No Livro das Revelações, o
apóstolo João registrou o conteúdo de sete cartas, endereçadas a sete ministros
(anjos, mensageiros), que cuidavam de sete comunidades cristãs localizadas na
Ásia Menor.
Há certo prejuízo para a
compreensão das sete cartas aos anjos das igrejas, se o leitor considerar a
ideia presente nos subtítulos das traduções bíblicas, como por exemplo: ‘Sétima
carta, à igreja de Laodiceia’, ‘Primeira carta, à igreja de Éfeso’, que consta
da Almeida corrigida e fiel (ACF). Ora, as cartas não foram direcionadas às
igrejas, mas, ao anjo de cada igreja, que estava em cada cidade ali mencionada.
Os subtítulos dão a entender
que as cartas foram endereçadas aos membros da comunidade, entretanto, as
cartas foram endereçadas aos ministros das igrejas, uma espécie de epístola
pastoral.
Moody, em seu comentário bíblico, embora reconheça que as sete cartas foram endereçadas aos anjos das igrejas, dá a entender que elas tinham por público alvo os membros dessas comunidades: “A última carta é à Laodiceia, que não recebe nenhum elogio. As condições desfavoráveis desta igreja eram de mornidão: os membros não eram nem frios nem quentes (v. 15)” Comentário Bíblico Moody.
O veredito: ‘nem és frio,
nem quente’ tem por alvo o anjo da igreja e não à comunidade de Laodiceia
(Apocalipse 3:14).
As cartas contêm diversas
figuras para comunicar uma ideia, que é peculiar aos ministros das igrejas, em
função do conhecimento que possuem, o que demanda por parte do leitor uma
atenção maior, pois a dificuldade de se interpretar um texto construído com
figuras é maior.
As cartas aos anjos das
igrejas foram escritas com inúmeras figuras, que exercem uma função mais
próxima à da linguagem icônica, ou seja, uma linguagem que utiliza ícones (signo
que apresenta uma relação de semelhança ou, analogia com o objeto que
representa).
A linguagem das cartas
enviadas pelo apóstolo João expressa e reproduz, com exatidão e fidelidade, uma
realidade, diferente de uma linguagem figurada, que não tem a pretensão de
espelhar a realidade, antes, que busca estabelecer uma analogia, substituindo
ou, sugerindo algo ao leitor.
Por exemplo: Jesus chamou os escribas e fariseus de “Raça de víboras”. Se buscarmos nos dicionários, víbora é o mesmo que cobra e, através da linguagem figurativa, entende-se que Jesus chamou os fariseus de ‘pessoas falsas, mentirosas, interesseiras, que passavam por cima dos outros, invejosas, que queriam o mal para os outros, que têm duas caras, que odeiam, que não cumprimentam, hipócritas, etc.’. No entanto, Jesus não fez uso de uma linguagem figurativa ou, denotativa, pois o termo víbora não é empregado de acordo com o senso comum, ou seja, não podemos entender que os fariseus eram répteis da ordem dos ofídios, ou, conforme constam dos dicionários, que os fariseus eram hipócritas.
Do ponto de vista bíblico,
fariseu era alguém pertencente à mais ferrenha religião dos judeus (Atos 26:5)
e a hipocrisia deles estava relacionada com o trato que dispensavam à Palavra
de Deus.
A figura da serpente é
utilizada pelos profetas no mesmo sentido empregado pelo profeta Moisés, para
descrever a falta de compreensão do povo de Israel. Nesse sentido, quando Jesus
nomeia os fariseus de ‘raça de víboras’, a linguagem é similar à linguagem
icônica (ou seja, não cabe outra interpretação, além do que está estabelecido
na Lei, nos Salmos e nos Profetas), pois a figura remete a um povo específico e
a um contexto específico.
Não vamos encontrar na
Bíblia víbora como figura sendo aplicada aos gentios. É dos filhos de Israel
que Isaías diz: “Chocam ovos de basilisco, e tecem teias de aranha; o que comer
dos ovos deles, morrerá; e, quebrando-os, sairá uma víbora” (Isaías 59:5).
Diante de uma placa de
trânsito, onde está escrito ‘Proibido estacionar’, não se leva em conta as
condições emocionais, sociais, de caráter, financeira, nacionalidade,
profissão, etc., do usuário da via. A ideia transmitida é: não se pode
estacionar naquela localidade e, por isso, utiliza-se a linguagem icônica para
transmitir a ideia de proibido estacionar.
Dessa forma, quando as
cartas do apóstolo amado apresentam figuras, elas remetem a signos contidos na
Lei, nos Profetas, nos Salmos e nos Provérbios (Escrituras), ou seja, não fica
a cargo do leitor atribuir significado à figura, segundo seus sentimentos,
emoções, condições, etc.
Através das figuras
utilizadas, é possível abstrair qual o destinatário (público alvo) das cartas:
os ministros das igrejas. A carta não foi redigida aos membros da igreja local,
mas, aos seus ministros.
Somente os ministros, que
deviam manejar bem as Escrituras, tinham condições de compreender o conteúdo
dessas cartas, pois as figuras utilizadas demandam a compreensão de símiles,
adágios, parábolas, que constam na Lei, nos Profetas, nos Salmos e nos
Provérbios.
Somente a carta endereçada
ao anjo de Tiatira possui uma mensagem direcionada aos cristãos da igreja: “Digo-vos,
porém, a vós, os demais que estão em Tiatira, a todos quantos não têm esta
doutrina, e não conheceram, como dizem, as profundezas de Satanás, que outra
carga não porei sobre vós. O que tendes, retende-o até que eu venha” (Apocalipse
2:24 -25).
As demais cartas contêm
exortação, consolo, ânimo, reprovação, incentivo, etc., aos ministros que
estavam à frente daquelas comunidades, conteúdo semelhante aos das cartas
endereçadas a Timóteo e a Tito.
Embora alguns teólogos
considerem que a carta ao ministro de Laodiceia possui um tom mais grave que as
outras cartas, todavia, temos de considerar que o tom de cada carta reflete a
necessidade de cada ministro, no exercício do seu ministério.
Vale destacar que, apesar de
a mensagem contida nas cartas ser atual, quando se considera o que foi tratado
e a qualidade dos ministros do evangelho do presente tempo, a mensagem
destinada ao anjo de Laodiceia não é de cunho profético.
Há aqueles que interpretam
que as sete cartas que contam do Apocalipse são proféticas e que as sete
igrejas são utilizadas para descrever sete diferentes períodos da história da
Igreja. As cartas foram endereçadas aos líderes das igrejas da Ásia e não aos
seus membros, em particular, portanto, resta equivocada essa abordagem, pois,
se fosse profética, as cartas descreveriam sete lideranças no período histórico
da igreja e não sete períodos históricos da igreja.
O corpo de Cristo, que é a
igreja, não possui subdivisões, conforme o tempo (períodos históricos). O corpo
de Cristo é um, com muitos membros, não importando período histórico,
tendências políticas, lideranças de igrejas locais, etc. A igreja de Cristo é imaculada,
perfeita, santa, separada, etc., portanto, a igreja não é constituída de
mortos, mornos, doentes, sonolentos, etc., antes, essencialmente, é constituída
de pessoas idôneas para participar da herança dos santos na luz.
O amém
“E ao anjo da igreja que
está em Laodiceia escreve: Isto diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o
princípio da criação de Deus” (Apocalipse 3:14).
Assim como o apóstolo Paulo
produziu as epístolas pastorais, como as cartas a Timóteo e a Tito, as cartas
que constam do Apocalipse são todas de cunho pastoral, endereçadas aos
ministros, àqueles que tinham o dever de cuidar das igrejas.
O termo grego ἄγγελος,
transliterado ‘aggelos’, comumente traduzido por ‘anjo’, no verso em análise,
não se refere a seres celestiais, mas, aos ministros do evangelho que foram
incumbidos de cuidar das igrejas (1 Pedro 5:2). Um ministro do evangelho é
mensageiro de Deus, portanto, um anjo portador da mensagem da reconciliação
(2 Coríntios 5:20; 1 Timóteo 5:21).
O escritor aos Hebreus
utiliza o termo ἄγγελος para fazer referência aos santos profetas que falam a
palavra de Deus aos pais, demonstrando que a palavra dos mensageiros de Deus
permaneceu firme e a tradução do termo por ‘anjos’, acaba por confundir o
leitor, que passa a considerar que a palavra dos seres celestiais permaneceu
firme.
“Havendo Deus antigamente
falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas (…) Porque,
se a palavra falada pelos anjos permaneceu firme…” (Hebreus 1:2 e Hebreus
2:2).
O Senhor Jesus é o autor da
carta e se apresenta como ‘O Amém’, sendo empregado termo grego ἀμήν, uma
espécie de hebraísmo. O significado do termo ‘amém’, nos dicionários, é ‘assim
seja’, mas, se analisarmos o contexto e quem se identificou como ‘O Amém’, o
termo transcende a ideia que consta dos dicionários.
O termo ἀμήν está
diretamente ligado à fidelidade de Deus, pois quantas promessas há em Deus, que
é fiel, em Cristo todas foram confirmadas e cumpridas (2 Coríntios 1:18-20). O
fato de Cristo ter sido ressuscitado dentre os mortos, cumpriu a promessa de
Deus feita aos pais (Atos 13:23 e 32). Tudo o que Deus revelou através dos seus
santos profetas, acerca de Cristo, se cumpriu, pois Deus vela sobre a sua
palavra para a cumprir (Isaías 55:11).
Com relação ao Verbo que se
fez carne e ressurgiu dentre os mortos, o termo ἀμήν vai além da expressão de
anseio ou, de um desejo mágico: “Oxalá!”, “Que assim seja!”, antes, aponta para
aquele que é inabalável: Cristo, o Verbo eterno, a palavra firme, fiel.
Quem direciona a palavra ao
ministro da igreja que estava em Laodiceia é o Cristo glorificado, que, em
carne, testemunhou de Deus (João 18:37) e de quem o Pai deu testemunho, através
dos seus santos profetas (João 5:39).
