A pergunta acerca das pessoas que nunca ouviram o evangelho invariavelmente questionará o juízo e a justiça de Deus.
Essa questão é formulada de diversas formas: Os aborígenes de tribos isoladas serão salvos? Os índios que nunca ouviram o evangelho serão salvos? Quem nasceu antes de Jesus vir ao mundo será salvo?
As respostas são inúmeras, e geralmente, produto de especulações. Na sua grande maioria são respostas sem um fundamento exclusivamente bíblico, outras, se arriscam citar algumas passagens das Escrituras, mas não explicam o significado.
Como não há nas Escrituras nenhum versículo falando abertamente o que sucederá àqueles que não ouviram a verdade do evangelho, temos que depreender a resposta para essa questão através de texto que falam da salvação em Cristo.
Já está condenado
Quando conversou com Nicodemos, um mestre e juiz em Israel, Jesus ensinou que quem crê no Filho de Deus enviado ao mundo não é condenado, mas quem não crê já está condenado (João 3:18).
Por que é necessário destacar essa verdade? Porque geralmente a questão: ‘Será salvo quem não ouviu o evangelho?’, independentemente de ser ‘sim’ ou ‘não’ a resposta, trará questionamentos acerca da justiça de Deus.
Quem não crê em Cristo está sob condenação, verdade que o apóstolo Paulo evidenciou ao dizer que o juízo já veio sobre todos os homens para condenação (Romanos 5:18).
Quando, onde e como os homens foram julgados e condenados? No início dos tempos, lá no Éden, quando Adão desobedeceu a Deus e comeu do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Em função da desobediência de um só homem que pecou, muitos homens foram feitos pecadores (Romanos 5:19).
Lá no Éden, no momento em que Adão comeu do fruto da árvore do conhecimento, ele foi julgado e apenado com a morte, ou seja, separação de Deus, sem comunhão. Como a pena imposta a Adão pela ofensa passou a todos os seus descendentes, é dito que todos pecaram, ou seja, estão impróprios para o propósito de Deus.
Considerando negativamente, isto significa que os homens não se tornam pecadores, ou aprendem a pecar ao longo da vida. Ser pecador não é uma questão de comportamento, caráter ou consciência. Saber ou não da condição de pecador não influencia essa condição que o homem herdada de berço.
Considerando positivamente, os homens são criados (feitos) pecadores quando nascem. Embora uma criança não tenha feito bem ou mal, nem mesmo tenha consciência de sua existência, do ponto de vista da consciência é inocente (simples), entretanto pesa sobre o infante uma condenação decorrente da ofensa do pai da humanidade.
Neste ponto se faz necessário ilustrar a condição do homem sob domínio do pecado, que se impõe a todos os descendentes de Adão por força da lei ‘certamente morrerás’ e que subjuga (aguilhão) o homem através da morte.
“Ora, o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei.” (1 Coríntios 15:56).
A primeira ilustração é a escravidão. A escravidão é prática social antiga em que um homem adquiria direito legal de propriedade sobre outro homem, direito esse decorrente de compra, espólio de guerra, dívida, nascimento, etc.
Adão antes de ofender a Deus era livre, ou seja, gozava de comunhão com o Criador. Após a ofensa, perdeu a liberdade que possuía com o Criador e passou à condição de servo do pecado, pois com a ofensa vendeu-se como escravo (Romanos 7:14).
Semelhantemente aos senhores que detinham direito pleno sobre os seus escravos, a prole dos escravos também eram propriedade dos senhores de escravos, portanto, igualmente escravos como seus pais. Essa condição imposta aos infantes nascidos escravos não decorria de questões morais, caráter, consciência, etc., mesmo eles sendo inocentes no quesito consciência: não sabiam discernir entre bem e mal, e nem lhes era perguntado se queriam ou não ser escravos.
Outra ilustração decorre das plantas. As plantas nascem de uma semente, quer sejam ervas daninha ou árvores frutíferas. Se uma árvore é boa, isto significa que a semente também o é. E se uma árvore é má, igualmente significa que a semente é má. A árvore ser boa ou má não decorre de questões como caráter, moral ou consciência.
Semelhantemente a Bíblia compara os homens a ervas, plantas e árvores, todos nascidos de uma semente corruptível, a semente de Adão. São denominados maus não em vista do caráter, moral ou consciência, mas da condição imposta pela natureza da semente: má.
