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Por que Deus não perdoou Adão e Eva

 Por que Deus não perdoou Adão e Eva

“Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado, porque não achou lugar de arrependimento, ainda que com lágrimas o buscou.”  (Hebreus 12:17).


Esta é uma pergunta que corrói muitos cristãos, e os ateus, por sua vez, a utilizam como suporte para contestar as Escrituras através de lógicas simplistas.

Argumentos como:  ‘Se Jesus mandou perdoar 70×7, por que não perdoou Adão e Eva?’, é apresentada como se fosse um xeque-mate aos cristãos, e muitos não tem uma resposta.

Analisemos sobre o prisma bíblico essa questão, pois só as Escrituras possuem revelação segura suficiente para basilar a nossa confiança em Deus por intermédio de Cristo, nosso Senhor.

Adão e Deus no Éden 


Há quem argumente que a Bíblia é contraditória por Deus ter punido Adão e Eva se ambos não possuíam conhecimento do que era certo ou errado. Tal argumento é equivocado, pois apesar de o conhecimento do bem e do mal ser proveniente do fruto da árvore do conhecimento, Adão foi cientificado da liberdade que possuía, pois podia comer de todas as árvores que estavam no Jardim, inclusive o fruto da árvore da vida e do conhecimento do bem e do mal, e quais seriam as consequências.

“E ordenou o SENHOR Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás. (Gênesis 2:16-17).

Alegar que Adão não tinha o discernimento para fazer qualquer juízo de valor é desprezar o relacionamento que Adão tinha com seu Criador, pois na ordem Deus enfatiza a plena liberdade que a sua criatura desfrutava e as consequências dos seus atos.

Quando Deus proibiu Adão comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, apesar da liberdade concedia, deu um motivo suficientemente claro: porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás. Não cabia a Adão fazer juízo de valor, antes deveria se restringir em obedecer.

Embora fosse sem pecado, Adão em função do mandamento não era inocente, pois sabia das consequências.

“O avisado vê o mal e esconde-se; mas os simples passam e sofrem a pena.” (Provérbios 27:12).

Adão foi avisado, portanto, cabia a ele obedecer. Nesse quesito Adão não era inocente e nem simples. De outra banda, mesmo que alguém seja simples, ou seja, desconhece os motivos e nuances à sua volta, pode sofrer a pena pelo simples fato de passar.

O argumento de que antes de comerem o fruto do conhecimento do bem e do mal Adão e Eva não podia compreender que obedecer a Deus era o bem e o desobedecer era o mal não se sustem, pois o alerta divino tinha por base a confiança da criatura no Criador, e o cuidado do Criador para com sua criatura.

A obediência não se estabelece através da compreensão, e sim na confiança. Adão não tinha que decidir se obedecer era certo ou errado, se era bem ou mal, antes devia se sujeitar ao cuidado de Deus ao alerta-lo das consequências de exercer a sua plena liberdade.

Alegar que a narrativa bíblica não faz sentido porque a criatura, antes de comer do fruto não tinha o discernimento para fazer qualquer juízo de valor é outra falácia, pois Eva conseguiu discernir que o fruto da árvore era bom para se comer, agradável aos olhos e que podia trazer conhecimento.

“E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento.” (Gênesis 3:6).

Deus deu a sua palavra para o homem se guiar, e a informação era suficiente graças a confiança existente entre criatura e Criador. Deus não queria que o homem se guiasse pelo que entendia ser certo ou errado, pois nessas bases não há confiança, pois a confiança emana do cuidado sublinhado no mandamento.

Se o conceito de certo e errado fosse essencial a obediência, hoje não haveria desobediência a palavra de Deus, pois ela é anunciada a homens que detém o conhecimento do bem e do mal e, mesmo assim são poucos os que obedecem.