Por que Cristo se apresenta
como a fiel testemunha? Porque tudo o que anunciou aos homens, Cristo falou
exatamente como o Pai mandou (João 8:28 e 38; João 12:50).
Princípio da criação de Deus
O Cristo glorificado se
apresenta como o princípio da criação de Deus (ἡ ἀρχὴ τῆς κτίσεως). Como
compreender essa apresentação? O entendimento mais aceito entre os teólogos é o
de que Cristo se apresentou como a origem, a causa primeira de todas as coisas.
Como a sabedoria é
apresentada personificada no Livro de Provérbios, os teólogos entendem que, ao
se apresentar como princípio da criação de Deus, Jesus apontou para a sua
preexistência.
“O SENHOR me possuiu no
princípio de seus caminhos, desde então, e antes de suas obras. Desde a
eternidade fui ungida, desde o princípio, antes do começo da terra” (Provérbio
8:22-23).
Ora, sabemos que o Jesus de
Nazaré, que foi gerado no ventre da virgem Maria, antes de ser introduzido no mundo
como o Unigênito de Deus, na eternidade criou todas as coisas e sustenta todas
elas pela palavra do seu poder (Hebreus 1:2).
Os discípulos conviveram com
um homem igual a eles, em todos os sentidos (físico e emocional), contudo,
quando Jesus ressurgiu dentre os mortos e assentou-se à destra da Majestade nas
alturas, não mais deveriam contemplá-lo (entender) segundo a perspectiva que
tiveram quando o viram em carne, antes deveriam vê-lo (compreender) coroado de
glória e poder (Hebreus 2:8-9; 2 Coríntios 5:16).
O escritor aos Hebreus aplica à pessoa de Cristo o Salmo 102: “E, Tu, Senhor, no princípio fundaste a terra e os céus são obras de tuas mãos…” (Salmo 102:25; Hebreus 1:10).
Nesse sentido, o evangelista
João, também, destacou que todas as coisas foram criadas por Cristo e sem Ele
nada do que foi feito se fez (João 1:3). O apóstolo dos gentios enfatizou que
Cristo é quem criou todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e
invisíveis, e todas as coisas subsistem por Ele (Colossenses 1:16).
Mas, apesar de vários
textos, tanto na Antiga, quanto na Nova Aliança, apontarem para o Verbo eterno
como Deus na eternidade, antes de ser introduzido no mundo, na condição de
homem, alguns segmentos pseudocristãos, negam a divindade de Cristo e se valem
de uma má leitura dessa apresentação de Jesus.
Além do que, quando
lemos: “Isto diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da
criação de Deus”, a ênfase da apresentação ‘o princípio da criação de Deus’,
não está no fato de Cristo ser o criador de todas as coisas.
Nessa apresentação, Jesus
não estava se identificando como o λόγος (logos) divino pelo fato de Ele ser
Deus e, no princípio, estar com Deus (João 1:1 -2). A proposta é outra,
completamente diferente da ideia que se propagada no meio cristão.
O termo grego ἀρχὴ,
transliterado arxḗ, comumente traduzido por princípio, não foi empregado em
função de uma referência temporal, no sentido de primeiro, partida, início,
mas, no seu sentido figurado, apontando a condição de Cristo como o que tem a
supremacia, o primado, a preeminência, etc.
Para compreender essa apresentação de Cristo, faz-se necessário compreender o propósito eterno de Deus, conforme fez referência o apóstolo Paulo aos cristãos em Colossos: “E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência” (Colossenses 1:18).
Jesus se apresenta ao anjo da igreja de Laodiceia como aquele que, na ordem hierárquica de toda criação, tem a preeminência, pois foi constituído a cabeça da igreja, o primogênito (o que tem a preeminência) dentre os mortos, conforme o que consta na apresentação do apóstolo João, no início do Livro do Apocalipse: “E da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogênito dentre os mortos e o príncipe dos reis da terra” (Apocalipse 1:5).
Cristo, como cabeça da
igreja, é o princípio, no sentido de ter a preeminência, o líder. Vale destacar
que, o Verbo de Deus foi introduzido no mundo como o Unigênito de Deus, mas, ao
retornar à gloria, alçou a condição de Primogênito entre muitos irmãos. Cristo
é o primogênito de Deus dentre os mortos e os que ressurgem com Cristo, são
semelhantes a Ele (Romanos 8:28).
Quando ressurgiu dentre os
mortos, Cristo foi posto à direita de Deus, posição superior a todo o
principado, poder, potestade, domínio e lhe foi dado um nome que o nomeia para
sempre e todas as coisas foram sujeitas a seus pés (Hebreus 2:7-8; Salmo
8:5-6). E acima de tudo o que foi enumerado acima, sobre todas elas Cristo é a
cabeça da igreja (Efésios 1:20-22).
Acima da igreja está Cristo,
a cabeça, e abaixo de Cristo, mas, acima de todas as coisas, está a igreja, o
corpo de Cristo. Poucos conseguem visualizar a condição da igreja: abaixo
de Cristo e acima de todas as coisas na hierarquia celestial. Se
compreendessem a posição da igreja, teriam noção da posição que foi concedida a
Cristo: princípio (ἀρχὴ) de toda criação.
Como Cristo está acima de
todas as coisas e o seu corpo é constituído de inúmeros homens, que ressurgiram
com Ele para a gloria de Deus Pai, e assumiram uma posição hierárquica acima de
todas as criaturas de Deus, visto que a igreja julgará até os anjos. Por Cristo
ser a cabeça da igreja, Ele alcançou a preeminência (primazia) em tudo.
O corpo de Cristo (a igreja)
é superior aos homens, anjos, potestades, principados, etc., quer neste
presente século ou, por vir, e Cristo, acima de tudo, foi constituído a cabeça
da Igreja.
“E ele é a cabeça do corpo,
da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo
tenha a preeminência” (Colossenses 1:18).
Cristo se identificou ao
ministro de Laodiceia, segundo a posição que o Pai lhe outorgou, quando da
glorificação, visto que, ao ressurgir dentre os mortos, Cristo herdou um nome
acima de todo o nome que se nomeia no presente século e no vindouro (Efésios
1:21).
O que está em tela não é o
fato de, na eternidade, o Verbo eterno ter criado todas as coisas pela palavra
do seu poder. Na apresentação na carta ao anjo de Laodiceia foi destacado o
fato de a igreja estar acima de todas as coisas, e sobre todas as coisas Cristo
foi constituído a cabeça da igreja. Ser a cabeça é o mesmo que ter a
preeminência no corpo, o ἀρχὴ (arxḗ)
da criação de Deus.
A vontade de Deus
“Conheço as tuas obras, que
nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente!” (Apocalipse 3:15).
Muitos fazem uma
contemporização equivocada da carta ao anjo de Laodiceia, em função da
concepção que idealizaram, acerca do que deve ser uma comunidade cristã nos
dias atuais.
Um exemplo de equívocos à
margem das Escrituras se vê na teologia da libertação, concepção teológica
moderna, que defende que o evangelho é uma bandeira que prega a libertação das
classes oprimidas frente às injustiças sociais causadas pela opressão,
proveniente de questões de ordem econômica e política.
Qualquer leitura dessa
passagem bíblica, sob o prisma da teologia da libertação, em função do anúncio: conheço as tuas obras, produzirá inferências de ordem econômica, política e
social, que não é a mensagem dada por Cristo. Será uma hermenêutica, com bases
em conceitos fomentados pelas ciências sociais, como sociologia, filosofia,
antropologia, etc., e não segundo o evangelho de Jesus.
No outro estremo há o risco
da espiritualização, uma visão contemporânea decorrente da repreensão: “…és
morno”, que leva à má leitura de que a comunidade cristã em Laodiceia não era
de oração, voltada para os jejuns e sacrifícios. Que se buscassem a vontade
de Deus, os cristãos se aplicariam às ações de caridade, etc.
Em nossos dias, cada
segmento cristão dá uma conotação diferente à condição descrita como morno. A
abordagem do texto pelos preletores, geralmente, não visam os líderes das
comunidades, ante, tem por alvo os membros dessas comunidades.
Se a exposição do texto for
em uma comunidade pentecostal, morno é alcunha que as dá ao membro que não
participa de vigílias, orações nos montes e madrugadas, jejuns, etc. Para os
neopentecostais, morno é aquele que não contribui massivamente, não participa
assiduamente das campanhas, dos votos, etc. Os tradicionais veem aquele que não
se adequa às regras das convenções e não se mantém firme aos dogmas da
organização eclesiástica, etc., como sendo morno.
Para os católicos, espíritas
e outros, a mornidão se revela quando a comunidade não se aplica às causas
sociais, como visitas aos doentes, presos, etc., assistência aos pobres,
enfermos, etc.
Durante as reuniões, a
ênfase de muitos preletores é a vontade de Deus, porém, negam-lhe o verdadeiro
significado, pois a vontade de Deus para eles geralmente tem em voga questões
desta vida, como assistencialismo aos velhos, crianças, idosos, mendigos, etc.
Em vez de buscarem
compreender qual é a vontade de Deus segundo as Escrituras, apelam para o
emocional das pessoas, que invariavelmente, possuem uma carnal compreensão do
que é a vontade de Deus. Sob o argumento: “Dê o seu melhor para Deus”,
líderes religiosos escravizam pessoas ao seu bel prazer e apontam o veredito de
Cristo: ‘És morno, vomitar-te-ei!’.
As pessoas, temerosas por
não saberem qual é a vontade de Deus, sobem monte e descem os vales, passam noites
em claro, em prolongadas orações, etc., por entenderem que estão realizando a
vontade de Deus. Outros segmentos entendem que a vontade de Deus está no
celibato, na clausura, na meditação, nas penitências, etc.
Sobre a vontade de Deus,
escreveu o apóstolo Paulo: “Que quer que todos os homens se salvem e venham ao
‘conhecimento’ da verdade” (1 Timóteo 2:4), e conhecer a verdade só é
possível quando se crê que Jesus é o Cristo.
“Porquanto a vontade daquele
que me enviou é esta: Que todo aquele que vê o Filho, e crê nele, tenha a vida
eterna; e eu o ressuscitarei no último dia” (João 6:40; João 20:31; João
6:29).
