É comum nas casas, empresas, repartições públicas, escolas, etc., encontrarmos uma Bíblia aberta no Salmo 91. Às vezes, pela ação do tempo, a página da Bíblia no Salmo 91 fica empoeirada e amarelada. Também é comum as pessoas pendurarem em suas residências quadros que estampam uma cópia do Salmo 91.
Muitos utilizam o Salmo 91 para rezar, enquanto outros citam trechos do Salmo 91 em suas orações, mas será que compreendem o seu significado? Ainda há aqueles que nem mesmo leram o Salmo 91, mas por recomendação, fazem do Salmo um amuleto.
Desde longa data o Salmo 91 é utilizado como amuleto. Os adeptos das religiões espiritualistas entendem que o Salmo 91 é poderoso e que deve ser utilizado nas horas de necessidades para pedir e agradecer a proteção divina para tudo e todos, mas, a despeito destas concepções místicas, surge a pergunta: como entender e interpretar o Salmo 91?
- AQUELE que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará.
- Direi do SENHOR: Ele é o meu Deus, o meu refúgio, a minha fortaleza, e nele confiarei.
- Porque ele te livrará do laço do passarinheiro, e da peste perniciosa.
- Ele te cobrirá com as suas penas, e debaixo das suas asas te confiarás; a sua verdade será o teu escudo e broquel.
- Não terás medo do terror de noite nem da seta que voa de dia,
- Nem da peste que anda na escuridão, nem da mortandade que assola ao meio-dia.
- Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas não chegará a ti.
- Somente com os teus olhos contemplarás, e verás a recompensa dos ímpios.
- Porque tu, ó SENHOR, és o meu refúgio. No Altíssimo fizeste a tua habitação.
- Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda.
- Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos.
- Eles te sustentarão nas suas mãos, para que não tropeces com o teu pé em pedra.
- Pisarás o leão e a cobra; calcarás aos pés o filho do leão e a serpente.
- Porquanto tão encarecidamente me amou, também eu o livrarei; pô-lo-ei em retiro alto, porque conheceu o meu nome.
- Ele me invocará, e eu lhe responderei; estarei com ele na angústia; dela o retirarei, e o glorificarei.
- Fartá-lo-ei com longura de dias, e lhe mostrarei a minha salvação.
O esconderijo do Altíssimo
“Aquele que habita no esconderijo do
Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará.” (Salmo 91:1)
O primeiro passo para interpretar Salmo 91 é
responder a seguinte pergunta (Sl 91:1): Quem habita no esconderijo do
Altíssimo? É possível aos homens mortais residirem no recôndito do Altíssimo? A
resposta está no decurso do próprio Salmo: “Porque tu, ó SENHOR, és o meu
refúgio. No Altíssimo fizeste a tua habitação” (Sl 91:9).
Quando escreveu esta profecia, o salmista fez referência a alguém que, naquele exato momento estava residindo no esconderijo (lugar oculto) do Altíssimo, e que, no futuro, haveria de deixar a habitação do Altíssimo. Quando deixasse o esconderijo do Altíssimo, seria necessário refugiar-se à sombra do Onipotente (Jo 16:28).
Analisando a primeira questão: “Quem é Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo?”; “Onde fica o esconderijo do Altíssimo?”.
“Os pecadores de Sião se assombraram, o
tremor surpreendeu os hipócritas. Quem dentre nós habitará com o fogo
consumidor? Quem dentre nós habitará com as labaredas eternas?” (Isaías
33:14).
O esconderijo de Altíssimo não fica na
Terra, pois tal esconderijo diz de um ‘lugar’ inacessível aos homens, na
eternidade.
“Porque assim diz o Alto e o Sublime, que
habita na eternidade, e cujo nome é Santo: Num alto e santo lugar habito;
como também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos
abatidos, e para vivificar o coração dos contritos.” (Isaías 57:15).
“Aquele que tem, ele só, a imortalidade,
e habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode
ver, ao qual seja honra e poder sempiterno. Amém” (1Tm 6:16).
“Para o entendido, o caminho da vida leva
para cima, para que se desvie do inferno em baixo” (Pv 15:24).
“Trovejou desde os céus o SENHOR; e o
Altíssimo fez soar a sua voz” (2Sm 22:14).
“Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que
desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu” (Jo 3:13).
Considerando que o esconderijo do Altíssimo é
o céu e, que ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que de lá desceu (Jo 3:13), conclui-se que Jesus é aquele que habitava no esconderijo do Altíssimo antes
de ser introduzido no mundo.