É por isso que Jesus chamou os fariseus de maus, mesmo eles parecendo justos aos olhos dos homens:
“Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem?” (Mateus 7:11).
Por que eram maus, mesmo sabendo dar boas dádivas aos seus semelhantes? Porque eram plantas que Deus não plantou.
“Ele, porém, respondendo, disse: Toda a planta, que meu Pai celestial não plantou, será arrancada.” (Mateus 15:13).
É pelas razões acima que todos os homens sem Cristo são descritos como já condenados.
Entretanto, Jesus foi enviado por Deus para salvar os homens, e não condena-los. Seria sem propósito Deus enviar o Cristo para condenar os homens se todos já estão condenados em função da ofensa de Adão.
Dois caminhos e dois destinos
Certa feita Jesus se apresou aos seus discípulos como a porta, o caminho e a vida, e fez uma ressalva: ‘Ninguém vem ao Pai, senão por mim.’ (João 14:6).
Nesta asserção temos dois pontos a destacar:
- Cristo é o único caminho pelo qual o homem tem acesso a Deus. Não há outro nome pelo qual os homens possam ser salvos (Atos 4:12). Por isso o alerta: estrai pela porta estreita! Jesus é o caminho estreito cujo destino é a vida, portanto, é imprescindível ao homem entrar por Cristo? Como se entra por Cristo? Nascendo de novo! Sem nascer de novo é impossível entrar no reino dos céus, portanto, o novo nascimento é o modo pelo qual o homem entra por Cristo;
- Ninguém pode se achegar a Deus, senão por intermédio de Cristo. O pronome indefinido ‘ninguém’ não comporta exceção, portanto, o termo não deixa brecha para suposições e ilações.
- Observe que Cristo é o caminho cujo destino é Deus, portanto, é o caminho que possui um destino estabelecido antes da fundação do mundo, e não os homens, o que afasta qualquer concepção fatalista ou determinista.
Por ser a porta estreita, o apóstolo Paulo faz referência a Cristo como o último Adão, de modo que a porta larga, necessariamente, só pode ser o primeiro Adão.
Adão é a porta larga pela qual todos os homens vêm ao mundo (exceto o Cristo), e por acessarem o mundo através da madre, estão em um caminho largo que tem por destino a perdição.
Para entrar por Cristo, primeiro o homem natural tem que morrer com Cristo e ser sepultado, e, somente então, é criado de novo por Deus em verdadeira justiça e santidade, participante da natureza divina, livre da condenação em Adão.
Argumentos humanos
Adão transgrediu e foi condenado à morte, e a consequência da ofensa dele, por sua vez, passou a todos os homens, por isso é dito que todos pecaram (Romanos 5:12). Se Deus não providenciasse salvação poderosa aos homens, ao enviar o seu Filho Unigênito, não haveria injustiça da parte de Deus no fato de Adão e os seus descendentes permanecerem na perdição para sempre.
Se assim fosse, a condição da humanidade se assemelharia a dos seres angelicais caídos, que não tiveram oportunidade de redenção. Toda a fração de anjos caídos está para sempre perdidos, e não há injustiça em Deus em não proporcioná-los salvação.
Alguém pode argumentar: sim, isto porque os anjos possuíam conhecimento pleno de Deus, e por isso não foram perdoados, e Adão, por não possuir todo conhecimento, foi alcançado pela misericórdia de Deus.
Neste ponto se faz necessário algumas observações:
- Os serem angelicais não possuía todo conhecimento acerca de Deus e do seu propósito, visto que, na igreja é que se revelou a multiforme sabedoria de Deus e jamais um ser finito pode conhecer Aquele que é infinito (Efésios 3:10);
- Lúcifer é descrito através de uma profecia direcionada ao príncipe de Tiro como ‘mais sábio que Daniel’, e que ‘não há segredo que se possa esconder’ dele (Ezequiel 28:3), o que não é o mesmo que ter todo o conhecimento acerca de Deus;
- Pela falta de conhecimento de que o propósito eterno de Deus tem por alvo a Si mesmo (Efésios 3:11), Lúcifer vislumbrou o segredo que Deus colocou no Jardim do Éden, e imaginou em seu coração que se alcançasse a semelhança do Altíssimo, alçaria posição acima das Estrelas (seres angelicais) de Deus (Isaías 14:13 -14), estimando a si mesmo em seu coração como se fora Deus (Ezequiel 28:6), o que indica que os seres angelicais não tinham pleno conhecimento acerca do propósito de Deus, portanto, em condição análoga aos homens no quesito conhecimento, saber.