A lei dada no Éden era santa, justa e boa, pois visava preservar a vida, a comunhão e a liberdade que o homem possuía em Deus, e a consequência da ofensa era bem especifica: no dia que comesse, certamente o homem morreria, ou seja, perderia a comunhão, a vida e a liberdade. 

Justiça e perdão

Quando dilata a quantidade de vezes que se deve perdoar as ofensas de um irmão, de sete para setenta vezes sete, em resposta ao questionamento de Pedro, Jesus somente evidenciou a mesquinhez humana quanto ao perdão.

Quem se predispõe perdoar o seu irmão e lança mão de um limite que se conta nos dedos das mãos, na verdade, busca pretexto para ofensa, revanche e vingança.

Todos os homens são falhos nas relações e interações com o seu próximo e, se o perdão não for a tônica das relações humanas, elas não se sustem. Para afastar a hipocrisia daqueles que se posicionam como ofendidos e que não consideram que também podem ofender, os ouvintes de Jesus foram concitados a compreender que, com o mesmo juízo que se julga o outro, quem julga será julgado e, com a mesma medida com que se mensura o outro, quem mede será mensurado, daí a necessidade do perdão, pois hoje a falta é do outro, e amanhã, a falha será nossa. 

“Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós.” (Mateus 7:2).

Entre irmãos o perdão é necessário, e por isso a recomendação paulina enfatiza a reciprocidade do perdão:

“Antes sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo.” (Efésios 4:32).

“Suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também.” (Colossenses 3:13).

Na interação dos irmãos sempre cabe o perdão, pois não evolve questões de direito inalienáveis.

Embora Esaú tenha se sentido enganado, acabou perdoando Jacó, mas Jacó não tinha como desfazer o que foi negociado com relação ao direito de primogenitura. Esaú não tinha como alcançar a primogenitura, mesmo arrependido, e Jacó, mesmo que quisesse abrir mão do direito, já não podia fazê-lo.

“E Esaú odiou a Jacó por causa daquela bênção, com que seu pai o tinha abençoado; e Esaú disse no seu coração: Chegar-se-ão os dias de luto de meu pai; e matarei a Jacó meu irmão.” (Gênesis 27:41).

“Então Esaú correu-lhe ao encontro, e abraçou-o, e lançou-se sobre o seu pescoço, e beijou-o; e choraram.” (Gênesis 33:4).

Para reparar a rotura que surgiu na relação entre Esaú e Jacó coube o perdão, tanto que Esaú não atentou contra Jacó como havia proposto. Entretanto, quanto ao direito de primogenitura, nem o arrependimento de Esaú e nem o perdão entre eles possibilitou Esaú alcançar a primogenitura.

Na relação que existia entre Deus e Adão no Éden, qualquer outra falha ou deslize de Adão seria tolerado ou perdoado, pois não alteraria a natureza de Adão e nem levantaria uma barreira de separação entre Deus e os homens.

A ofensa de Adão violou um mandamento que possuía fator determinante: ‘certamente morrerás’, e mesmo Adão se arrependesse como fez Esaú, não haveria e nem caberia o perdão divino.

Deus é imutável, fiel e não pode mentir, e se perdoasse Adão, iria contra a sua natureza (imutabilidade) e palavra (não pode mentir).

O alegado por alguns de que Deus não quis perdoar Adão é fruto de lógica simplista, pois Deus não podia perdoar Adão e Eva. Vale frisar que Deus é soberano, porém, igualmente santo e justo, e caso perdoasse a ofensa de Adão, Ele atentaria contra a sua própria natureza.

Deus não podia atender o absurdo proposto por Moisés: “Agora, pois, perdoa o seu pecado, se não, risca-me, peço-te, do teu livro, que tens escrito.”  (Êxodo 32:32), pois cometeria injustiça. De igual modo, mesmo que houvesse arrependimento com lágrimas por parte de Adão, Deus não podia perdoá-lo.