Jesus habitava o céu quando o Salmo 91 foi
escrito e o salmista prediz que Aquele que habita no céu haveria de descansar
sobre a proteção do Onipotente, ou seja, o Salmo diz de Cristo quando se
esvaziasse da Sua glória e fosse introduzido no mundo como o unigênito de Deus.
Não há registro nas Escrituras de alguém que
tenha habitado no esconderijo do Altíssimo, mas aquele que havia de vir, o
Filho do homem, dele as Escrituras dá testemunho que na eternidade habitou o
recôndito da divindade (Sl 45:6; Is 7:14; Is 8:17; Pv 30:3 ). Jesus mesmo
falou acerca da sua glória: “E agora me glorifica tu, ó Pai, junto de ti
mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse“ (
Jo 17:5 ). Os santos apóstolos de Cristo também falaram da glória de Cristo (Jo 1:1 e 1Jo 1:1-3;Hb 1:5 e 8), de modo que Jesus é aquele que habitava no
esconderijo de Deus, pois Ele é o Verbo Eterno que estava com Deus (Jo 1:1).
A sombra do Onipotente refere-se à proteção
que Deus estabeleceu sobre o Messias:
“O SENHOR é quem te guarda; o SENHOR é a tua
sombra à tua direita” (Sl 121:5).
“Guarda-me como à menina do olho; esconde-me
debaixo da sombra das tuas asas” (Sl 17:8).
“Porque foste a fortaleza do pobre, e a
fortaleza do necessitado, na sua angústia; refúgio contra a tempestade, e
sombra contra o calor; porque o sopro dos opressores é como a tempestade contra
o muro” (Is 25:4 .
Analisando a segunda questão do primeiro
verso: Como Jesus descansou à sombra do Onipotente? Obedecendo a palavra de
Deus. Obedecer a palavra de Deus é descansar à sombra do Onipotente. Confiar na
palavra de Deus é descansar, o que se demonstra na obediência. Quando Jesus
resignou-se a fazer a vontade de Deus entregando a sua alma na morte, estava
descansado, pois confiou na salvação do Onipotente.
É em função desta verdade que Jesus
diz: “A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a
sua obra” (Jo 4:34). A satisfação,
o desejo, a alegria de Cristo estava em obedecer à palavra de Deus, de
modo que Isaías profetizou dizendo que a palavra de Deus estava na boca do
Cristo. Mas, a boca fala da abundância do que há no coração, de modo que a
palavra de Deus é a essência do Cristo.
“Porque tu tens sido o meu auxílio; então, à
sombra das tuas asas me regozijarei” (Sl 63:7).
“E ponho as minhas palavras na tua boca, e te
cubro com a sombra da minha mão; para plantar os céus, e para fundar a terra, e
para dizer a Sião: Tu és o meu povo” (Is 51:16).
“E fez a minha boca como uma espada aguda,
com a sombra da sua mão me cobriu; e me pôs como uma flecha limpa, e me
escondeu na sua aljava” (Is 49:2).
Há um enigma a ser desvendado na profecia de Isaías quando Ele diz que o Messias seria como uma flecha limpa escondida na aljava do Todo-poderoso. A flecha refere-se à filiação divina do Messias, pois flecha na aljava diz da descendência de um homem “Como flechas na mão de um homem poderoso, assim são os filhos da mocidade” (Sl 127:4). O Messias, por sua vez, tornou-se proteção para os que nele confiam: “E será aquele homem como um esconderijo contra o vento, e um refúgio contra a tempestade, como ribeiros de águas em lugares secos, e como a sombra de uma grande rocha em terra sedenta” (Is 32:2).
Ou seja, Aquele que habitava na eternidade,
por ser o Altíssimo (Is 57:15), ao ser introduzido no mundo na condição de
Servo do Senhor, viveu o predito pelo salmista: confiou inteiramente no Pai.
O Salmo 91 é profético e messiânico. O salmista registra algumas promessas para o Verbo de Deus que haveria de se fazer homem. O Altíssimo, sendo Senhor de tudo, deixa a sua glória e assume a condição de Filho sobre a sua própria casa (Sl 47:2; Hb 3:6). Este foi o acordo estabelecido entre as pessoas da divindade na eternidade, como se lê: “Porque, a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, Hoje te gerei? E outra vez: Eu lhe serei por Pai, e ele me será por Filho?” (Hb 1:5).