Em razão das considerações acima, pleno conhecimento por parte das criaturas condenadas não é o que qualifica Deus como justo, antes em essência Deus é justo em todos os seus julgamentos e decisões.
Os seres angelicais possuíam conhecimento suficiente para confiarem em Deus pela sua fidelidade e imutabilidade, e Adão, semelhantemente, não era inocente, pois possuía conhecimento suficiente para confiar na fidelidade de Deus, quando lhe foi dito:
“De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” (Gênesis 2:16).
Apesar da queda do homem, em razão do propósito eterno que Deus estabeleceu em Si mesmo na pessoa de Cristo (Efésios 1:9 e 3:10 -11), por sua misericórdia e graça, Deus proveu salvação poderosa quando disse à ‘serpente’:
“E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.” (Gênesis 3:15).
Satanás quando da queda levou consigo terça partes dos seres angelicais (Apocalipse 12:4), mas mesmo a terça parte que foi enganada não foram alvos da misericórdia de Deus, não havendo injustiça da parte de Deus, semelhantemente, um homem pecou (transgrediu um mandamento) e todos os homens pecaram (perderam a comunhão com Deus em razão da separação – morte), e não haveria injustiça da parte de Deus se não fosse demonstrado a sua misericórdia em Cristo.
Todos os homens quando vem ao mundo, por causa da ofensa de Adão, estão sob condenação, por isso é dito:
“Porque assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem. Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo.” (1 Coríntios 15:21,22).
Ao analisarmos a questão da redenção, não podemos nos guiar por inferência, ou pelo que dizemos acreditar. A crença do homem não significa nada se não for com base na verdade das Escrituras.
Se através de Adão veio a morte e todos morreram, e por intermédio de Cristo, o último Adão, veio a ressurreição dos mortos e vivificação, certo é que à parte de Cristo não há salvação.
Deus sendo justo, para justificar o homem gratuitamente, proveu redenção em Cristo. Ao propor propiciação aos homens pela crença em Cristo, Deus concilia o seu atributo imutável de justo com o fato de ter que justificar os ímpios, desde que creiam em Cristo.
“Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus.” (Romanos 3:26).
Deste modo, se é imprescindível a propiciação em Cristo de modo a conciliar o fato de Deus ser justo e justificador, é equivocada a concepção da existência do purgatório, bem como qualquer outra possibilidade de salvação, se não por intermédio de Cristo.
Se Deus sendo justo, só pode ser justificador ao propor redenção em Cristo, não há qualquer suporte bíblico crer que toda pessoa igualmente teve, tem e terá idêntica oportunidade de salvação.
A única forma de o homem demonstrar que crê verdadeiramente em Deus é somente crendo no testemunho que Deus deu acerca de Cristo.
“E por ele credes em Deus, que o ressuscitou dentre os mortos, e lhe deu glória, para que a vossa fé e esperança estivessem em Deus;” (1 Pedro 1:21);
“E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim;” (João 17:20);
“E Jesus clamou, e disse: Quem crê em mim, crê, não em mim, mas naquele que me enviou.” (João 12:44)
Crer em qualquer questão acerca de Deus como existência, natureza, leis, etc., não salva o homem, e sim, crer em um mandamento específico estabelecido por Ele, tendo em vista que Adão pecou quando desobedeceu a um mandamento especifico.
Na Antiga Aliança muitos criam na existência de Deus, outros confiavam que eram salvos por serem descendentes da carne de Abraão, mas somente aqueles que criam que o Descendente prometido a Abraão seria chamado em Isaque é que foram salvos (Romanos 9:7). O restante de Israel pereceu no deserto porque Deus não se agradou da maior parte deles (1 Coríntios 10:5).
Na Nova Aliança o princípio é o mesmo, o que muda é somente a mensagem, pois é necessário crer que Jesus de Nazaré é o Cristo, o Descendente prometido a Abraão.