Obras
“Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente!” (Apocalipse 3:15).
No que consiste as obras do anjo da igreja em Laodiceia?
Jesus noticia ao ministro de
Laodiceia que conhecia as obras dele e que elas o classificavam como morno,
condição que é própria ao ministro, não à comunidade cristã daquela cidade.
O que fazer para não ser
tido por morno? Qual a obra que Jesus conhece e que determina se o ministro é
morno? Seriam ações sociais? Doações caridosas? Defesa de alguma ideologia?
Construção de um templo? Fazer missões?
O apóstolo Paulo ao escrever
a Timóteo utilizou o termo grego ἔργα (erga), comumente traduzido por obra, trabalho: “Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a
obra de um evangelista, cumpre o teu ministério” (2 Timóteo 4:5) e
Jesus, ao fazer referência à necessidade de crer em Cristo para a salvação,
utilizou o mesmo termo: “A obra de Deus é esta: que creiais naquele que
ele enviou” (João 6:29).
Jesus utilizou o termo grego
ἔργα na resposta que deu à multidão, que questionou qual seria a obra de Deus
(João 6:28). Através da pergunta da multidão e da resposta de Jesus, claro está
que confessar o nome de Cristo como salvador é realizar a obra de Deus.
Quando o apóstolo Paulo
ordena a Timóteo que cumprisse a obra de um evangelista, Timóteo já havia feito
a obra de Deus, ou seja, ele já cria que Jesus é o Cristo. É impossível cumprir
o ministério de um evangelista, sem antes ter crido em Cristo.
A obra só é possível em função de um mandamento. A ideia de obra emerge de uma sociedade aristocrática, em função da relação senhor e servo. A obra pertence ao senhor que, ao implementá-la, dá ordem aos seus servos. Os servos, por sua vez, devem obedecer ao seu senhor, o que resultará na obra.
Sem o mandamento dado pelo
Pai ao Seu Filho, não haveria como Cristo obedecer, consequentemente, não
haveria uma obra.
“Porque eu não tenho falado
de mim mesmo; mas o Pai, que me enviou, ele me deu mandamento sobre o que hei
de dizer e sobre o que hei de falar.” (João 12:49).
Qual a obra que Deus deu ao Filho realizar? A resposta está patente no livro do profeta Isaías: “O ESPÍRITO do Senhor DEUS está sobre mim; porque o SENHOR me ungiu, para pregar boas novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos; a apregoar o ano aceitável do SENHOR e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os tristes” (Isaías 61:1,2).
O ministério de Cristo
esteve atrelado ao evangelho, visto que Ele foi ungido para pregar boas novas,
proclamar liberdade, apregoar o tempo aceitável de Deus, etc.
E o que Jesus anunciava como evangelista? A resposta vem a seguir: “Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre” (João 7:38).
Em suma, quem crê em Cristo,
crê no Pai, que enviou a Cristo.
“E Jesus clamou, e disse: Quem crê em mim, crê, não em mim, mas naquele que me enviou” (João 12:44).
“Para que todos honrem o Filho, como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou” (João 5:23).
À época de Cristo os judeus
diziam crer em Deus e que eram seus servos, porém, tal crença era só de boca e
não executavam a obra que Deus determinou, que é crer em Cristo.
“E ele, respondendo,
disse-lhes: Bem profetizou Isaías acerca de vós, hipócritas, como está escrito:
Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim; em vão,
porém, me honram, ensinando doutrinas que são mandamentos de homens” (Marcos
7:6,7).
Ciente desse entrave, Tiago
desafiou os judeus a executarem a obra de Deus (crer em Cristo), em lugar de
somente dizerem que tinham fé em Deus, pois a crença (fé) deles em Deus, sem
crer em Cristo (obras), era morta, visto que até o diabo crê e estremece (Tiago
2:18-20).
“Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade” (1 João 3:18).
“Confessam que conhecem a Deus, mas negam-no com as obras, sendo abomináveis, e desobedientes, e reprovados para toda a boa obra” (Tito 1:16).
“E eles vêm a ti, como o povo costumava vir, e se assentam diante de ti, como meu povo, e ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra; pois lisonjeiam com a sua boca, mas o seu coração segue a sua avareza. E eis que tu és para eles como uma canção de amores, de quem tem voz suave, e que bem tange; porque ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra.” (Ezequiel 33:31 -32).
A obra de Deus está
vinculada a Cristo, pois o mandamento de Deus é que os homens creiam em Cristo
para serem salvos e, ao crer, Deus salva o homem. Ora, a obra não diz de ações
sociais ou, de práticas religiosas, antes, a obra de Deus é: a) crer que Jesus,
o Cristo, é o Filho de Deus e a obra de um evangelista é; b) anunciar a todas
as nações, que Cristo é o Filho de Deus.
Da relação mandamento e
obediência, senhor e servo, temos uma obra, no entanto, o termo obra pode ser
empregado para destacar o que o homem professa, evidenciando, assim, a quem ele
é sujeito.
“Por isso, se eu for, trarei
à memória as obras que ele faz, proferindo contra nós palavras maliciosas; e,
não contente com isto, não recebe os irmãos, e impede os que querem recebê-los,
e os lança fora da igreja” (3 João 1:10).
O apóstolo João, ao escrever
a Gaio, enfatizou que Diótrefes gostava de exercer a liderança na comunidade
cristã e que não recebia o apóstolo João e, não somente isto, também, não
recebia os irmãos e, ainda, impedia que outros cristãos acolhessem o apóstolo
João e os irmãos, expulsando da comunidade aqueles que se predispunham a
recebê-los (3 João 1:9,10).
Em especial destaque, o
evangelista sublinha a obra de Diótrefes: proferia palavras maliciosas contra
os apóstolos. Percebe-se que Diótrefes não recebia os apóstolos, com medo de
perder a primazia naquela comunidade e o subterfúgio que utilizava era falar
mal dos apóstolos.
Ora, as obras de Diótrefes,
com relação aos membros do corpo de Cristo, evidencia que ele não era sujeito a
Cristo, a cabeça do corpo. Isso porque, todo que faz o mal é porque odeia a
luz, ou seja, não obedece a Cristo.
“Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.” (João 3:20).
“Nenhum servo pode servir dois senhores; porque, ou há de odiar um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.” (Lucas 16:13).
O termo odiar é
contraponto ao termo amar, no sentido de obediência e desobediência. Quem não
obedece a Cristo odeia a luz ou, seja, não serve a Cristo, consequentemente,
faz o mal. Não vem para Cristo, para que as suas obras não sejam reprovadas.
“Confessam que conhecem a
Deus, mas negam-no com as obras, sendo abomináveis, e desobedientes, e
reprovados para toda a boa obra.” (Tito 1:16).
Essa era a condição dos
escribas e fariseus: diziam obedecer a Deus, mas, as suas obras negavam o que
diziam, pois, obedeciam a mandamentos de homens.
Embora Jesus soubesse de
tudo o que o anjo da igreja de Laodiceia fazia, por meio do corpo ou, bem ou,
mal (2 Coríntios 5:10), vale destacar novamente que, a obra em vista diz do que
aquele ministro obedecia e proferia acerca de Cristo.
Tribunal de Cristo
O apóstolo Paulo deixou registrado que Deus julgará todos os homens, com relação às suas obras (Romanos 2:6) e que o julgamento, com relação às obras dos salvos em Cristo, se dará no tribunal de Cristo.
“E, se invocais por Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo a obra de cada um, andai em temor, durante o tempo da vossa peregrinação” (1 Pedro 1:17).
“Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal” (2 Coríntios 5:10; Romanos 14:10).
O apóstolo Paulo tinha
ciência de que, se fizesse a obra do ministério por obrigação, não seria
recompensado, mas, se de boa vontade, seria premiado no Tribunal de Cristo.
“E por isso, se o faço de
boa mente, terei prêmio; mas, se de má vontade, apenas uma dispensação me é
confiada” (1 Coríntios 9:17).
O julgamento no Tribunal de
Cristo trará a lume as intenções dos corações dos cristãos, quando no
desempenho de suas ações quanto à divulgação do nome de Cristo, quando cada
qual receberá o louvor de Deus, pois há quem anuncia o evangelho de boa mente e
quem julga acrescentar dor a seu irmão (Filipenses 1:15-16).
“Portanto, nada julgueis
antes de tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas
ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações; e então cada um
receberá de Deus o louvor” (1 Coríntios 4:5).
O irmão Tiago, por sua vez,
alerta os cristãos convertidos, dentre os judeus, a não desejarem ser mestres,
pelo seguinte motivo: os mestres receberão juízo mais severo, pois ao que é
dado muito, muito se cobrará (Tiago 3:1).
“Mas o que a não soube, e
fez coisas dignas de açoites, com poucos açoites será castigado. E, a qualquer
que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito
mais se lhe pedirá” (Lucas 12:48).
O juízo do Tribunal de
Cristo não é um juízo de condenação, visto que a condenação da humanidade se
deu em Adão e a salvação se dá em Cristo. No Tribunal de Cristo, o julgamento é
de mérito e visa recompensar cada salvo, segundo o que fizeram por meio do
corpo, bem ou, mal.
“E se alguém ouvir as minhas
palavras, e não crer, eu não o julgo; porque eu vim, não para julgar o mundo,
mas para salvar o mundo” (João 12:47; 1 João 4:14).
Ministro reprovado
“Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente!” (Apocalipse 3:15).
O evangelista João foi
comissionado por Jesus a escrever às sete igrejas situadas nas regiões da Ásia
menor: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodiceia
(Apocalipse 1:4 e 11). O Livro do Apocalipse deveria ser remetido às sete igrejas,
mas, no bojo do livro, continha uma nota dedicada a cada ministro das igrejas,
nota essa que todas as igrejas tomaram conhecimento.
A repreensão contida nas cartas aos anjos das igrejas segue o mesmo princípio que consta da carta do apóstolo Paulo a Timóteo: “Não aceites acusação contra o presbítero, senão com duas ou três testemunhas. Aos que pecarem, repreende-os na presença de todos, para que também os outros tenham temor” (1 Timóteo 5:20).