Na eternidade as pessoas da divindade
acordaram entre si e uma delas assumiu a condição de Filho quando introduzido
no mundo dos homens. É por isso que as Escrituras refere-se a Cristo como sendo
aquele que tudo criou “Mas Cristo, como Filho, sobre a sua própria casa; a
qual casa somos nós, se tão somente conservarmos firme a confiança e a glória
da esperança até ao fim” (Hb 3:6; Jo 1:3; Cl 1:16).
No Salmo 110, outra profecia sobre Jesus, o
Cristo é descrito como Senhor do salmista e é visto assentado à destra da
Majestade nas alturas. No Salmo 110 temos o Cristo ressurreto voltando ao seu
lugar por direito, enquanto no Salmo 91 temos uma predição apontando que o Cristo
deixaria a sua glória.
Os fariseus relutavam em admitir que o Pai celeste tivesse um Filho, isto porque não observavam as Escrituras: “Quem subiu ao céu e desceu? Quem encerrou os ventos nos seus punhos? Quem amarrou as águas numa roupa? Quem estabeleceu todas as extremidades da terra? Qual é o seu nome? E qual é o nome de seu Filho, se é que o sabes?“ (Pv 30:4).
O Salmo 91 complementa outros salmos. O Salmo
15 diz: “Senhor, quem habitará no teu tabernáculo? Quem morará no teu
santo monte?” (Sl 15:1). Somente
Jesus andou em sinceridade, praticou a justiça e falou a verdade segundo o seu
coração (Sl 15:3). Somente o Cristo de Deus tem olhos capazes de desprezar o
réprobo. Somente Ele pode honrar os que temem ao Senhor (Sl 15:4).
O Salmo 24 diz: “Quem subirá ao monte do
Senhor? Quem estará no seu tabernáculo?” (Sl 24:3). A resposta é clara e
aponta para alguém em específico: “Aquele que é limpo de mãos e puro de
coração, que não entrega a sua alma à vaidade, nem jura enganosamente. Este
receberá do Senhor a bênção e a justiça do Deus da sua salvação” (Sl 24:4,5; Isaías 33:14-16). Somente Jesus dentre os filhos dos homens foi limpo de
mãos e puro de coração, cumpriu toda a lei, recebeu a benção e a justiça.
Por falar especificamente do Messias, o
salmista não diz qualquer que, antes utiliza o pronome demonstrativo aquele’nos Salmos 15, 24 e 91, isto porque somente o Cristo de Deus nunca foi abalado
(Sl 15:5).
O convite do evangelho é universal, visto que
‘todo aquele que crê’ ou ‘qualquer que crer’ receberá vida eterna por Jesus,
porém, os Salmos são profecias que apresentam o Cristo de Deus aos homens.
Qualquer homem que queira habitar com o Altíssimo necessita crer em Cristo conforme diz as Escrituras para receber de Deus poder para ser feito filho de Deus (Jo 1:12). Todos quantos forem criados de novo, em verdadeira justiça e santidade, serão, ainda aqui neste mundo, tal qual Cristo é (1Jo 4:17; 1Co 15:48). Ora, se os que creem são tal qual Ele é neste mundo, habitarão onde Ele habita, visto que, onde Ele estiver ali também estarão.
“E quando eu for, e vos preparar lugar, virei
outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós
também” (Jo 14:3).
O Salmo 91 é uma profecia que apresenta dois momentos distintos pertinentes ao Verbo de Deus. À época que o salmista profetizou, o Verbo de Deus estava habitando no esconderijo do Altíssimo, porém, quando o Verbo se fez carne precisou abrigar-se sob a sombra do Onipotente por estar despido de sua glória.
O refúgio do Messias
“Direi do Senhor: Ele é o meu Deus, o meu refúgio, a minha fortaleza, e nele confiarei.” (Salmo 91:2)
Aquele que reside no lugar secreto do
Altíssimo haveria de anunciar o nome de Deus aos homens, dizendo: “Ele é o
meu Deus, o meu refugio, a minha fortaleza, e nele confiarei” (Sl 91:2). O escritor aos Hebreus cita o Salmo 18 para demonstrar que o próprio Filho
disse por intermédio do salmista que colocaria em Deus a sua confiança “E
outra vez: Porei nele a minha confiança” (Hb 2:13; Sl 18:1,2; Sl 56:4).
Nos Salmos 103 e 104, o salmista demonstra a
sua confiança em Deus e o bendiz pela sua grandeza e por tudo o que realizou em
prol dos homens, mas o Salmo 91 utiliza o verbo confiar no futuro (nele
confiarei), o que nos faz questionar se o salmista ainda não confiava em Deus
quando escreveu este Salmo.