É por isso que o apóstolo Paulo alerta:
“Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam o evangelho de paz; dos que trazem alegres novas de boas coisas.” (Romanos 10:14 -15).
Má leitura de Romanos 1
Todos os homens comparecerão diante de Deus para serem julgados com relação às obras, e nisto não há acepção de pessoas. Os perdidos serão julgados no Tribunal do Grande Trono Branco (Apocalipse 20:13), os membros do corpo de Cristo galardoados no Tribunal de Cristo (2 Coríntios 5:10).
Ser julgado quanto às obras no Grande Tribunal do Trono Branco não é determinar se alguém será salvo ou não, pois essa questão já foi decidida no Éden, antes serão verificadas as intenções do coração com relação a tudo o que foi realizado por meio do corpo.
Embora grande parte dos homens, exceção aos que não tiveram consciência da própria existência (crianças, doentes mentais, etc.), tiveram contato com a natureza, ouviram acerca da existência de Deus, ou perceberam a existência de Deus, contudo, lhes era impossível se achegar a Deus, pois qualquer entendimento humano acerca das coisas de Deus é pleno de equívocos, pois só é possível ao homem conhecer a Deus quando Ele se revela por meio da sua palavra.
Quando se lê o Salmo 19, em que o salmista afirma que os céus declaram a glória de Deus e os céus anunciam as obras de suas mãos (Salmo 19:1), em tal mensagem não há conteúdo essencial à salvação: um mandamento de Deus! (Salmo 71:3). Entretanto, o mesmo Salmo enfatiza que a lei do Senhor é perfeita, e o seu mandamento puro e ilumina os olhos, de modo que faz o homem compreender os seus erros e protege da soberba (Salmo 119:7 -14).
A grande confusão se instala quando alguns teólogos interpretam o primeiro capítulo da epístola aos Romanos, especificamente após a saudação, congratulações e louvor a Deus pelo evangelho: o poder de Deus para salvação de todo que crê (Romanos 1:1 -17).
O apóstolo destaca que muitas vezes foi impedido de ir a Roma para ter entre eles algum fruto, como tinha obtido entre os gentios (Romanos 1:13). Ele se apresenta como devedor a todos os homens, isto no sentido de todos os povos, tribos, línguas e nações, de modo que queria pregar a bárbaros e gregos, respectivamente, simples e sábios (Romanos 1:14).
Como o anseio do apóstolo dos gentios era anunciar o evangelho a qualquer um, não importando a nacionalidade, língua e povo, daí o ardente desejo de anunciar o evangelho também em Roma (Romanos 1:15).
O motivo é triplo:
- Porque o apóstolo Paulo, que foi perseguidor da igreja de Deus, tinha a necessidade de evidenciar em Roma que não se envergonhava do evangelho de Cristo (Romanos 1:16), e;
- Porque é no evangelho que se descobre a justiça de Deus (Romanos 1:17);
- Porque é revelada ira de Deus sobre toda impiedade e injustiça dos homens que detém em injustiça o que se pode conhecer de Deus, pois Deus manifestou (Romanos 1:18).
O apóstolo Paulo tinha plena certeza do poder do evangelho, por isso não se envergonhava e recomendava aos cristãos que também não se envergonhassem (2 Timóteo 1:8 e 12).
O apóstolo tinha plena certeza que na mensagem do evangelho a justiça de Deus é revelada, mas os judeus, por rejeitarem a Cristo, preferiram a justiça da lei à justiça de Deus (Romanos 10:3).
Os judeus não conheceram a Cristo porque reprimiram a verdade em injustiça, visto que o que se pode conhecer de Deus manifesto foi entre eles (Romanos 1:19; Ef 5:6), pois Deus a eles manifestou: Cristo, a justiça de Deus (João 1:9 -11).
Enquanto para os cristãos Jesus é causa de justificação, para os que não creem é perdição, pois resistem (suprimem) a verdade em injustiça.
“E em nada vos espanteis dos que resistem, o que para eles, na verdade, é indício de perdição, mas para vós de salvação, e isto de Deus.” (Filipenses 1:28);
“Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus.” (Romanos 2:5);
“Mas a indignação e a ira aos que são contenciosos, desobedientes à verdade e obedientes à iniquidade.” (Romanos 2:8).