A recomendação do apóstolo
Paulo dada a Timóteo foi seguida à risca, quando o apóstolo e presbítero Pedro
adotou um comportamento repreensível, e foi repreendido, na presença de todos
(1 Pedro 5:1; Gálatas 2:11-17).
Através das cartas, fica
evidente que, caso o ministro não mudasse de concepção (metanoia), após a repreensão,
que o seu candeeiro (Apocalipse 1:20) seria removido (Apocalipse 2:5;
Apocalipse 2:16 e Apocalipse 3:3).
O alerta: ‘Conheço as tuas
obras’, dada ao ministro de Laodiceia, destaca que nada escapa aos olhos do
Filho de Deus, pois, são olhos como de fogo: “E não há criatura alguma
encoberta diante dele; antes, todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos
daquele com quem temos de tratar” (Hebreus 4:13; Apocalipse 1:14).
O diagnóstico emitido é
terrível: nem és frio, nem quente. A obra produzida pelo anjo da igreja de
Laodiceia o expunha como inócuo, alguém que não se posicionava com relação à
verdade do evangelho. No evangelho, não se admite neutralidade: nem na
confissão, nem no labor.
“Este era instruído no caminho do Senhor e, fervoroso de espírito, falava e ensinava diligentemente as coisas do SENHOR, conhecendo somente o batismo de João” (Atos 18:25).
“Não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor” (Romanos 12:11).
Os termos ‘quente’, ‘frio’ e
‘morno’ são figurativos, demonstrando que aquele ministro foi provado e
achado em falta diante de Deus. Seria melhor que Ele fosse uma coisa ou, outra.
Como cristão deveria batalhar pela doutrina do evangelho (quente) ou, que fosse
descrente (frio), o que não podia era ficar coxeando entre dois pensamentos (1
Reis 18:21).
Ora, se fosse ‘quente’,
aquele ministro estaria aprovado e se fosse ‘frio’, a mensagem seria de mudança
de concepção (arrependimento=metanoia). No entanto, conforme o apelo, ao final
da carta: “Sê, pois, zeloso e arrepende-te”, vê-se que a repreensão
estipula a necessidade de zelo e que o arrependimento é com relação à letargia.
Ora, convencer judeu ao
evangelho é mais fácil do que convencer um judaizante ou, seja, aquele que se
diz cristão, mas, que deita fermento à massa (Mateus 16:12). Semelhantemente, é
mais fácil converter um gentio do que um prosélito, pois, o estado deste é pior
do que o daquele: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois, que
percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes
feito, o fazeis filho do inferno, duas vezes mais do que vós” (Mateus
23:15).
Após o anjo de Laodiceia ter sido provado, o veredito foi: És morno ou, seja, nem quente, nem frio, consequentemente, seria rejeitado, caso não se arrependesse. A abordagem de Cristo ao anjo da igreja não foi de imposição, mas na base do apelo, e, até mesmo, expressa desejo: “Quem dera fosses frio ou quente” (Apocalipse 3:15).
A apatia ministerial no
cuidado para com a igreja denunciava algo grave naquele ministro: estava se
demovendo da fé! A displicência no cuidado, a falta de vigor na defesa do
rebanho, a letargia na instrução dos membros do corpo de Cristo, denunciam a
quantas está a base do ministro.
Ao escrever a Tito, o apóstolo Paulo reitera que Jesus entregou-se para remir os homens, tomando para si um povo especial, um povo que é zeloso de boas obras “O qual se deu a si mesmo por nós, para nos remir de toda a iniquidade e purificar para si um povo seu, especial, zeloso de boas obras” (Tito 2:14).
Os ministros foram
comissionados a cuidarem do rebanho e, só é possível cuidar do rebanho quando o
ministro olha por si mesmo e cuida da doutrina.
“Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue” (Atos 20:28).
“Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem” (1 Timóteo 4:16).
Boas obras não diz de boas
ações, ações de caridade, ações humanitárias, obras sociais, etc., antes diz da
boa confissão, a obra de Deus, que é crer em Cristo. A igreja de Deus é um povo
especial, zeloso da doutrina, pois, por meio do evangelho, o crente se salva e
leva à salvação os que ouvem.
A confissão
Mas, por que aquele ministro foi classificado como morno? Por que ele era inútil a ponto ser rejeitado?
O motivo está no verso 17: “Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu”.
Através daquilo que o
ministro de Laodiceia dizia tem-se um diagnóstico preciso do que estava
ocorrendo, pois o ‘fruto dos lábios’ dele denuncia qual doutrina que ele tinha
abraçado, em detrimento da verdade do evangelho. A essência da ‘mornidão’
está na seguinte confissão: “Rico sou, estou enriquecido e de nada tenho
falta” (Apocalipse 3:17).
O evangelista João ordena
aos cristãos que provem os espíritos (palavras, mensagem), se eles são de Deus
ou, não.
“AMADOS, não creiais a todo
o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos
profetas se têm levantado no mundo. Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo
o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; E todo o
espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas
este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que
já está no mundo” (1 João 4:1-3).
É através da confissão que
se verifica se alguém é mensageiro de Deus ou, se é falso profeta. Jesus mesmo
disse que um falso profeta se identifica pelo fruto e não pela aparência
exterior (Mateus 7:15,16).
Qual é o fruto produzido
por um falso profeta? Como o ouvido prova as palavras, assim, como o paladar
prova a comida, certo é que o fruto de um falso profeta é aquilo que ele
professa: “Porque o ouvido prova as palavras, como o paladar experimenta a
comida” (Jó 34:3). Por exemplo: se um espírito ‘professa’ que Jesus não
veio em carne, esse espírito não é de Deus.
A origem da reprovação do
anjo de Laodiceia possui relação intima com o que ele dizia: “Rico sou!”.
Quando em carne, Jesus havia dito: “Como ouço, assim julgo; e o meu juízo
é justo, porque não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai que me enviou” (João
5:30). Enquanto os homens julgavam segundo a aparência, Cristo julgava segundo
a reta justiça, segundo a palavra de Deus (João 7:24).
Cristo julgava segundo o que
ouvia porque a boca fala do que o coração está cheio: “O homem bom, do bom
tesouro do seu coração tira o bem e o homem mau, do mau tesouro do seu coração
tira o mal, porque da abundância do seu coração fala a boca” (Lucas 6:45)
e, através, dos frutos dos lábios, ele determinava se o homem era uma árvore
boa ou, má: “Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo
maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca” (Mateus
12:34).
O fruto
O fruto, como figura, faz referência à confissão do homem, conforme exposição do escritor aos Hebreus: “Portanto, ofereçamos sempre por ele a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome” (Hebreus 13:15).
Jesus disse que quem está
ligado à videira produz fruto (João 15:5) e um fruto que glorifica a Deus (João
15:8). Ora, para ser um ramo que produz fruto que glorifica a Deus, primeiro o
homem tem que estar ligado à videira.
Outra figura que representa
o homem é a árvore, para demonstrar que o homem professa uma doutrina,
segundo a semente que lhe deu origem, vez que as árvores produzem fruto,
segundo a sua espécie.
Os que são ‘plantados pelo
Pai’ professam que Jesus é o Cristo (Mateus 15:13), ou seja, produzem o fruto
dos lábios que Deus criou: paz, paz, tanto para os que estão longe (gentios),
quanto para os que estão perto (judeus): Jesus, o príncipe da paz (Isaías
57:19). O homem é plantação de Deus, quando é nascido da semente incorruptível,
que é a palavra de Deus (Isaías 60:21; Salmo 103:15; Isaías 40:6).
Para os que creem em Cristo
há paz, pois são renovos plantados pelo Senhor e permanecerão para sempre. Os
ímpios, por sua vez, desde a madre, se desviaram e proferem mentiras, portanto,
para eles não há paz, antes o machado já está posto sobre a sua raiz (Mateus
3:10).
Quando crê em Cristo Jesus
como Senhor, o homem passa a estar ligado à videira e quando confessa a Cristo
produz o fruto que glorifica a Deus: Jesus de Nazaré é o Cristo.
“A saber: Se com a tua boca
confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou
dentre os mortos, serás salvo” (Romanos 10:9; Isaías 61:3).
E como se classifica quem
produz uma confissão (fruto) dessa espécie: “Rico sou, estou enriquecido e de
nada tenho falta”?
Somente um ‘louco’! Quem são
os ‘loucos’, ou os ‘néscios’? Os loucos são os religiosos judeus que
desprezavam a palavra de Deus e seguiam mandamentos de homens. A ‘loucura’, ‘o
desvario’ é um modo de fazer referência aos judaizantes, através de uma figura
utilizada pelos profetas.
Os profetas, por diversas
vezes, chamaram o povo de Israel de loucos:
“Eu, porém, disse: Deveras estes são pobres; são loucos, pois não sabem o caminho do SENHOR, nem o juízo do seu Deus” (Jeremias 5:4).
“Assim diz o Senhor DEUS: Ai dos profetas loucos, que seguem o seu próprio espírito e que nada viram!” (Ezequiel 13:3).
O profeta Moisés já havia conferido essa alcunha ao povo de Israel, termo que foi amplamente utilizado como figura para fazer referência ao povo de Israel: “Recompensais assim ao SENHOR, povo louco e ignorante? Não é ele teu pai que te adquiriu, te fez e te estabeleceu?” (Deuteronômio 32:6).
Ao repreender os dois discípulos, no caminho de Emaus, Jesus os chamou de néscios, pois não compreendiam as palavras dos profetas: “E ele lhes disse: Ó néscios, e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!” (Lucas 24:25).
O apóstolo Paulo fez
referência aos líderes judaicos, como instrutor dos néscios.
“Instrutor dos néscios,
mestre de crianças, que tens a forma da ciência e da verdade na lei” (Romanos
2:20).
Na parábola do homem rico há um veredito: ‘Louco!’. Entende-se, através, da figura ‘louco’, que o homem que possuía uma herdade e que produziu muito, era judeu. Observe: “E propôs-lhe uma parábola, dizendo: A herdade de um homem rico tinha produzido com abundância; E ele arrazoava consigo mesmo, dizendo: Que farei? Não tenho onde recolher os meus frutos. E disse: Farei isto: Derrubarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades e os meus bens; E direi a minha alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e folga. Mas Deus lhe disse: Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus” (Lucas 12:16-21).