Na glória, o Verbo eterno não precisava
confiar, mas ao ser introduzido no mundo participante da carne e do sangue e
sujeito às mesmas paixões que os homens, porém, sem pecado, também precisaria
confiar inteiramente em Deus (Hb 4:15).
O verso 2 do Salmo 91 é equivalente à introdução do Salmo 31, quando o salmista deixa registrado as últimas palavras do Messias: “Em ti, ó Senhor, me refugio; nunca seja eu envergonhado; livra-me pela tua retidão (…) Nas tuas mãos encomendo o meu espírito…” (Sl 31:1-5).
O Verbo de Deus encarnado, o Filho de Davi
haveria de dizer do Senhor: “Ele é meu Deus, o meu refugio, a minha
fortaleza”. O salmista predisse que o Messias haveria de confiar
plenamente em Deus, até mesmo no momento mais cruento da existência dele entre
os homens haveria de se refugiar, abrigar-se em Deus, encomendando o seu
espírito.
Se o próprio salmista estivesse bendizendo ao
Senhor, não haveria necessidade de utilizar o verbo ‘dizer’ no futuro (direi).
Geralmente, os salmistas, quando fazem referência a eventos que lhes são
pertinentes dizem: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor” (Sl 103:1). O
cântico do salmista Davi é: “No SENHOR confio; como dizeis à minha alma:
Fugi para a vossa montanha como pássaro?” (Sl 11:1).
Jesus Cristo homem ao ouvir desde menino a
leitura das Escrituras nas sinagogas e no seio da sua família, aliado ao
testemunho de sinais e maravilhas que cercaram o evento do seu nascimento,
compreendeu pelas Escrituras que Ele era o Messias, o Filho de Deus encarnado.
Jesus precisou crer no testemunho que Deus estabeleceu nas Escrituras e
descobrir por si mesmo que era o Cristo.
Diante das promessas que o Pai deixou
registrado nas Escrituras, Ele creu, para que se tornasse o autor e consumador
da fé “Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que
lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à
destra do trono de Deus” (Hb 12:2); “Ainda que era Filho, aprendeu
a obediência, por aquilo que padeceu” (Hb 5:8).
Laços e pestilencias
“Porque Ele te livrará do laço do passarinheiro, e da peste perniciosa. Ele te cobrirá com as Suas penas, e debaixo das Suas asas te confiarás; a Sua verdade será o teu escudo e broquel. Não terás medo do terror de noite nem da seta que voa de dia, Nem da peste que anda na escuridão, nem da mortandade que assola ao meio-dia. Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas não chegará próximo de ti. Somente com os teus olhos contemplarás, e verás a recompensa dos ímpios.” (Salmo 91:3-8)
Nestes versos estão elencados alguns eventos
que não atingiria o primogênito de Deus quando fosse introduzido no mundo. As
promessas de Deus elencadas nestes versos são específicas para o seu Filho.
- “Porque
Ele te livrará do laço do passarinheiro…” – O Filho do
homem certamente não seria pego nas armadilhas (palavras) dos homens
ímpios, por mais engenhosas que fossem. Quando inquiriram o Messias se era
lícito pagar tributo a César (Mt 22:17), ou quando apresentaram a mulher
pega em ato de adultério (Jo 8:5), tais armadilhas não o enlaçaram “Armaram
uma rede aos meus passos; a minha alma está abatida. Cavaram uma cova
diante de mim, porém eles mesmos caíram no meio dela” (Sl 57:6; Sl
56:5). O profeta Jeremias descreve quem são os passarinheiros: “Porque ímpios
se acham entre o meu povo; andam espiando, como quem arma
laços; põem armadilhas, com que prendem os homens. Como
uma gaiola está cheia de pássaros, assim as suas casas estão cheias de
engano; por isso se engrandeceram, e enriqueceram” (Jr 5:26,27).
- “…e
da peste perniciosa” – O Filho de Davi era livre do pecado (a peste
perniciosa), visto que Ele foi gerado de Deus (Sl 2:7; 2Sm 7:14). Todos
os descendentes da carne de Adão, ou seja, que entraram pela porta larga,
foram contaminados pelo pecado (ou, vendidos ao pecado como escravos),
porém, Jesus, o último Adão, é a porta estreita pela qual todos os homens
que querem ser livres do pecado precisam entrar.