A ira de Deus sobre os contenciosos é revelada, sabida, conhecida: perdição, mas os judeus, apesar de Cristo, a justiça de Deus ter sido revelada, eram astutos e falsificadores, blasfemavam da verdade, rejeitaram a Pedra Viva, resistiam à verdade e se gloriavam e mentiam contra a verdade.
“Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade.” (II Coríntios 4:2);
“E muitos seguirão as suas dissoluções, pelos quais será blasfemado o caminho da verdade.” (II Pedro 2:2);
“E, chegando-vos para ele, pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa.” (I Pedro 2:4);
“Mas, se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade.” (Tiago 3:14);
“E, como Janes e Jambres resistiram a Moisés, assim também estes resistem à verdade, sendo homens corruptos de entendimento e réprobos quanto à fé.” (II Timóteo 3:8).
Os versos 16, 17, 18 e 20 tem a conjunção γάρ, transliterada ‘gar’, que se traduz por ‘porque’, ‘pois’, ‘visto que’, ‘então’, no início dos versos, introduzindo uma argumentação explicativa que demonstra o motivo da prontidão do apóstolo expressa no verso 15: ir a Roma.
O apóstolo dos gentios demonstra que os judeus são indesculpáveis, visto que os atributos de Deus são facilmente entendidos e percebidos pelas coisas criadas, e conhecendo a Deus, não o glorificaram como Deus e nem renderam graças, antes se fizeram inúteis em seus raciocínios e os seus corações insensatos foram obscurecidos.
Como pode ser isso? O historiador no Livro de segunda Reis assim descreve:
“E o SENHOR advertiu a Israel e a Judá, pelo ministério de todos os profetas e de todos os videntes, dizendo: Convertei-vos de vossos maus caminhos, e guardai os meus mandamentos e os meus estatutos, conforme toda a lei que ordenei a vossos pais e que eu vos enviei pelo ministério de meus servos, os profetas. Porém não deram ouvidos; antes endureceram a sua cerviz, como a cerviz de seus pais, que não creram no SENHOR seu Deus. E rejeitaram os seus estatutos, e a sua aliança que fizera com seus pais, como também as suas advertências, com que protestara contra eles; e seguiram a vaidade, e tornaram-se vãos; como também seguiram as nações, que estavam ao redor deles, das quais o SENHOR lhes tinha ordenado que não as imitassem. E deixaram todos os mandamentos do SENHOR seu Deus, e fizeram imagens de fundição, dois bezerros; e fizeram um ídolo do bosque, e adoraram perante todo o exército do céu, e serviram a Baal.” (2 Reis 17;13 -16).
Os judeus se dizendo sábios, se fizeram loucos, por isso é dito:
“Os sábios são envergonhados, espantados e presos; eis que rejeitaram a palavra do SENHOR; que sabedoria, pois, têm eles?” (Jeremias 8:9);
“Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, E aniquilarei a inteligência dos inteligentes.” (1 Coríntios 1:18,19).
Como loucos, mudaram a glória de Deus, que é incorruptível, e a retrataram em semelhança de homem corruptível, bem como de aves, quadrupedeis e répteis (Romanos 1:22,23)
Em razão da loucura de Israel, Deus, por intermédio do salmista Asafe, protestou dizendo:
“Mas o meu povo não quis ouvir a minha voz, e Israel não me quis. Portanto eu os entreguei aos desejos dos seus corações, e andaram nos seus próprios conselhos.” (Salmo 81:11,12).
O profeta Jeremias descreve o povo de Israel como um bando de adúlteros e aleivosos, pois cada qual zombava do seu próximo quando expunham as suas mentiras, ou seja, não havia honra entre eles (Romanos 1:24).
“Oh! se tivesse no deserto uma estalagem de caminhantes! Então deixaria o meu povo, e me apartaria dele, porque todos eles são adúlteros, um bando de aleivosos. E encurvam a língua como se fosse o seu arco, para a mentira; fortalecem-se na terra, mas não para a verdade; porque avançam de malícia em malícia, e a mim não me conhecem, diz o SENHOR. Guardai-vos cada um do seu próximo, e de irmão nenhum vos fieis; porque todo o irmão não faz mais do que enganar, e todo o próximo anda caluniando. E zombará cada um do seu próximo, e não falam a verdade; ensinam a sua língua a falar a mentira, andam-se cansando em proceder perversamente.” (Jeremias 9:2-5).