A conclusão da parábola do rico louco remete à ideia de que, quem confia em si mesmo, ou, na multidão de suas riquezas, mas, não é rico para com Deus, é um louco. A questão abordada pela parábola não diz de riquezas materiais, antes, evidencia em quem o homem confia, como se lê em Deuteronômio: “E digas no teu coração: A minha força, e a fortaleza da minha mão, me adquiriu este poder. Antes te lembrarás do SENHOR teu Deus, que ele é o que te dá força para adquirires riqueza; para confirmar a sua aliança, que jurou a teus pais, como se vê neste dia” (Deuteronômio 8:17,18).
O profeta Jeremias faz uma releitura do exposto pelo profeta Moisés, quando diz: “Ó meu monte no campo! a tua riqueza e todos os teus tesouros darei por presa, como também os teus altos, por causa do pecado, em todos os teus termos. Assim por ti mesmo te privarás da tua herança que te dei, e far-te-ei servir os teus inimigos, na terra que não conheces; porque o fogo que acendeste na minha ira arderá para sempre. Assim diz o SENHOR: Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do SENHOR!” (Jeremias 17:3-5).
A parábola que Jesus contou, tem por base essas duas passagens bíblicas e a conclusão da parábola decorre do seguinte verso: “Como a perdiz, que choca ovos que não pôs, assim é aquele que ajunta riquezas, mas não retamente; no meio de seus dias as deixará, e no seu fim será um insensato” (Jeremias 17:11).
Daí o alerta: “Assim diz o SENHOR: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas, Mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me entender e me conhecer, que eu sou o SENHOR, que faço beneficência, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o SENHOR” (Jeremias 9:23,24).
A loucura do povo de Israel
decorria da ignorância, acerca das coisas de Deus (Romanos 10:2). Só é possível
ao homem ser rico diante de Deus, quando herda bens de Deus. Mas, como o povo
de Israel poderia herdar algo de Deus, se era uma geração perversa e
distorcida? Como não eram filhos, antes uma mancha, nada herdariam de Deus
(Deuteronômio 32:5).
É por isso que Jesus se
referia aos escribas e fariseus como geração perversa, má e adúltera. Por serem
maus, o fruto que produziam era mau, segundo o coração mentiroso que herdaram
de Adão (Mateus 12:34).
Quando o apóstolo Paulo
diz: “Mas os homens maus e enganadores irão de mal para pior, enganando e
sendo enganados” (2 Timóteo 3:13), estava fazendo alusão aos judaizantes,
pois eram maus, segundo a natureza herdada de Adão e destilavam o engano,
segundo o coração que possuíam, pois a boca fala do que o coração está cheio
(Isaías 58:3).
É possível um homem que
exerce o ministério falar como um louco? O que estava acontecendo com o anjo da
igreja de Laudiceia? O anjo da igreja de Laodiceia estava se tornando ‘néscio’,
pois se vangloriava da sua condição e não em saber que Deus faz beneficência,
juízo e justiça na terra (Jeremias 9:23-24).
Há um alerta no Livro dos Provérbios que, se for obedecido, evita que o cristão tropece, à semelhança do ministro de Laodiceia: “QUANDO te assentares a comer com um governador, atenta bem para o que é posto diante de ti, E se és homem de grande apetite, põe uma faca à tua garganta. Não cobices as suas iguarias porque são comidas enganosas. Não te fatigues para enriqueceres; e não apliques nisso a tua sabedoria. Porventura fixarás os teus olhos naquilo que não é nada? porque certamente criará asas e voará ao céu como a águia. Não comas o pão daquele que tem o olhar maligno, nem cobices as suas iguarias gostosas. Porque, como imaginou no seu coração, assim é ele. Come e bebe, te disse ele; porém o seu coração não está contigo. Vomitarás o bocado que comeste, e perderás as tuas suaves palavras. Não fales ao ouvido do tolo, porque desprezará a sabedoria das tuas palavras. Não removas os limites antigos nem entres nos campos dos órfãos, porque o seu redentor é poderoso; e pleiteará a causa deles contra ti” (Provérbios 23:1-11).
É recomendado no livro dos
Provérbios atentar para o alimento que é servido, não para a posição da pessoa
que se assenta em lugar de destaque. As pessoas se deslumbram com a posição
daqueles que estão em destaque, mas, se esquecem de julgar o que eles põem à
mesa e servem aos convidados.
O alimento servido não diz
de comida, antes de palavras, espírito, pois o que contamina o homem não é o
que entra, mas, o que sai.
“Mas, o que sai da boca,
procede do coração, e isso contamina o homem” (Mateus 15:18).
O alimento na Bíblia,
dependendo do contexto, é uma figura que remete a uma doutrina e, por isso,
deve ser analisada segundo os símiles e parábolas contidas nas Escrituras. As
determinações contidas na lei, através de figuras, eram interpretadas de modo
literal e não consideravam que: “Os alimentos são para o estômago e o
estômago para os alimentos; Deus, porém, aniquilará tanto um como os outros” (1
Coríntios 6:13).
A figura tornou-se mais
importante que a realidade para os judeus, de modo que cuidavam da limpeza de
utensílios, mas, o que contaminava era a doutrina (fermento) dos fariseus.
Por causa das prescrições da
lei, acerca dos alimentos, os judeus ficavam alertas com o que era posto à mesa
e com o lavar dos utensílios e as mãos, porém, quando assentavam com as pessoas
de destaque, não atentavam para o que ensinavam. Jesus corrigiu essa distorção,
demonstrando que o que sai da boca do homem é o que, realmente, contamina o
homem e, nesse quesito, não deveriam confiar no companheiro e nem nos
príncipes, em Israel (Miqueias 7:5; Salmo 146:3; Salmo 62:10).
O ministro de Laodiceia alcançou a posição de liderança na igreja, por ser um discípulo de Cristo, mas, provavelmente, caiu da graça, por não provar os espíritos (1 João 4:1; Gálatas 5:4). É a típica terra semeada, cuja semente caiu em meio aos espinhos, vez que os cuidados deste mundo e a sedução das riquezas sufocaram a palavra, tornando-se infrutífera. Se alguém é infrutífero, o veredito está estabelecido: corta e lança no fogo!
“E o que foi semeado entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os cuidados deste mundo, e a sedução das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera” (Mateus 13:22).
“Toda a vara em mim, que não dá fruto, a tira” (João 15:2).
O ministro de Laodiceia
deixou de ser servo de Cristo e passou a servir a si mesmo, o que é impossível
(Mateus 6:24). É tênue a linha entre servir ao Senhor e servir a si mesmo,
buscando riquezas, para o seu próprio ventre. Basta fixar os olhos naquilo que
não é nada, ou seja, nas coisas que se veem, que deixará de olhar para Cristo e
deixará escapar as coisas que não se veem (Hebreus 12:2).
“Não atentando nós nas
coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são
temporais, e as que se não veem são eternas” (2 Coríntios 4:18).
O ministro de Laodiceia portou-se como a perdiz, consequentemente, chocou ovos que não botou: “Como a perdiz, que choca ovos que não pôs, assim é aquele que ajunta riquezas, mas não retamente; no meio de seus dias as deixará, e no seu fim será um insensato.” (Jeremias 17:11).
A recomendação é para não
comer o pão de quem tem o olhar maligno e nem cobiçar as suas iguarias. O homem
maligno é conforme a imaginação do seu próprio coração e, como o coração do
homem é maligno, será maligno, continuamente. Se o coração é enganoso, a boca
só destilará o engano e maldito será quem sorver as suas iguarias.
“Como o caco de vaso coberto de escórias de prata, assim são os lábios ardentes com o coração maligno” (Provérbios 26:23).
“Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” (Jeremias 17:9).
Enquanto o conteúdo da carta aponta para quem exerce o ministério sem conhecer a palavra da verdade, visto que não maneja bem a palavra da verdade ou, que se obscureceu, seguindo vãs filosofias e discursos vãos, os discursos dos pregadores, em nossos, dias visam somente a membresia das comunidades.
Riquezas apodrecidas
A linguagem da carta de Tiago é a mesma da carta escrita pelo apóstolo João ao anjo de Laodiceia, e o motivo é a nacionalidade, tanto dos remetentes, quanto dos destinatários das cartas. Tiago escreveu a cristãos judeus e o ministro da igreja em Laodiceia era um cristão de origem judaica.
Ao escrever às doze tribos
da dispersão, Tiago destaca algumas questões:
- O homem de coração ‘dobre’ é inconstante
em seus caminhos Tiago 1:8);
- Questões sociais não são relevantes em
Cristo, pois o homem de condição humilde deve gloriar-se da sua posição em
Cristo e o rico deve gloriar-se na sua insignificância, porque passará
como a flor da erva (Tiago 1:9-10; Ezequiel 21:26);
- O dever de perseverar crendo em Cristo
(Tiago 1:25);
- Aos que ainda se diziam religiosos, mas,
que não possuem domínio sobre a língua, vez que acusam Deus de tentá-lo
(Tiago 1:13), em lugar de ouvir, é precipitado a votar (Eclesiastes 5:1) e
segue discursos vãos (Tiago 1:22), engana-se a si mesmo, pois, a sua
religião é vã (Tiago 1:26);
- Não podiam fazer acepção de pessoas,
desprezando os gentios e acolhendo somente os judeus (Tiago 2:1); o homem
maltrapilho ou, o homem com anel, são exemplos para contrapor à recepção
dada aos judeus e aos não judeus, nas comunidades de cristãos, entre os
judeus;
- Os ricos, no contexto, ganha
resinificação e torna-se uma alcunha para aqueles que mataram o Cristo
(Tiago 5:6) e os pobres, por sua vez, os que creram em Cristo, que fossem
os cristãos dentre os gentios ou, os cristãos dentre os judeus: “Mas,
vós desonrastes o pobre. Porventura, não vos oprimem os ricos e não vos
arrastam aos tribunais?” (Tiago 2:6; Lucas 6:20-26);
- Muitos judeus diziam ter fé em Deus,
porém, não executaram o mandamento que resulta em Sua obra: crer em
Cristo;
- Muitos cristãos judeus queriam ser
mestres, porque possuíam no judaísmo tal posição, porém, ainda tropeçavam
na palavra da verdade, o que os tornava inaptos para tal ministério (Tiago
3:2);
- Todas essas questões fariam com que
jorrasse dois tipos de água de uma mesma fonte (Tiago 3:11), de modo que o
sábio e entendido deveria ter um bom trato com todos os homens e não um
sentimento faccioso, fomentando divisão entre judeus e gentios (Tiago
3:14);
- Por terem um coração de duplo ânimo,
deveriam se purificar, deixando as questões judaizantes para alcançar a
verdade em Cristo (Tiago 4:8);
- Deveriam sentir as suas misérias,
lamentar e chorar e não se gloriarem em suas presunções (Tiago 4:16);
- Através de uma parábola, Tiago descreve
a condição dos Judeus que condenaram e mataram o Cristo: “EIA, pois,
agora vós, ricos, chorai e pranteai, por vossas misérias, que sobre vós
hão de vir. As vossas riquezas estão apodrecidas e as vossas vestes estão
comidas de traça. O vosso ouro e a vossa prata se enferrujaram; e a sua
ferrugem dará testemunho contra vós, e comerá como fogo a vossa carne.