- “Ele
te cobrirá com as Suas penas, e debaixo das Suas asas te confiarás” – O Messias
haveria de ser protegido, abrigado em segurança na palavra Deus. “Tem misericórdia de mim, ó Deus, tem misericórdia de mim, porque a minha alma
confia em ti; e à sombra das tuas asas me abrigo, até que passem as
calamidades” (Sl 57:1).
- “a
Sua verdade será o teu escudo e broquel” – Em todos os ataques dos
adversários, a Palavra de Deus (verdade) haveria de ser a defesa de
Cristo. Diante dos escribas, fariseus e saduceus Jesus citou as
Escrituras. Quando da tentação pelo diabo no deserto, Cristo utilizou a
verdade das Escrituras como escudo e broquel (defesa).
- “Não
terás medo do terror de noite nem da seta que voa de dia, nem da peste que
anda na escuridão, nem da mortandade que assola ao meio-dia” – O
‘terror de noite’, a ‘seta lançada durante o dia’, a ‘peste que se move na
escuridão’ e a ‘mortandade que acomete ao meio-dia’ não amedrontou o
Messias.
Estes versos possuem alguns enigmas como:
noite, escuridão e mortandade.
Quando o homem anda segundo a palavra de
Deus, anda na luz, pois a palavra de Deus é lâmpada para os pés e luz para o
caminho. A escuridão refere-se à ausência da palavra da verdade (Is 9:2). Diz
da palavra de engano que faz com que o homem permaneça na morte “Entenebrecidos
no entendimento, separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela
dureza do seu coração” (Ef 4:18).
Jesus despojou-se de sua glória e majestade e
em tudo se tornou semelhante aos seus irmãos (Hb 2:17), porém, o medo que os
homens detinham da morte e do pecado não o acometeu, visto que Ele nunca esteve
sujeito a escravidão do pecado, e não se deixou levar pela doutrina de engano (Hb 2:15) .
“Também os que buscam a minha vida me armam laços e os que procuram o meu mal falam coisas que danificam, e imaginam astúcias todo o dia” (Sl 38:12).
“Firmam-se em mau intento; falam de armar
laços secretamente, e dizem: Quem os verá?” (Sl 64:5; Pv 13:14).
Desde o Éden a peste perniciosa assola a
humanidade, pois um pecou e todos pecaram. Um morreu e todos morreram (1Co
15:21,22), e passaram a falar segundo os seus corações mentirosos (Sl 58:3).
A peste perniciosa não se assemelha a peste negra que dizimou a Europa. Nem tão
pouco diz de agentes químicos ou de armas biológicas.
Os filhos do povo do Messias armaram diversas
armadilhas com o fito de pegar o Cristo nalguma contradição, porém, somente
eles permaneceram enlaçados.
“Armaram uma rede aos meus passos; a minha
alma está abatida. Cavaram uma cova diante de mim, porém eles mesmos caíram no
meio dela” (Sl 57:6; Sl 56:5; Mt 22:17; Jo 8:5).
“Por isso também na Escritura se contém: Eis
que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e preciosa; E quem nela
crer não será confundido. E assim para vós, os que credes, é preciosa, mas,
para os rebeldes, A pedra que os edificadores reprovaram, Essa foi a principal
da esquina, E uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, para aqueles que
tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados” (1Pe 2:6-8; Rm 9:33).
O Filho de Davi desde o ventre de Maria era
livre do pecado (a peste perniciosa), visto que Ele foi lançado na madre por
Deus (Sl 22:10) e gerado pelo Espírito Eterno (Sl 2:7; 2Sm 7:14). Todos os
descendentes da carne de Adão, a porta larga por quem todos os homens entram ao
virem ao mundo, foram contaminados pelo pecado (o mesmo que ser vendidos ao
pecado como escravos), porém, Jesus, o último Adão, é a porta estreita pela
qual todos os homens que creem torna-se livres do pecado.
A verdade ou a fidelidade de Deus foi constituída como escudo e broquel do Messias. Todos os adversários vieram contra Ele utilizando-se de palavras de engano, mas na Palavra de Deus (verdade e fidelidade) estava a defesa de Cristo. Diante dos religiosos Judeus, Jesus apresentou as Escrituras em sua defesa. Quando tentado pelo diabo no deserto, Cristo fez uso das Escrituras.