A realidade que o apóstolo Paulo descreve não se trata dos gentios, pois é sem propósito Deus tratar com aqueles que não são seu povo e que não receberam instrução de como proceder assim como os judeus.
Já os Judeus foram instruídos a servir a Deus em verdade e em justiça, mas mudaram a verdade em mentira, e serviram a criatura em lugar do Criador, que é bendito eternamente. (Romanos 1:25), pois tudo o que a lei, os profetas e os Salmos diz, aos que estão debaixo da lei o diz:
“Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus.” (Romanos 3:19).
O apóstolo Paulo enfatiza que os filhos de Israel foram abandonados às paixões infames, fazendo referência às relações estabelecidas como abomináveis na lei, em que homens se relacionam com homem e mulheres com mulheres. Alguém poderia objetar da acusação do apóstolo, mas tais prescrições legais estavam na mesma Escritura que determinava que não se praticasse nenhuma das abominações vetadas:
“E da tua descendência não darás nenhum para fazer passar pelo fogo perante Moloque; e não profanarás o nome de teu Deus. Eu sou o SENHOR. Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é; Nem te deitarás com um animal, para te contaminares com ele; nem a mulher se porá perante um animal, para ajuntar-se com ele; confusão é. Com nenhuma destas coisas vos contamineis; porque com todas estas coisas se contaminaram as nações que eu expulso de diante de vós.” (Levítico 18:21 -24).
Se alguém tropeça em um quesito da lei é culpado de toda a lei (Tiago 2:10), portanto, é inócuo dizer que não incorreu na abominação de se deitar com alguém do mesmo gênero, se profana o nome de Deus fazendo os seus filhos passar pelo fogo.
Como os filhos de Israel abandonaram a Deus, Deus os abandonou às paixões infames (Romanos 1:26), e como não se importaram em ter conhecimento de Deus, foram entregues a um mentalidade reprovável, para fazerem coisas inconvenientes.
O profeta Oseias denuncia os filhos de Israel pela falta de interesse no conhecimento e os descreve como desavergonhados, sem honra (Oseias 4:6 -14).
A má leitura acerca das condutas descritas pelo apóstolo em um primeiro momento parece apontar para os gentios, mas ao compreender as denuncias dos profetas, vê-se que os filhos de Israel eram cheios de:
‘… iniquidade, prostituição, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade; Sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais e às mães; Néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia” (Romanos 1:29-31).
Daí o motivo da lei:
“Sabendo isto, que a lei não é feita para o justo, mas para os injustos e obstinados, para os ímpios e pecadores, para os profanos e irreligiosos, para os parricidas e matricidas, para os homicidas, Para os devassos, para os sodomitas, para os roubadores de homens, para os mentirosos, para os perjuros, e para o que for contrário à sã doutrina,” (1 Timóteo 1:9,10).
Os Judeus conheciam a justiça estabelecida pela lei, pois era digno de morte quem praticasse tais condutas, mas além de praticarem, consentiam com quem as praticavam.
“Quando vês o ladrão, consentes com ele, e tens a tua parte com adúlteros.” (Salmo 50:18).
É comum ouvir no meio evangélico que Deus se revelou na natureza a todos os homens, e utilizam o verso 20 de Romanos 1, porém, o texto protesta contra os filhos de Israel que foram instruídos por Deus a não fazerem imagens de esculturas, e mesmo sendo possível perceber os tributos de Deus pelas coisas criadas, não O horaram, mas se tornaram fúteis e, na loucura de seus corações, se desvaneceram.
Os pecadores
A questão a ser discutida não é se todas as pessoas no planeta ouviram ou não acerca de Deus. Se ouviram ou não, não faz diferença, pois saber da existência de Deus não livra o homem da condenação estabelecida em Adão, pois só através do conhecimento revelado em Cristo é que muitos são justificados (Isaías 53:11).
O conhecimento de Deus que salva é Cristo, pois é Ele que revela Deus ao mundo, e não as coisas que por Deus foram criadas.