Entesourastes para os últimos dias. Eis que o jornal dos trabalhadores que
ceifaram as vossas terras e que por vós foi diminuído, clama; e os
clamores dos que ceifaram entraram nos ouvidos do Senhor dos exércitos.
Deliciosamente, vivestes sobre a terra e vos deleitastes; cevastes os
vossos corações, como num dia de matança. Condenastes e matastes o justo;
ele não vos resistiu” (Tiago 5:1-6);
- Ao final da epístola, Tiago complementa: “Irmãos, se algum dentre vós se tem desviado da verdade e alguém o converter, saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador, salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados” (Tiago 5:19-20).
Jesus deu aviso que, se a palavra de Deus é semeada e cai entre espinhos, não dá fruto com perfeição, ou seja, surge um fruto imperfeito, que é o mesmo que pecar: “E a que caiu entre espinhos, esses são os que ouviram e, indo por diante, são sufocados com os cuidados e riquezas e deleites da vida, e não dão fruto com perfeição” (Lucas 8:14).
Que relação há entre a
figura dos ‘espinhos’ e os ‘cuidados e riquezas da vida’? Ora, o espinho é uma
figura utilizada pelo profeta Miqueias para ilustrar os homens que se dizem
justos.
“O melhor deles é como um espinho; o mais reto é pior do que a sebe de espinhos; veio o dia dos teus vigias, veio o dia da tua punição; agora será a sua confusão” (Miqueias 7:4).
“E tu, ó filho do homem, não os temas, nem temas as suas palavras; ainda que estejam contigo sarças e espinhos, e tu habites entre escorpiões, não temas as suas palavras, nem te assustes com os seus semblantes, porque são casa rebelde” (Ezequiel 2:6).
O melhor dos homens é comparável a um espinho, mas o mais reto dos homens compara-se a uma sebe de espinhos. O que isso significa? Que há homens que se consideram justos aos seus próprios olhos, mas, que diante de Deus, são como ‘espinhos’. Acerca desses homens, Jesus contou uma parábola, a do escriba e do fariseu: “E disse também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros” (Lucas 18:9; Lucas 7:30).
Ora, semear o evangelho em
meio aos religiosos judeus, homens justos aos seus próprios olhos, faz com que
o convertido a Cristo não dê fruto com perfeição. Semear entre os judeus e/ou
judaizantes é o mesmo que semear entre ‘espinhos’.
Sobre esse aspecto, já havia
alertado o profeta Jeremias: Não semeiem entre espinhos!
“SE voltares, ó Israel, diz
o SENHOR, volta para mim; e se tirares as tuas abominações de diante de mim,
não andarás mais vagueando, E jurarás: Vive o SENHOR na verdade, no juízo e na
justiça; e nele se bendirão as nações, e nele se gloriarão. Porque assim diz o
SENHOR aos homens de Judá e a Jerusalém: Preparai para vós o campo de lavoura,
e não semeeis entre espinhos. Circuncidai-vos ao SENHOR, e tirai os
prepúcios do vosso coração, ó homens de Judá e habitantes de Jerusalém, para
que o meu furor não venha a sair como fogo, e arda de modo que não haja quem o
apague, por causa da malícia das vossas obras” (Jeremias 4:1-4).
Os falsos ‘justos’ em
Israel, quando percebiam que a semente lançada estava germinando no coração de
alguém, desviavam a atenção do convertido a Cristo para os cuidados deste
mundo, que ao ser seduzido pelas riquezas, sufocava a palavra e tornava-se
infrutífero (Mateus 13:22). Se a vara fica infrutífera é arrancada e lançada no
fogo (João 15:2).
Ora, a parábola trabalha com
figuras, de modo que os ‘cuidados deste mundo’ e a ‘sedução das riquezas’ não
significa que as pessoas se perdem porque cuidam dos seus afazeres diários,
antes, que os seduzidos pela religiosidade dos judaizantes (riqueza) passam a
cuidar de dias de festas, luas novas, sábados, ordenanças, etc. (Colossenses
2:16-23).
Quando escreveu aos cristãos
da cidade de Colossos, vemos a preocupação do apóstolo Paulo com os cristãos de
Colossos e de Laodiceia (Colossenses 2:1), pois o apóstolo não teve um contato
pessoal com eles. O contato só foi por cartas e por intermédio de Epafras.
O apóstolo Paulo elogia o
líder da igreja local, Epafras, demonstrando que ambos eram servos de Cristo e
que, com relação aos cristãos de Colossos, Epafras era um fiel ministro de
Cristo (Colossenses 1:7). Ao que parece, Epafras cuidava de três comunidades:
Colossos, Laodiceia e Hierápolis (Colossenses 4:13).
É significativo o fato de o
apóstolo Paulo lembrar que, em Cristo estão escondidos todos os tesouros da
sabedoria e da ciência, de modo que quem está em Cristo é enriquecido com a
plenitude da inteligência (Colossenses 2:2-3) e, em seguida, alertar para que
ninguém se deixasse levar por palavras persuasivas (Colossenses 2:4).
Acerca dos que caem em ruína, disse o apóstolo Paulo: “Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas” (Filipenses 3:18,19).
O alerta que foi dado a
Arquipo, talvez, não tenha sido levado com seriedade pelo anjo de Laodiceia,
visto que a carta endereçada aos Colossenses foi lida entre os de Laodiceia e
Filipos.
“E dizei a Arquipo: Atenta
para o ministério que recebeste no Senhor, para que o cumpras” (Colossenses
4:17).
Ao escrever aos de Filipos, o apóstolo Paulo indica o perigo que os rondava: a doutrina dos judaizantes, através de figuras contidas nos profetas: “Guardai-vos dos cães, guardai-vos dos maus obreiros, guardai-vos da circuncisão” (Filipenses 3:2).
Quem são os ‘cães’? O termo empregado pelo apóstolo dos gentios não era um xingamento, antes, um termo empregado pelo profeta Isaías: “Todos os seus atalaias são cegos, nada sabem; todos são cães mudos, não podem ladrar; andam adormecidos, estão deitados, e gostam do sono. E estes cães são gulosos, não se podem fartar; e eles são pastores que nada compreendem; todos eles se tornam para o seu caminho, cada um para a sua ganância, cada um por sua parte” (Isaías 56:10,11; Salmo 58:4,5).
Os vigias de Israel não
passavam de homens cegos, pois nada sabiam. Uma testemunha em Israel só podia
testemunhar do que viu e ouviu e, como os ‘vigias’ nada sabiam, por certo eram
cegos, ou seja, não eram testemunhas de Deus.
“Por boca de duas
testemunhas, ou três testemunhas, será morto o que houver de morrer; por boca
de uma só testemunha não morrerá” (Deuteronômio 17:6).
Além de cegos, eram mudos,
portanto, cães que não latiam, ou seja, que não davam o aviso diante do perigo.
A figura não ilustra tão somente isso, mas, indica que os líderes de Israel eram
cães gulosos, ou seja, que não se fartavam. Em seguida é apontado quem são os
cães: os pastores, que nada compreendem, pois, cada qual segue o seu próprio
caminho, ou seja, serve à sua própria ganância e não segue o caminho da paz.
Era imprescindível que a
igreja se guardasse dos falsos pastores, que nada compreendiam, dos maus
obreiros e dos da circuncisão ou, seja, dos judaizantes.
Ouro provado, roupas brancas e colírio
“Aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e roupas brancas, para que te vistas, não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas” (Apocalipse 3:18).
O aconselhamento que consta do Apocalipse, também, consta dos profetas, como se lê: “Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde, comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer? Ouvi-me atentamente, e comei o que é bom, e a vossa alma se deleite com a gordura” (Isaías 55:2).
Aos que tem ‘fome’ e ‘sede’
e não tem recursos para saciar a sua fome e a sua sede, é feito um convite
solene: ‘Vinde às águas, vinde, comprai sem dinheiro e sem preço!’ Mas, apesar
do convite, muitos em Israel gastavam o ganho com o seu trabalho, com o que não
era pão.
Ora, é evidente que as
figuras ‘fome’, ‘sede’, ‘pão’ e ‘trabalho’, não se referem ao processo de
produção, comércio e alimentação cotidiano, pois, Cristo se apresenta como o
pão que satisfaz a necessidade do homem.
Os filhos de Israel trabalhavam, arduamente, a serviço deles mesmos, quando seguiam mandamentos
de homens, a serviço de seus próprios ventres, por isso, a ilustração: gastais
com o que não podia satisfazer.
“E eles vêm a ti, como o
povo costumava vir, e se assentam diante de ti, como meu povo, e ouvem as tuas
palavras, mas não as põem por obra; pois lisonjeiam com a sua boca, mas o seu
coração segue a sua avareza.” (Ezequiel 33:31).