Há pessoas que ficam até arrepiadas quando
leem o verso seguinte por falta de compreensão: “Não terás medo do terror
de noite nem da seta que voa de dia, nem da peste que anda na escuridão, nem da
mortandade que assola ao meio-dia” (v. 5 ). Este verso é resumo do exposto
profeticamente pelo Salmo 64:
“Ouve, ó Deus, a minha voz na minha oração;
guarda a minha vida do temor do inimigo. Esconde-me do secreto conselho dos
maus, e do tumulto dos que praticam a iniquidade. Que afiaram as suas línguas
como espadas; e armaram por suas flechas palavras amargas, A fim de atirarem em
lugar oculto ao que é íntegro; disparam sobre ele repentinamente, e não temem.
Firmam-se em mau intento; falam de armar laços secretamente, e dizem: Quem os
verá? Andam inquirindo malícias, inquirem tudo o que se pode inquirir; e ambos,
o íntimo pensamento de cada um deles, e o coração, são profundos” (Sl
64:1-6).
Os soldados geralmente são atormentados pelo
medo do inimigo quando no campo de batalha. Durante a noite a possibilidade do
ataque sorrateiro do inimigo é um tormento, e durante o dia, os perigos que as
flechas inimigas representam também atemorizam. O inimigo ataca nas trevas, ou
seja, quando lhe falta a luz do entendimento da palavra de Deus. A setas são
ataques deferidos contra o Messias enquanto ele se fazia presente entre os
homens (Jo 12:35,36).
Mas, por confiar no Pai é que a confiança do
Messias é expressa no Salmo 64: “Guarda a minha alma do temor do
inimigo!” (v. 1) Quais seriam as armas dos inimigos dos Messias? A resposta
é: a língua!
“A minha alma está entre leões, e eu estou
entre aqueles que estão abrasados, filhos dos homens, cujos dentes são
lanças e flechas, e a sua língua espada afiada“ (Sl 57:4).
“Aguçaram as línguas como a serpente;
o veneno das víboras está debaixo dos seus lábios” (Sl 140:3).
Os inimigos de Davi possuíam espadas afiadas,
mas o Filho de Davi, o Messias, enfrentaria homens que possuíam as línguas
afiadas como se fossem espadas. As setas deles constituíam-se em palavras
amargas! Secretamente engendravam planos para dar cabo do Messias (Jo 11:53),
mas sendo a Palavra de Deus escudo e broquel, o Messias não seria atingido.
Por se desviarem da palavra do Senhor, os
filhos de Israel tornaram-se uma vinha que produzia vinho venenoso “O seu
vinho é ardente veneno de serpentes, e peçonha cruel de víboras” (Dt
32:33). Este veneno estava na língua dos filhos do povo de Jacó “Aguçaram
as línguas como a serpente; o veneno das víboras está debaixo dos seus lábios.
(Selá.)” (Sl 140:3). Mas, Jesus sabia desta peculiaridade:
“Raça de víboras, como podeis vós dizer boas
coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca” (Mt 12:34).
Mil à direita e dez mil à esquerda
“Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas não chegará próximo de ti. Somente com os teus olhos contemplarás, e verás a recompensa dos ímpios.” (Salmo 91:7,8)
Para evitar a queda de muitos, o precursor do
Messias foi enviado para que fosse arrancado os tropeços do caminho do povo
para que não rejeitassem a Cristo “E dir-se-á: Aplanai, aplanai a estrada,
preparai o caminho; tirai os tropeços do caminho do meu povo” (Is 57:14).
Há muito o profeta Isaías predisse que os
moradores das duas casas de Israel haveriam de tropeçar por se escandalizar do
Cristo “Então ele vos será por santuário; mas servirá de pedra de tropeço,
e rocha de escândalo, às duas casas de Israel; por armadilha e laço aos
moradores de Jerusalém” (Is 8:14).
A queda de milhares estava prevista, pois tropeçariam na pedra de esquina
“E uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, para aqueles que tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados” (1Pe 2:8).
O Cristo não precisaria fazer nada com
relação aos ímpios, antes só olhar a recompensa deles (Sl 56:7). Por quê?
Porque Cristo escolheu o Senhor como refúgio, o Deus que tudo executa para o
Messias (Sl 57:2,3); “E se alguém ouvir as minhas palavras, e não crer,
eu não o julgo; porque eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o
mundo” (Jo 12:47).
Jesus não veio para condenar, antes para
salvar, portanto, ele não emitia juízo acerca das pessoas (Jo 8:15; Jo 12:47).