Se o homem olhasse para a natureza e reputasse que foi o Filho de Deus o Criador de todas as coisas, por certo seria salvo, pois creria segundo o testemunho que Deus deu acerca do seu Filho:
“Desde a antiguidade fundaste a terra, e os céus são obra das tuas mãos. Eles perecerão, mas tu permanecerás; todos eles se envelhecerão como um vestido; como roupa os mudarás, e ficarão mudados. Porém tu és o mesmo, e os teus anos nunca terão fim” (Salmo 102:25-27; Hebreus 1:10 -12).
“NO princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.” (João 1:1-3).
“A quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo.” (Hebreus 1:2).
O homem que olha para a natureza tem condições de crer que a gloria que os céus declaram refere-se a Cristo? Que o firmamento é obra das mãos do Filho? De certo que não.
“Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos.” (Salmo 19:1).
É em razão desta verdade que é dito no Salmo 53 que ‘… não há ninguém que faça o bem. Deus olhou desde os céus para os filhos dos homens, para ver se havia algum que tivesse entendimento e buscasse a Deus. Desviaram-se todos, e juntamente se fizeram imundos; não há quem faça o bem, não, nem sequer um.’ (Salmo 53:1-3), inclusive os judeus, a quem a lei foi entregue, pois estavam em igual condição a dos gentios: perdidos.
Se os Judeus, sendo informado pela lei acerca de existência de Deus não tinha entendimento (Romanos 10:2), e por mais que iam ao templo, não buscavam a Deus, que se dirá dos gentios?
“E eles vêm a ti, como o povo costumava vir, e se assentam diante de ti, como meu povo, e ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra; pois lisonjeiam com a sua boca, mas o seu coração segue a sua avareza.” (Ezequiel 33:31).
A condição de ímpio se determina na origem, no berço, desde que o homem nasce, e não quando o homem sabe discernir entre o bem e o mal.
“Alienam-se os ímpios desde a madre; andam errados desde que nasceram, falando mentiras.” (Salmo 58:3).
Isto posto, não há diferença se alguém ouviu ou não falar a respeito de Deus, se rejeitou ou não crer na existência de Deus, ou se pode entender os atributos imutável de Deus através do que a natureza revela, se não ouviu acerca do Cristo e não creu, está condenado.
Quando é dito em Deuteronômio que se achará Deus quando buscar de todo coração, esta palavra tinha por alvo exclusivamente os Judeus:
“Então dali buscarás ao SENHOR teu Deus, e o acharás, quando o buscares de todo o teu coração e de toda a tua alma.” (Deuteronômio 4:29).
O versículo não diz que todos os que buscarem, e sim, buscarás ao Senhor teu Deus. Como? Sujeitando-se à sua palavra. Os Judeus buscariam a Deus quando guardassem os mandamentos e estatutos estabelecidos na lei.
“Quando deres ouvidos à voz do SENHOR teu Deus, guardando os seus mandamentos e os seus estatutos, escritos neste livro da lei, quando te converteres ao SENHOR teu Deus com todo o teu coração, e com toda a tua alma.” (Deuteronômio 30:10).
E os gentios à época da lei? Só buscariam a Deus se se tornassem prosélitos, como fizeram Tamar, Raabe, Rute e muitos outros.
Não há como contestar o juízo de Deus estabelecido no Éden, por alguém estar na perdição por nunca ter ouvido acerca do Cristo, ou do Evangelho, pois essa é a essência da graça e misericórdia de Deus, que salva indivíduos que não são merecedores.
Se quem nunca ouviu o evangelho algum dia terá oportunidade de salvação, como pensam os adeptos do purgatório, melhor seria que ninguém ouvisse acerca do evangelho, e assim, teriam entrada nos céus garantida.
A justiça de Deus não está em que cada pessoa tem que ouvir acerca de Jesus e rejeitá-lo para então ser condenado. Na verdade, a pessoa tem que ouvir porque já está condenada.
A essência do juízo de Deus se dá por questões de nascimento, e não por questões de moral, caráter ou comportamento.
Quem é nascido de Adão está sob condenação, sendo classificado como filho da ira e filho da desobediência, nascido da semente corruptível de Adão.
Quem é nascido de Deus, ou seja, da semente incorruptível, que é a palavra de Deus, é designado filho da luz, filho de Deus, justo, santo, reto, etc., condições herdadas de nascimento, e não por questões de moral, comportamento ou caráter.