Deus é vida e Adão estava morto. Adão antes da ofensa tinha comunhão com Deus, mas como Ele passou à condição de trevas, não tinha como ser restaurada a comunhão com Deus. Adão gozava de liberdade, após a ofensa tornou-se independente, livre de Deus e sujeito ao pecado.

“Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?” (Romanos 6:16).

Deus não podia se interpor entre o estabelecido no mandamento e as consequências decorrentes da ofensa ao mandamento favorecendo Adão e Eva em detrimento da sua fidelidade à sua palavra.

“Se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo.” (2 Timóteo 2:13).

Para conciliar as duas funções: justo e justificador, sem cometer injustiça e sem comprometer a Sua fidelidade, Deus estabeleceu propiciação aos homens através da pessoa de Cristo.

“Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus.” (Romanos 3:26).

Deus é justo, porém, é justificador somente daquele que crê que Jesus é o Cristo. Como é justo, Deus jamais justifica o ímpio.

“De palavras de falsidade te afastarás, e não matarás o inocente e o justo; porque não justificarei o ímpio.” (Êxodo 23:7).

Queda e morte

Ao desobedecer a Deus, Adão pecou, e como consequência passou à condição de morto para Deus, ou seja, separado, alienado. A morte não foi física, e sim espiritual. A morte física só veio posteriormente, sendo nomeada ‘descer ao pó’.

Ora, para Deus vivem todos os homens: os que estão sobre a terra e os que descem ao pó da terra, o mesmo que se referir a existência do homem. Entretanto, há homens que anda sobre a face da terra ou que desceram ao pó da terra que estão mortos para Deus por estarem separados de Deus por causa da ofensa de Adão, e há aqueles que anda sobre a terra o que desceram a campa fria que estão vivos para Deus, pois voltaram a comunhão por meio da fé em Cristo Jesus.

“Ora, Deus não é Deus de mortos, mas de vivos; porque para ele vivem todos.” (Lucas 20:38).

Quando pecou, Adão deixou de ter comunhão com Deus e passou a viver como servo do pecado. Na condição de servo do pecado é impossível Deus perdoar o homem, pois o pecador não é seu servo. É um absurdo pensar que um senhor teria autonomia para perdoar um servo alheio.

Embora Deus tenha providenciado vida abundante a todas as famílias da terra, enquanto o homem viver para o pecado Deus nada pode fazer por ele. Daí a necessidade do homem que vive sob a escravidão do pecado morrer, pois só ao morrer será livre.

“Sabendo isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado. Porque aquele que está morto está justificado do pecado.” (Romanos 6:6-7). 

Aos servos do pecado só resta a morte, de modo que aquele que descer ao pó da terra na condição de pecador terá uma eternidade de perdição. De outra banda, há uma saída para o pecador: se o servo do pecado morrer com Cristo estará livre (justificado) do seu senhor, e Deus, por sua maravilhosa graça, concederá nova vida ao pecador que foi morto e sepultado com Cristo, ressuscitando-o com Cristo.

Observe que Adão sem pecado desobedeceu e morreu, e todos os que são gerados dele permanecem na morte. Cristo, o último Adão, sem pecado obedeceu e por isso morreu, e todos os que são gerados d’Ele vivem em novidade de vida.

O curioso é que Adão morreu uma morte espiritual e se separou de Deus, e Cristo, por sua vez, morreu uma morte física e une espiritualmente os que creem com Deus. Todos que são gerados de Adão estão mortos espiritualmente, mas aqueles que crerem em Cristo morrem juntamente com Cristo espiritualmente e ressurgem uma nova criatura, criada segundo Deus e verdadeira justiça e santidade (Efésios 4:24).

“Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram. Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram.” (2 Coríntios 5:13-14).

Quando a Bíblia diz que Deus perdoa os pecados dos pecados, se faz necessário considerar o processo acima, pois como Ele é justo, resta somente a morte para todos os descendentes de Adão. Mas, como Cristo obedeceu ao Pai, e por isso Deus o ressuscitou dentre os mortos, todos os que obedecem a Cristo crendo no testemunho que o Pai deu do seu Filho, igualmente são ressuscitados dentre os mortos.