Deus é refúgio
“Porque Tu, ó SENHOR, és o meu refúgio. No Altíssimo fizeste a Tua habitação.” (Salmo 91:9)
Todas as promessas seriam levadas a efeito
porque o Messias fez do Altíssimo o seu lugar de refugio. Este verso remete ao
pensamento do verso 1: O Verbo habitava o lugar oculto do Altíssimo, porém,
após ser introduzido no mundo como Primogênito de Deus, o Verbo encarnado
passou a descansar na sombra do
Onipotente (Sl 57:1).
Aquele que fez a sua habitação (refugiou-se)
no Altíssimo (v. 9) é quem reside no esconderijo do Altíssimo (v. 1). Quem fez
a sua morada no Altíssimo? O único homem que fez a sua morada no Altíssimo foi
o Descendente prometido a Davi, o Senhor que o salmista viu à mão direita de
Deus.
Proteção perene
“Nenhum mal Te sucederá, nem praga alguma chegará próximo da Tua tenda. Porque aos Seus anjos dará ordem a Teu respeito, para Te guardarem em todos os Teus caminhos. Eles Te sustentarão nas suas mãos, para que não tropeces com o Teu pé contra uma pedra. Pisarás sobre o leão e a cobra; calcarás aos pés o leão jovem e o dragão.” (Salmo 91:10-13)
Quando Jesus nasceu, muitas crianças foram
mortas, porém, mal algum o atingiu. A sua família mudou-se para o Egito, e
nenhuma praga acometeu a sua família terrena (Mt 2:16). Aos anjos foi dado
ordem acerca do Messias para guardá-lo em todos os seus caminhos. Eles haveriam
de amparar o Cristo para livrá-lo de todo mal (Sl 57:3; Sl 56:13).
O diabo ciente de que as promessas da profecia deste Salmo faziam referência a Cristo, lançou mão do Salmo 91 para tentá-lo. E o diabo disse: “Se tu és o Filho de Deus, lança-te de aqui abaixo. Pois está escrito: Aos seus anjos dará ordens a teu respeito, e eles te tomarão nas mãos, para que não tropeces nalguma pedra” (Mt 4:6 .
Observe que:
- O
diabo conhece as Escrituras;
- Lançou
dúvidas acerca da filiação do Messias;
- Estabeleceu
um teste para por à prova a filiação divina de Cristo;
- Deu
uma ordem com falso embasamento nas Escrituras;
- Ele
sabia que o cuidado de Deus estipulado no Salmo 91 para o Messias visava
protegê-lo de ataques direto dos anjos decaídos e dos homens maus (Sl
56:5; Mt 2:12,13).
O diabo sabia que Deus não interfere nas
decisões dos homens, e que, se Cristo decidisse pular, não seria socorrido,
antes sofreria as consequências da sua decisão, assim como sofreu o primeiro
Adão.
Através da verdade (v. 4) que é escudo e
broquel, Jesus respondeu: “Também está escrito: não tentarás o Senhor teu
Deus” (Mt 4:7). A confiança deriva do amor e da fidelidade de Deus (Sl
57:3 b), atributos imutáveis, visto que ao prometer, Ele se interpôs com
juramento, segundo o seu conselho. Duas coisas imutáveis (Hb 6:18).
O Messias estava descansado à sombra do
Onipotente, ou seja, ciente da proteção
divina em todos os seus caminhos e que não haveria de tropeçar,
porém, tal proteção não englobava forçar Deus agir.
Foi dado poder ao Filho do homem para andar entre o leão e a cobra. Acerca da serpente temos uma profecia no Gênesis: “E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e o seu descendente; este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3:15).
Além de ter ferido a cabeça da serpente, o
Salmo 57 demonstra que os filhos do povo do Messias são comparáveis às bestas
famintas, ou seja, aos leões.
“A minha alma está entre leões; estou deitado
entre bestas famintas, homens cujos dentes são lança e flechas, e cuja língua é
espada afiada” (Sl 57:4).
Vida eterna ao Filho
“Porquanto tão encarecidamente Me amou, também Eu O livrarei; pô-Lo-ei num alto retiro, porque conheceu o Meu nome. Ele Me invocará, e Eu Lhe responderei; estarei com Ele na angústia; dela O retirarei, e O glorificarei. Fartá-lo-ei com longura de dias, e Lhe mostrarei a Minha salvação.” (Salmo 91:14-16)
Até o verso 13 do Salmo 91 o salmista
profetiza, do verso 14 ao 16, ele transcreve o que o Senhor diz, ou seja, mudou
a pessoa do discurso.