Ser tão somente ouvinte da
palavra é um trabalho que não pode satisfazer (Romanos 2:13; Tiago 1:22), mas,
por obra, o mandamento de Deus é atender o convite para comer sem dinheiro e
sem preço o que é ofertado, gratuitamente, por Deus.
Logo após a multiplicação dos pães, uma multidão seguiu a Jesus para o outro lado do rio. Quando Jesus se deparou com a multidão, disse: “Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; porque a este o Pai, Deus, o selou” (João 6:27).
Jesus viu o esforço que
aquelas pessoas fizeram para alcançá-lo, porém, o interesse deles era escuso: o
pão cotidiano, o pão que perece. Por terem comido pão a sobejar, os filhos de
Israel acreditaram que Jesus era o profeta que deveria vir ao mundo e quiseram
fazê-lo rei (João 6:14).
Mas, esse não era o foco do
ministério de Cristo: ser rei neste mundo. Jesus, também, não queria ser
reconhecido como profeta, antes, queria que o reconhecessem, segundo o
testemunho de Deus, contido nas Escrituras: o messias prometido, o Filho de
Deus, o Filho de Davi.
“E aconteceu que, estando
ele só, orando, estavam com ele os discípulos; e perguntou-lhes, dizendo: Quem
diz a multidão que eu sou? E, respondendo eles, disseram: João o Batista;
outros, Elias, e outros que um dos antigos profetas ressuscitou. E disse-lhes:
E vós, quem dizeis que eu sou? E, respondendo Pedro, disse: O Cristo de Deus” (Lucas
9:18-20).
A coroação de Cristo, como
rei, foi estabelecida por decreto divino (Salmo 2:6-7) e não seriam os homens
que haveriam de entronizá-Lo. Cristo deveria resignar-se a esperar o tempo
estabelecido pelo Pai (Salmo 110:1), portanto, a proposta dos filhos de Israel
era escusa e por isso Jesus se retirou do meio deles.
As pessoas reconheciam Cristo como profeta, porém, negavam o testemunho que Deus deu acerca do seu Filho, que constava das Escrituras. Nenhum deles havia aprendido de Deus, conforme predisseram os profetas:
“Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto, todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a mim” (João 6:45).
“Disseram-lhe, pois, os judeus: Ainda não tens cinquenta anos, e viste Abraão? Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou. Então pegaram em pedras para lhe atirarem; mas Jesus ocultou-se, e saiu do templo, passando pelo meio deles, e assim se retirou” (João 8:57-59).
Bastava ouvirem, atentamente,
ao Senhor Jesus, que comeriam o que era bom, pois a alma que obedece ao Senhor
se deleita com o melhor. Mas, para alcançar do Senhor o que é bom, os judeus
precisavam deixar os seus maus caminhos e maus pensamentos e se converterem ao
Senhor.
“Deixe o ímpio o seu
caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao SENHOR, que se
compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar” (Isaías
52:7).
Mas, não ocorreu conforme a ordem de Deus, antes, os filhos de Israel confiavam em suas próprias ‘riquezas’, como: descendência da carne de Abraão, circuncisão, sacrifícios, genealogias, mandamentos de homens, etc. Daí o alerta de Jesus: “E os discípulos se admiraram destas suas palavras; mas Jesus, tornando a falar, disse-lhes: Filhos, quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no reino de Deus!” (Marcos 10:24).
Ao instruir os judeus acerca das suas riquezas, Jesus disse: “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas, ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Mateus 6:19-21).
A riqueza do povo de Israel
estava na nacionalidade, que tanto prezava, no sangue herdado de Abraão e na
ordenança da circuncisão. Mas, para adquirir tesouro nos céus, primeiro é
necessário ao homem vender (abrir mão, dispor) tudo o que tem.
“Também o reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo” (Mateus 13:44).
“Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me” (Mateus 19:21).
Ora, o apóstolo Paulo deu testemunho que desprezou tudo o que tinha para poder ganhar a Cristo: “E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo” (Filipenses 3:8).
De quais coisas o apóstolo Paulo se desfez? Ele havia elencado, anteriormente: “Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a lei, fui fariseu; segundo o zelo, perseguidor da igreja, segundo a justiça que há na lei, irrepreensível. Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo” (Filipenses 3:5 -7).
Observe que é imprescindível
ao homem abrir mão do que possui, para poder ganhar a Cristo. O apóstolo Paulo
possuía uma justiça própria, segundo a lei, e sem abrir mão da justiça própria,
jamais teria a justiça, que vem de Deus, por meio de Cristo Jesus.
“E seja achado nele, não
tendo a minha justiça que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber,
a justiça que vem de Deus pela fé” (Filipenses 3:9).
A tradição recebida dos pais
era uma riqueza que os judeus deveriam abrir mão para ganhar a Cristo.
“Sabendo que não foi com
coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã
maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais” (1 Pedro
1:18).
Quando Jesus convocou os
discípulos, logo após a pesca maravilhosa, eles abandonaram o barco, as redes e
a grande quantidade de peixes, para seguir a Cristo (Lucas 5:11).
Como adquirir de Deus ouro
refinado, para ser rico para com Deus? Ora, o apóstolo Pedro diz que a prova da
fé é muito mais preciosa do que o ouro provado pelo fogo.
“Para que a prova da vossa
fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache
em louvor, honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo” (1 Pedro 1:7).
Quem tem a Cristo como Senhor, o coração não repousa nas coisas deste mundo, visto que já ressuscitou com Cristo e pensa nas coisas que são de cima (Colossenses 3:1).
O apóstolo Paulo deixou registrado que, de tudo o que consta do Antigo Testamento, fica o alerta para que os cristãos não cobicem as coisas más, como os filhos de Israel.
“E estas coisas foram-nos
feitas em figura, para que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram” (1
Coríntios 10:6).
O apóstolo dos gentios exortou e deu exemplo, em tudo: “E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível. Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar. Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado” (1 Coríntios 9:25 -27).
É equivocada a interpretação
que aponta as ‘vestes brancas’, recomendadas por Cristo, como sendo decorrente
de questões comportamentais, como caráter, moral, leis, etc.
Vestes brancas é figura
que remete à ideia de justiça, proveniente de Deus. Quando o pecado do homem é
coberto (Salmo 32:1), segue-se que tal pessoa, simbolicamente, recebe de Deus uma
indumentária, que reflete a nova condição de quem foi justificado.
“Então respondeu, aos que
estavam diante dele, dizendo: Tirai-lhe estas vestes sujas. E a Josué disse:
Eis que tenho feito com que passe de ti a tua iniquidade, e te vestirei de
vestes finas” (Zacarias 3:4).
Se for justiça própria, a
veste do homem é comparável a trapos de imundície, como os utilizados na
antiguidade para cobrir os ferimentos ou, para estancar o fluxo menstrual, mas,
se forem as vestes fornecidas por Deus, são vestes finas, vestes de louvor.
“A ordenar acerca dos
tristes de Sião que se lhes dê glória em vez de cinza, óleo de gozo em vez de
tristeza, vestes de louvor em vez de espírito angustiado; a fim de que se
chamem árvores de justiça, plantações do SENHOR, para que ele seja glorificado” (Isaías
61:3).
A justiça própria é
comparável a teias de aranha, pois decorre de mandamentos de homens e não serve
para o homem se cobrir diante de Deus.
“Chocam ovos de basilisco, e
tecem teias de aranha; o que comer dos ovos deles, morrerá; e, quebrando-os,
sairá uma víbora. As suas teias não prestam para vestes nem se poderão cobrir
com as suas obras; as suas obras são obras de iniquidade, e obra de violência
há nas suas mãos” (Isaías 59:5 -6).
O colírio que abre os
olhos é o mesmo que ‘circuncidar o coração’ endurecido, ou seja, é ouvir e
atender à Palavra do Senhor.
“Porque o coração deste povo
está endurecido, e ouviram de mau grado com seus ouvidos, e fecharam seus
olhos; para que não vejam com os olhos, e ouçam com os ouvidos, e compreendam
com o coração, e se convertam, e eu os cure” (Mateus 13:15).
Aquele que crê em Cristo fez uso do colírio para ver o invisível, pois tem a mesma fé que o crente Moisés, que teve por maiores riquezas o vitupério de Cristo, do que os tesouros do Egito.
“Pela fé deixou o Egito, não
temendo a ira do rei; porque ficou firme, como vendo o invisível” (Hebreus
11:27; 2 Coríntios 4:18).
Como o anjo de Laodiceia não
sabia que era desgraçado, miserável, pobre, cego e nu, o verso 18 de Apocalipse
3 é uma exortação para que ele reconhecesse a sua real condição e mudasse de
concepção (arrependimento).
Enriquecidos nele
A riqueza do cristão está em Cristo, a palavra e o conhecimento de Deus (1 Coríntios 1:5) e, quanto mais sofrer perseguições e injúrias, por causa do evangelho, maior será a recompensa nos céus (Mateus 5:11-12). Sem a revelação de Deus contida nas Escrituras, o homem não passa de miserável, pobre, cego e nu.
“Em quem estão escondidos
todos os tesouros da sabedoria e da ciência.” (Colossenses 2:3).
Ao ouvir a palavra da
verdade e crer, o crente recebeu de Deus poder para ser feito filho de Deus
(João 1:12). Para ser feito filho de Deus, o homem precisa morrer com Cristo e,
então, ressurgirá dentre os mortos uma nova criatura. O fato de ser uma nova
criatura é o que caracteriza o cristão, como ‘unido’ a Cristo.
“Assim que, se alguém está
em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez
novo” (2 Coríntios 5:17).
Estar em Cristo é ser uma
nova criatura. Estar em Cristo é ter comunhão íntima, pois, é participante
do corpo de Cristo. Quando o apóstolo Paulo diz: “Porque em tudo fostes
enriquecidos nele, em toda a palavra e em todo o conhecimento” (1
Coríntios 1:5), demonstra que, em Cristo o homem é enriquecido.
A plenitude da inteligência,
com relação ao mistério de Deus, é o que torna o homem rico para com Deus.
“Para que os seus corações
sejam consolados, e estejam unidos em amor, e enriquecidos da plenitude da
inteligência, para conhecimento do mistério de Deus e Pai, e de Cristo” (Colossenses
2:2).
