um vínculo, uma aliança de casamento.
Abominações e adultérios são acusações que sempre foram direcionadas a cidade
de Jerusalém: “Já vi as tuas abominações, e os teus adultérios, e os teus
rinchos, e a enormidade da tua prostituição sobre os outeiros no campo; ai de
ti, Jerusalém! Até quando ainda não te purificarás?” ( Jr 13:27 ); “Filho do homem, faze
conhecer a Jerusalém as suas abominações” ( Ez 16:2 ). Seria um contrassenso
Deus falar contra a Babilônia dos caldeus denunciando-os por abominações e
adultérios, uma vez que Deus nunca estabeleceu aliança com os caldeus.
Não há registro nas Escrituras de que a Babilônia dos caldeus
tenha matado os santos e as testemunhas de Jesus, mas dos filhos de Jacó há a
acusação de Neemias: “Porém se obstinaram, e se rebelaram contra ti, e lançaram a tua lei para trás das suas costas, e mataram os teus profetas,
que protestavam contra eles, para que voltassem para ti; assim
fizeram grandes abominações“ ( Ne 9:26 ); “Jerusalém, Jerusalém,
que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! Quantas
vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha os seus pintos debaixo das
asas, e não quiseste?” ( Lc 13:34; Mt 21:33-46).
A Babilônia do Apocalipse não é a cidade do Vaticano, como
muitos afirmam. Não podemos nos apoiar em fontes extra bíblicas para afirmar
que o Vaticano é a meretriz, como os “Os
Oráculos de Sibélio” (5, 159F), ou o “Apocalipse
de Baruque” ( ii, 1) e o “4
Esdras” (3:1). Não podemos nos apoiar no que diz uma
enciclopédia para afirmar que Roma é a grande cidade.
“É dentro da cidade de Roma,
chamada a cidade das sete colinas, que a área completa do Vaticano está agora
confinada” Enciclopédia Católica.
Relacionar o nome ‘mistério’ com a doutrina católica da
transubstanciação expressa por “Mysterium Fide” é temerário, assim como
apoiar-se em escritos católicos de que Roma é uma cidade construída sobre sete
colinas. Quando a Bíblia afirma que a meretriz se assenta sobre a besta, isto
significa que ela está apoiada em sete montes, ou seja, em sete reinos, e não sobre
colinas.
A Grande cidade
A cidade é nomeada grande em função da extensão do domínio que a nação de Israel possuirá quando se assentar sobre a
besta (sete montes), domínio este que florescerá na primeira metade da última
semana prevista por Daniel, pois exercerá domínio sobre muitas águas (povos,
línguas e nações).
Enquanto a Babilônia dos caldeus era cruzada por muitos canais,
portanto, construída sobre as muitas águas ( Jr 51:13 ), a ‘Grande Babilônia’
do Apocalipse tem por base as muitas águas, ou seja, povos, línguas e nações (
Ap 17:1 e 15).
A cidade é tida como ‘A Grande’ por exercer domínio sobre povos,
nações e línguas, assim como a Babilônia do rei Nabucodonosor dominou os reinos
da antiguidade: “Ó rei! Deus, o Altíssimo, deu a Nabucodonosor, teu pai, o reino,
e a grandeza, e a glória, e a majestade. E por causa da grandeza, que lhe deu,
todos os povos, nações e línguas tremiam e temiam diante dele; a quem queria
matava, e a quem queria conservava em vida; e a quem queria engrandecia, e a
quem queria abatia” ( Dn 5:18 -19; Ap 18:15 ).
“Mistério, Babilônia” não se refere aos Estados Unidos, como
alguns sugerem, ou a qualquer outro país, pois a Bíblia aponta para uma cidade
e não para um país.
Há quem negue que Jerusalém seja a grande cidade porque ela não
é construída sobre sete colinas, porém, as colinas que a Bíblia faz referência
diz de sete reis com os seus respectivos reinos, e não de montanhas de terra (
Ap 17:9 -10 ).
Fonte: Estudos Bíblicos Teológicos Evangélicos
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