Como o Messias descansou (confiança), o Pai
Eterno o livrou “Pois tu livraste a minha alma da morte, como também os
meus pés de tropeçarem, para que eu ande diante de Deus na luz da vida” (Sl 56:13). Enquanto no Salmo 91 temos uma profecia em que o Senhor protocola
uma promessa de livramento que seria concedido ao Messias, no Salmo 56 temos o
Messias declarando que havia sido resgatado da morte.
Por conhecer (união intima) o Pai, Cristo
foi posto num alto retiro, ou seja, à destra de Deus nas alturas (Sl 110:1;
Jo 10:30). A palavra conhecer tem dois significados na Bíblia.
Um dos significados é ter ciência de algo, saber acerca de, porém, o
significado que o termo conhecer tem neste Salmo é o de comunhão íntima.
Cristo haveria de invocar o Senhor (Sl 56:1; Sl 57:1), e Deus haveria de respondê-lo. E como Deus haveria de respondê-lo? Não deixando o Cristo à mercê da angustia? Não! Deus não prometeu livrá-lo da angustia, antes prometeu estar com Ele durante o período da angustia. Para que Deus estivesse presente na angustia, necessariamente o Cristo deveria ser e foi angustiado “E tomou consigo a Pedro, e a Tiago, e a João, e começou a ter pavor, e a angustiar-se” (Mc 14:33).
Cristo não foi abandonado na cruz, antes o
Pai o ouviu e o atendeu (Sl 22:24 ). Pelo fato de ter citado as Escrituras
quando estava na cruz, muitos reputam que Cristo foi abandonado, mas esta má
leitura ocorre quando as pessoas não conseguem ver que os salmos são profecias
(Sl 22:1; Mt 27:46).
Como lemos nos evangelhos, Jesus clamou ao
Pai no Getsêmani, porém, Ele foi angustiado até a morte, e morte de cruz “Então
chegou Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmani, e disse a seus discípulos:
Assentai-vos aqui, enquanto vou além orar” (Mt 26:36 . O Messias foi
glorificado quando entregou ao Pai o seu espírito, momento em que o Pai o
retirou da angustia “Em ti, ó Senhor, me refugio; nunca seja eu
envergonhado; livra-me pela tua retidão (…) Nas tuas mãos encomendo o meu
espírito…” (Sl 31:1-5).
O Cristo de Deus foi glorificado com a glória
que Ele tinha antes de ser introduzido no mundo, e entrou no descanso do Pai
até que os seus inimigos sejam postos por estrado dos seus pés.
“E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti
mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse” (Jo 17:5).
A promessa do Pai para o Filho é abundância de dias, longura, ou seja, vida eterna “Vida te pediu, e lha deste, mesmo longura de dias para sempre e eternamente” (Sl 21:4). O Filho do homem viu a salvação de Deus: “Tu és o mais formoso dos filhos dos homens e os lábios foram ungidos com a graça, por isso Deus te abençoou para sempre. Cinge a tua espada à coxa, ó valente; cinge-te de glória e majestade” (Sl 45:2,3).
Agora que você sabe que estas promessas foram feitas para o Filho do homem e, que elas dizem do Cristo, creia no enviado de Deus, Jesus Cristo homem, que foi morto e glorificado (1Tm 3:16; Rm 1:2-4), para que você possa receber de Deus poder para ser feito um dos seus filhos (Jo 1:12). Através da fé em Cristo você passará a ser co-herdeiro de Deus e participante das promessas “Porque todas quantas promessas há de Deus, são nele sim, e por ele o Amém, para glória de Deus por nós” (2Co 1:20; 2Pe 1:4).
A Bíblia garante que todos os que creem já receberam de Deus todas as bênçãos espirituais (Ef 1:3; 2Pe 1:3). Se alguém promete bênçãos que não estejam elencadas no capítulo 1 da carta de Paulo aos Efésios, ou às que estão enumeradas no Salmo 103, desconfie.
Da mesma forma que o Pai prometeu ao Filho
estar com Ele na angustia, Jesus também prometeu aos que creem estar com eles
todos os dias (Mt 28:20). Para que tivessem paz, alertou que, no mundo os
cristãos terão aflições (Jo 16:33). Qualquer que prometa livrá-lo das
aflições diárias, não fala conforme a verdade do evangelho, visto que o próprio
Cristo não prometeu livrar os cristãos das aflições, antes avisou que seriam
suscetíveis as aflições.
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