O anjo de Laodiceia já não
dispunha do discernimento necessário para perceber o seu real estado:
desgraçado, miserável, pobre, cego e nu!
“Como dizes: Rico sou, e
estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e
miserável, e pobre, e cego, e nu” (Apocalipse 3:17).
Só é possível discernir (οἶδα),
quando se tem o conhecimento necessário. Ora, quando está em Cristo, o cristão
possui abundancia de fé, palavra, ciência e zelo (diligência), pois, a graça é
abundante, sabendo que Cristo se fez pobre para que n’Ele, o crente esteja
enriquecido (2 Coríntios 8:9).
O serviço do ministro de
Laodiceia era inócuo, pois, recebeu a palavra de Deus em vão (2 Coríntios 5:1).
Só é possível enriquecer os que estão sob o seu cuidado, quando se está na
palavra da verdade, ou seja, no evangelho (poder de Deus) (2 Coríntios 5:7 e
10).
O obreiro deve ser zeloso do
que é honesto: não só para com Deus, mas, também, para com o que é concernente
aos homens (2 Coríntios 8:21). O honesto para com Deus é crer em Cristo,
conforme as Escrituras, e o honesto para com os homens é portar-se de modo
digno: não dando escândalo a judeus, nem a gregos e nem à igreja de Deus (1
Coríntios 10:32; 2 Coríntios 6:3).
Há dois tipos de escândalo:
1) aquele que atenta contra
a verdade do evangelho. Esse tipo de escândalo é produzido por homens levianos,
que introduzem, encobertamente, heresias de perdição, através de palavras e
lisonjas.
2) os decorrentes de
questões comportamentais, pois a liberdade de quem está em Cristo, pode ser
censurada pelos fracos (1 Coríntios 8:9). Nesse sentido, o crente em Cristo deve
ter o cuidado de não destruir o seu irmão em Cristo, por questões vãs (Romanos
14:20).
“E rogo-vos, irmãos, que
noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que
aprendestes; desviai-vos deles. Porque os tais não servem a nosso Senhor Jesus
Cristo, mas ao seu ventre; e com suaves palavras e lisonjas enganam os corações
dos simples” (Romanos 16:17,18).
Amor
“Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê, pois, zeloso e arrepende-te” (Apocalipse 3:19).
O alerta final ao anjo da igreja, demonstra o cuidado de Deus para com os que creram em Cristo, para que não se desviem, conforme exortou o escritor aos Hebreus: “E já vos esquecestes da exortação que vos admoesta como filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor, nem te desanimes quando por ele és repreendido; pois o Senhor corrige ao que ama, e açoita a todo o que recebe por filho. É para disciplina que sofreis; Deus vos trata como a filhos; pois qual é o filho a quem o pai não corrija? Mas, se estais sem disciplina, da qual todos se têm tornado participantes, sois então bastardos, e não filhos” (Hebreus 12:5 -8).
A todos quanto Deus ama, Ele
repreende, ou seja, reitera o seu mandamento, pois no mandamento de Deus está o
seu cuidado (amor) para com o homem.
“Porque este é o amor de
Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são pesados” (1
João 5:3; 2 João 1:6).
O escritor aos Hebreus fez
esse alerta à igreja, já no Apocalipse, o alerta é dado ao anjo da igreja.
O escritor aos Hebreus buscou a base da exortação, que fez à igreja, no Livro dos Provérbios: “Filho meu, não rejeites a correção do SENHOR, nem te enojes da sua repreensão. Porque o SENHOR repreende aquele a quem ama, assim como o pai ao filho a quem quer bem” (Provérbios 3:11 -12).
Ora, Deus quer que todos os
homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade (1 Timóteo 2:4), de modo
que Ele, em sua infinita misericórdia, deu o seu Filho unigênito, para que todo
aquele que n’Ele crer, não pereça, mas tenha a vida eterna (João 3:16). O amor
de Deus está implícito no ato de conceder o Seu Filho, e está explícito no
mandamento: que creiam naquele que Ele enviou, pois Cristo é a benignidade e o
amor de Deus manifesto aos homens.
“Mas quando apareceu a
benignidade e amor de Deus, nosso Salvador, para com os homens” (Tito
3:4).
Tudo o que está registrado
nas Escrituras, com relação ao povo de Israel, nos serve de exemplo, uma vez
que foram castigados inúmeras vezes por Deus por serem desobedientes.
“Ora, tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos” (1 Coríntios 10:11).
“A tua malícia te castigará, e as tuas apostasias te repreenderão; sabe, pois, e vê, que mal e quão amargo é deixares ao SENHOR teu Deus, e não teres em ti o meu temor, diz o Senhor DEUS dos Exércitos” (Jeremias 2:19).
“Não obedeceu à sua voz, não aceitou o castigo; não confiou no SENHOR; nem se aproximou do seu Deus” (Sofonias 3:2).
Mas, porque os castigos aplicados aos filhos de Israel foram postos por figuras para os que creem em Cristo? A resposta está neste Provérbio: “Quando o escarnecedor é castigado, o simples torna-se sábio; e o sábio quando é instruído recebe o conhecimento” (Provérbios 21:11).
Os líderes do povo de Israel
são como o escarnecedor que foi castigado e os que creem em Cristo são os
‘simples’, que se tornaram sábios. O sábio, por sua vez, é receptivo ao
conhecimento de Deus, diferente do escarnecedor, que não considera o mandamento
de Deus.
“Ouvi, pois, a palavra do SENHOR, homens escarnecedores, que dominais este povo que está em Jerusalém” (Isaías 28:14).
“O escarnecedor busca sabedoria e não acha nenhuma, para o prudente, porém, o conhecimento é fácil” (Provérbios 14:6).
Sê zeloso
Caso o ministro de Laodiceia mudasse de concepção (arrepende-se), em função da exortação, que fosse zeloso de si mesmo e da doutrina, consequentemente, seria zeloso da igreja de Deus.
“Tem cuidado de ti mesmo e
da doutrina. Persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto
a ti mesmo como aos que te ouvem.” (1 Timóteo 4:16).
O apóstolo Paulo é um exemplo de zelo: “Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo” (2 Coríntios 11:2).
O zelo do apóstolo Paulo se
verifica na repreensão que fez ao apóstolo Pedro, visto que, diante de uma
atitude escusa do apóstolo Pedro, com relação à verdade do evangelho, que comia
com os gentios, mas, quando viu chegarem alguns judeus da parte de Tiago, se
apartou dos gentios, com receio do judeus (Gálatas 2:12), defendeu a essência
do evangelho: em Cristo não já judeu e nem grego.
Não se submeter aos falsos
irmãos, que se intrometem para espreitar a liberdade cristã, é ser zeloso,
pois, se o crente fraquejar nesse embate, comprometerá a verdade do evangelho
(Gálatas 2:4-5).
O zeloso em todo o tempo,
está atento para angariar pessoas para o reino de Deus (1 Coríntios 9:20-21).
Se for para ganhar um judeu, que se faça como judeu. Se for para ganhar um
gentio, que se faça como gentio. Mas, tudo deve ser feito por causa do
evangelho, não por vangloria ou, por contenda (1 Coríntios 9:23).
O zelo com a doutrina é a
base para que, pregando aos outros, de algum modo não seja reprovado diante de
Deus.
Arrepende-te
A ordem para arrepender-se não diz de penitências, prolongadas orações, jejuns, sacrifícios, etc., isso porque alguns pensam que a condição de ‘morno’ é pertinente a cristãos não dados a tais práticas.
Arrepender-se é mudança de
concepção, do grego ‘metanoia’, ou seja, deve-se abandonar o conceito de que ‘é
rico’, ‘de que nada tem falta’ e adquirir ouro provado no fogo, vestes brancas
e colírio para ver (Apocalipse 3:17-18).
O arrependimento não tem em
vista questões de ordem moral, comportamental ou legal, antes, está relacionado
com a doutrina do evangelho, se o homem é obediente ou, não.
Apelo
“Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo.” (Apocalipse 3:20).
Após repreender o anjo da
igreja de Laodiceia, Jesus demonstra que a repreensão e o castigo não são uma imposição,
antes, um apelo à volição do ministro de Laodiceia.
O ministro de Laodiceia foi avisado, portanto, restava a ele atender, como diz o provérbio: “O avisado vê o mal e esconde-se; mas os simples passam e sofrem a pena.” (Provérbios 27:12).
Onde o espírito de Deus
está, aí há liberdade (2 Coríntios 3:17), portanto, a repreensão é Cristo à
porta chamando. Se o ministro de Laodiceia se arrependesse, ou seja, dando
ouvidos (obedecendo) à voz de Cristo, certamente que o ministro de Laodiceia
teria plena comunhão (cear) com Cristo.
Com Cristo não há graça
irresistível, como se, ante o apelo do mestre à porta, o indivíduo não consiga
resistir. A questão é condicional (se alguém ouvir e abrir a porta) e não
impositiva (entrarei e cearei, mesmo que o indivíduo resista).
“Mas, como alguns deles se endurecessem e não obedecessem, falando mal do Caminho perante a multidão, retirou-se deles, e separou os discípulos, disputando todos os dias na escola de um certo Tirano.” (Atos 19:9).
“Não endureçais os vossos corações, como na provocação, no dia da tentação no deserto.” (Hebreus 3:8).
“Determina outra vez um certo dia, hoje, dizendo por Davi, muito tempo depois, como está dito: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações.” (Hebreus 4:7).
A figura utilizada por
Jesus, para retratar o seu apelo ao anjo de Laodiceia, era muito conhecida à
época, pois, ninguém devia se escusar de atender a porta, vez que era
imprescindível aos viajantes, que lhes dessem guarida.
Qualquer que ouvir a voz de
Cristo e obedecê-lo, gozará de plena comunhão: Cristo não se envergonhará de
chamá-lo de irmão (Hebreus 2:11).
“De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamo-vos, pois, da parte de Cristo, que vos reconcilieis com Deus.” (2 Coríntios 5:20).
Fonte: Estudos Bíblicos Teológicos
Evangélicos
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