Ser ressuscitado com Cristo é o mesmo que ser gerado de novo. É um novo nascimento, uma nova criatura, um novo tempo e uma nova condição diante de Deus!

“Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” (2 Coríntios 5:17).

Como Deus é justo, Cristo morreu por causa dos pecados da humanidade, e como Deus é justificador dos que creem, Jesus ressurgiu dentre os mortos para que Deus declarasse justos os que são gerados de novo.

“O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação.”  (Romanos 4:25).

Na morte com Cristo o homem está justificado: livre do pecado, e na ressurreição com Cristo é declarado justo, ou seja, justificação. Somente após a nova criatura passar a existir é declarada justa, e somente ao morrer a velha criatura se está livre do pecado: justificado.

A palavra ‘perdão’ é utilizada em uma mensagem evangelística, pois auxilia a compreensão do neófito. Entretanto, do ponto de vista teológico, para ocorrer o perdão, o pecador tem que receber a paga da ofensa: a morte! 

Deus é bom

Outro modo de questionar a história de Adão e Eva é questionando a bondade de Deus. Dizem: ‘Se Deus é bom, porque não perdoou Adão e Eva?’, e novamente a lógica simplista substitui a razão expressa nas Escrituras.

Quando a Bíblia informa que Deus é bom, não podemos ter em mente que Deus é um ser bonzinho. Esse é um pensamento do homem de hoje, diferente do pensamento do homem da antiguidade que considerava o ser ‘bom’ como veraz, real, verdadeiro.

Deus é bom porque Ele é como deve ser ou como convém que seja: soberano, senhor, distinto, nobre, sublime, magnânimo, etc.

“E disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós.” (Êxodo 3:14).

Deus é bom no sentido de nobre, ideia vincada na raiz etimológica da palavra grega agathos, que significa ‘alguém que é, que tem realidade, que é real, verdadeiro’, no sentido de ‘verdadeiro enquanto veraz’

Quando questionam se Deus é bom, os opositores da Bíblia geralmente têm em mente uma virtude pessoal, disposição permanente de uma pessoa em não fazer maldade, alguém que é benevolente.

Se soubessem que é Deus, saberiam que Deus é amor e, igualmente, fogo consumidor.

“Porque o nosso Deus é um fogo consumidor.” (Hebreus 12:29).

“Como labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.” (2 Tessalonicenses 1:8).

“E em nada vos espanteis dos que resistem, o que para eles, na verdade, é indício de perdição, mas para vós de salvação, e isto de Deus.” (Filipenses 1:28).

O mesmo Deus que exerce misericórdia é o que pune:

“O SENHOR é longânime, e grande em misericórdia, que perdoa a iniquidade e a transgressão, que o culpado não tem por inocente, e visita a iniquidade dos pais sobre os filhos até à terceira e quarta geração.” (Números 14:18).

Deus escolheu a nação de Israel como povo seu dentre os demais povos, e Ele mesmo estabeleceu a paz nos termos de Israel, e quando se desviaram dos seus mandamentos, Ele trouxe o mal sobre os filhos de Israel.

“Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas.” (Isaías 45:7).

Não há contradição alguma entre a severidade e a bondade de Deus. Deus é severo e benigno em razão de ser nobre, superior, ou seja, bom, o que exclui qualquer tipo de questionamento humano sobre a bondade de Deus e a punição imposta a Adão e Eva.

“Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas para contigo, benignidade, se permaneceres na sua benignidade; de outra maneira também tu serás cortado” (Romanos 11:22).

“Com o puro te mostrarás puro; e com o perverso te mostrarás indomável.” (Salmos 18:26).


Fonte: Estudos Bíblicos Teológicos Evangélicos

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