O que determina se um homem é salvo ou não, se é perdido ou não, é direito ou condenação estabelecida por nascimento. Se nascido de Adão é escravo do pecado, se nascido de Deus é servo da justiça.
O direito de nascença está relacionado à justiça e juízo de Deus, o que é diferente do direito moderno, ou às questões referentes à moral e o comportamento humano, que é próprio às civilizações modernas.
A alegação que muitos teólogos fazem em defesa da justiça de Deus de que toda humanidade pode entender que existe um Deus por causa da criação, mas que estão ou serão condenadas por procurarem ignorar as coisas de Deus, é por demais equivocadas, pois indiretamente pressupõe que é possível ao homem conhecer acerca de Deus à parte da revelação de Deus ao mundo.
Certo é que Deus nunca deixou o homem sem testemunho, pois Eliú, um dos amigos de Jó, bem antes de Abraão, já entendia que era impossível ao homem por si mesmo compreender o que Deus requer, antes que é necessário haver um mediador entre Deus e os homens, um mensageiro, que lhe faça saber o que é justo, de modo que possa confiar (orar) em Deus, que lhe será propício, restaurando-o à sua justiça.
“Se com ele, pois, houver um mensageiro, um intérprete, um entre milhares, para declarar ao homem a sua retidão, Então terá misericórdia dele, e lhe dirá: Livra-o, para que não desça à cova; já achei resgate. Sua carne se reverdecerá mais do que era na mocidade, e tornará aos dias da sua juventude. Deveras orará a Deus, o qual se agradará dele, e verá a sua face com júbilo, e restituirá ao homem a sua justiça. Olhará para os homens, e dirá: Pequei, e perverti o direito, o que de nada me aproveitou. Porém Deus livrou a minha alma de ir para a cova, e a minha vida verá a luz. Eis que tudo isto é obra de Deus, duas e três vezes para com o homem, Para desviar a sua alma da perdição, e o iluminar com a luz dos viventes.” (Jó 33:23-30).
Eliú apresenta um protoevangelho, evidenciando que sem um mensageiro mediador que declare ao homem o que é justo, é impossível ao homem descobrir o que Deus requer do homem.
Em razão disso, mesmo à época de Abraão, Deus tinham sobre a face da terra um sacerdote, Melquisedeque, o que demonstra que Deus nunca deixou de ter alguém sobre a face da terra que declarasse aos seus semelhantes o que é justo (Gênesis 14:18-20).
“Qualquer que nega o Filho, também não tem o Pai; mas aquele que confessa o Filho, tem também o Pai.” (1 João 2:23).
O fato de ser inocente, simples ou nada saber não é o mesmo que ser justo diante de Deus, pois ser justo ou pecador são questões determinadas por nascimento.
Quando se analisar os versos 12 à 16 de Romanos 2, em que o apóstolo Paulo faz referencia aos judeus e aos gentios, certo é que o apóstolo estava sublinhando que não há diferença entre gentios e judeus (Romanos 2:8 -9), visto que estes, apesar de estarem debaixo da lei, eram pecadores e pela lei seriam julgados, e aqueles, mesmo sem lei, igualmente perecerão, de modo que se evidencia que ouvir a lei não justifica ninguém, e sim, cumprir a lei.
Por que não há diferença entre judeus e gentios (Romanos 3:9), se os judeus tem lei? Porque os gentios, apesar de não terem lei, naturalmente praticam as coisas da lei, como: não matam, não roubam, etc., de modo que não tendo a lei de Deus, para si mesmos são lei, o que demonstra que há uma lei em seus corações, e o testemunho da consciência e os pensamentos, que os acusa e os defende.
Essa passagem demonstra que Deus não faz acepção de pessoas, visto que o que importa é a palavra de Deus (espírito), e não a letra da lei, Deus é um só que justifica os da circuncisão e os da incircuncisão (Romanos 2:25 -29).
É certo que Deus é justo e imutável, de modo que não fará injustiça ainda que alguém pereça e nunca ouviu a verdade do evangelho, pois no Éden a humanidade foi julgada e apenada. Também é certo que ninguém pode ser salvo aparte da obra de Cristo, se não Deus deixaria de ser justo ao justificar o ímpio.
Fonte: estudobiblico.org
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